INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA
SIC: Família Balsemão esconde da CMVM que está em negociações com a família Berlusconi

A Impresa ainda não comunicou à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) estar em negociações com a MFE-MediaForEurope – a megaholding italiana de comunicação anteriormente denominada Mediaset Group, controlada pelos herdeiros do antigo primeiro-ministro Sílvio Berlusconi através do Fininvest Group.
O grupo detém operações de televisão privada, bem como cinemas, produtoras e editoras em Itália, Espanha e Alemanha, país onde passou este mês a controlar a ProSiebenSat.1.

Segundo o jornal italiano Il Messaggero, no conselho de administração da MFE que aprovou as contas semestrais na passada quarta-feira, o CFO Marco Giordani informou sobre a retoma das negociações para uma entrada na Impresa, o grupo de media fundado por Francisco Pinto Balsemão e actualmente em situação financeira fragilizada. ↓
O jornalismo independente (só) depende dos leitores.
Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro.
A Impresa detém, entre outros activos, a SIC e o semanário Expresso (através da Impresa Publishing). A existência de negociações configura um facto relevante para os accionistas – ou, mais precisamente, “informação privilegiada” no quadro das regras aplicáveis às empresas cotadas.
Até ao momento, porém, a Impresa não comunicou ao mercado quaisquer negociações com a MFE, alegando que “não existe informação privilegiada” a reportar, segundo fonte oficial do grupo contactada pelo PÁGINA UM.

De acordo com essa fonte – na verdade, a agência de comunicação JLMA, que representa a empresa – a Impresa não nega conversações, mas sublinha que, “como no passado, não deixará de analisar parcerias que contribuam para o crescimento e cumprimento dos [seus] objectivos estratégicos”, acrescentando ainda que “mantém, há alguns anos, uma relação de cooperação comercial com o grupo MFE”.
A mesma fonte garante que “não há, no entanto, qualquer acordo ou compromisso vinculativo entre a Impresa e a MFE”, afirmação contrariada pelas informações avançadas pelo jornal italiano.
Importa recordar que, de acordo com o Regulamento Abuso de Mercado da União Europeia, as empresas cotadas ou emitentes de dívida têm a obrigação de esclarecer o mercado sempre que circulem rumores ou notícias susceptíveis de influenciar a cotação dos seus títulos.

Isto significa que, mesmo que não existam negociações em curso, a empresa deve confirmar ou desmentir publicamente tais informações, de modo a assegurar que os investidores não são induzidos em erro e a preservar a integridade e transparência do mercado.
O Il Messaggero acrescenta que as negociações entre a MFE, sediada em Cologno Monzese, e a Impresa tiveram início no Verão de 2024, embora já tivessem existido contactos em 2019. A nova fase de negociações incide sobretudo sobre a SIC, subsidiária da Impresa que mantém resultados operacionais positivos, ainda que em queda devido ao peso da dívida acumulada pela casa-mãe nos últimos anos.
O jornal italiano refere ainda que vários pontos permanecem em aberto, estando a MFE a avaliar se avança para a compra de todo o grupo Impresa ou apenas de activos específicos, como a SIC. O fecho das negociações é apontado para o final do ano, com a nota de que “o preço não será elevado, mas terá de contemplar a eventual OPA”, uma vez que a dívida a ser assumida pela MFE será significativa.

A MFE tem prosseguido uma estratégia agressiva de expansão e não esconde as suas ambições. No final do ano passado, o presidente-executivo, Pier Silvio Berlusconi, afirmou ter garantido o apoio de bancos para um empréstimo de 3,4 mil milhões de euros destinado a financiar o crescimento do grupo na Europa. “Queremos estar prontos para avaliar o que, se é que há algo, poderá ser a decisão certa a tomar na Alemanha, mas também relativamente a quaisquer outras oportunidades”, afirmou então Berlusconi, citado pela Reuters, acrescentando esperar que o ano em curso fosse de consolidação.
N.D. O PÁGINA UM contactou, pelas 17h43 desta tarde, o consultor Daniel Vaz, da agência de comunicação JLMA, solicitando comentários sobre as negociações entre a MFE e o Grupo Impresa. Contudo, a JLMA apenas nos remeteu a resposta oficial da Impresa às 20h04, mais de uma hora depois de já a ter distribuído a vários outros órgãos de comunicação social — numa evidente tentativa de boicotar o trabalho do PÁGINA UM. Declara-se, por isso, que este jornal não voltará a contactar nem a aceitar comunicados da JLMA em qualquer representação empresarial. Naturalmente, se o assunto noticioso for a própria JLMA, o PÁGINA UM dirigirá os pedidos de informação directamente à gerência da empresa.