ESTÁTUA DA LIBERDADE

Trump: o novo Hitler?

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Luís Gomes|10/04/2025

Em todos os tempos e impérios, o Estado teve uma capacidade extraordinária de inventar inimigos que, por singular coincidência, não se podiam identificar, localizar ou sequer apalpar. Inimigos invisíveis, convenientes, versáteis. Os judeus, os ciganos, os especuladores, os estrangeiros — a galeria é vasta, rica e colorida.

Quando a turba se cansava do colectivo, punha-se a cabeça a prémio de um só: um Hitler, um Estaline, um Lenine — curiosamente, nunca um Churchill, esse santo padroeiro dos bombardeamentos humanitários e das colónias civilizadoras. A história, como se sabe, é escrita pelos vencedores — e muitas vezes pela impressora do Banco Central.

a couple of dogs running across a lush green field

Convém recordar que a aliança entre banqueiros e o Estado não é um namoro recente. É um matrimónio antigo, consumado sob os auspícios daquilo que se convencionou chamar “reserva fraccionada”, essa mágica técnica de multiplicar dinheiro como Jesus multiplicava os pães — só que sem qualquer milagre, apenas fraude legalizada.

O banco recebe 100, empresta 900, e quando alguém estranha a matemática, eis que surge o seu Deus protector: o Banco Central, criatura de aparência austera, mas de hábitos perdulários. Sem ele, os bancos comerciais cairiam como dominós mal empilhados, vítimas da sua própria insensatez. Mas com ele, tornam-se deuses do Olimpo monetário, infalíveis e eternos.

Desde finais do século XIX que o Banco Central passou de ajudante de cozinha a chefe de Estado. Os governos obedecem-lhe, os parlamentos dobram-se diante dele e os eleitores…bem, esses já há muito deixaram de importar, excepto enquanto números em sondagens ou estatísticas de desemprego. Este monstro criado pelos bancos, este Frankenstein monetário, terá, como na obra de Mary Shelley, de matar os seus criadores — mas só depois de muita devastação, claro. Há que cumprir o ritual.

city buildings during night time

É também este mesmo Banco Central que aparece, com ares de cavaleiro branco, cada vez que o mercado — essa criatura malvada e cruel — tenta corrigir os desmandos da orgia de crédito. As taxas de juro foram manipuladas até ao absurdo e, quando os maus investimentos se acumulam como lixo nas traseiras da civilização, vem resgatar os amigos banqueiros com o dinheiro de ninguém: do nada, ex nihilo, como um demiurgo sem rosto. Por isso se lhe chama “emprestador de último recurso”, embora o nome mais correcto fosse “emprestador de dinheiro que ninguém poupou para sustentar quem não sabe gerir”.

Recordemos o ano de 2019. Em Setembro, o mercado Repo norte-americano entrou em convulsão. Uma crise silenciosa, ignorada pelos jornais, como convém. Só faltava uma desculpa para accionar a gráfica sagrada. Em Março de 2020, a Providência — sempre ela — enviou um vírus. Invisível, claro está. Não fosse o caso de alguém querer medir a veracidade do desastre.

Assim, os Bancos Centrais mundiais, liderados pelo Banco Central norte-americano, a Reserva Federal, e pelo seu aprendiz europeu, o BCE, dedicaram-se cada um a imprimir mais de 4 biliões (12 zeros!) de dólares e euros. A moral? Se não consegues resolver o problema, deita-lhe dinheiro. De preferência, muito. De preferência, inventado.

brown wallet

Neste milagre moderno, o pequeno comércio morreu à míngua — as padarias, as mercearias, os cafés de bairro. Em compensação, floresceram empresas que entregavam comida ao domicílio por escravos importados do terceiro mundo ou séries sobre “pandemias”. E não esqueçamos as novas indústrias estatais: produção de fraldas faciais, inoculações experimentais e testes que testavam tudo, excepto a suposta doença. A recessão foi decretada, não pelo mercado, mas pelo decreto. E o povo, obediente como sempre, aplaudiu a catástrofe higienizada com álcool-gel.

Mas o espectáculo não termina aqui. Agora, temos um novo vilão — ou, melhor dizendo, um substituto de Hitler. A personagem? Um senhor de tez laranja, dono de um cabelo indecifrável e de uma retórica que provoca urticária nos salões de Bruxelas.

Donald Trump tornou-se o novo símbolo do Mal Absoluto. Porque ousou — vejam só a audácia! — Impor tarifas a países que o fazem há décadas. Porque falou em recuperar a indústria nacional. Porque tentou, com o seu estilo de elefante em loja de porcelana, questionar os dogmas do comércio global que serve, exclusivamente, às multinacionais, aos bancos e aos estados.

a red hat that reads make america great again

Claro está, o objectivo não é devolver empregos à classe operária norte-americana, nem reduzir défices. Isso seria ingenuidade. O plano — maquiavélico e genial — será provocar mais uma crise artificial. Uma desculpa nova, moderna, vibrante. Desta vez, não será um vírus invisível.

Será o o proteccionismo, o nacionalismo económico, ou qualquer outra heresia do século XXI. Assim, quando as empresas norte-americanas, dependentes de componentes chineses e tailandeses, forem esmagadas pela engrenagem fiscal e tarifária, então voltaremos à estaca zero. Aí, o Banco Central norte-americano, mais uma vez, imprimirá, e muito! Desta forma, salvará, como sempre, os seus criadores.

E os idiotas úteis — os eternos manifestantes bem-intencionados, os jornalistas indignados, os “liberais de pacotilha”, os peritos em mercados financeiros e os académicos do regime — gritarão: “Trump é o novo Hitler!”

Afinal, sempre se pode contar com os velhos truques: um inimigo invisível, um bode expiatório humano e uma impressora sem limites. O ciclo repete-se. A peça é a mesma, apenas se troca o figurino e o vilão.

Mas, caro leitor, console-se. Quando tudo desabar e a moeda for mais fina que o papel em que está impressa, haverá sempre um banqueiro sorridente, um político paternalista e um jornalista de confiança a garantir-lhe que a culpa foi do outro. De um vírus. De um laranja. De um qualquer que não seja o sistema.

E o povo? Ah, o povo…continuará feliz, a aplaudir e a “pagar” IRS!

Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

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