Correio Trivial

Os almoços do Isaltino

black and white abstract painting

por Vítor Ilharco // Agosto 26, 2023


Categoria: Opinião

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Está difícil a vida para alguma comunicação social.

As vendas dos jornais caíram abruptamente com a covid-19, que levou à desabituação da leitura destes, até pela proibição de passarem de mão em mão nos cafés, e as audiências nas televisões são disputadas de modo feroz e sem se olhar a meios.

A busca de notícias sensacionalistas é uma constante.

São raríssimas as informações correctas sobre o estado do País, os artigos de opinião, independentemente dos autores, são lidos por um número cada vez mais reduzido de interessados e as entrevistas, com especialistas nas matérias que preocupam os cidadãos mais atentos, pura e simplesmente desapareceram.

As capas dos jornais trazem, sempre, o mesmo tipo de parangonas: o dia a dia dos futebolistas, os amores e desamores das vedetas da televisão, os crimes mais escabrosos e os escândalos políticos.

Tudo em títulos escritos em maiúsculas e com as cores mais berrantes, nos dois primeiros casos, ou mais sombrias, nos outros.

O que interessa é captar a atenção dos incautos.

Na imensa maioria das vezes, depois de lida a notícia, percebe-se que o título é exageradíssimo.

Muitas vezes absolutamente falso.

O grande problema é que são muitos mais o que ficam pelo título do que os que se dão ao trabalho de ler todo o texto.

E, destes últimos, uma grande parte não se preocupa em analisar todo o conteúdo.

Quando se fala de políticos, então, tudo o que acima se escreve atinge proporções vergonhosas.

Desde sempre que, em Portugal, falar mal dos políticos é receita fácil para o sucesso.

Se o alvo for alguém competente, com mérito reconhecido, há que procurar qualquer facto que o faça baixar na consideração da população.

Ao fim e ao cabo tudo se resume à conhecida inveja dos portugueses.

A recente notícia de “gastos sumptuosos” em almoços da Câmara Municipal de Oeiras é, disso, exemplo.

Título da notícia:

“OEIRAS – O que mostram milhares de faturas do Executivo Autárquico

6 ANOS DE ISALTINO €139 MIL GASTOS EM 1.441 ALMOÇOS

Muito lavagante, sapateira, lagostas, ostras, sushi, leitão e camarão-tigre.“

No texto da notícia falavam de uma dúzia desses mil e quatrocentos almoços “esquecendo” o mais importante.

Analisemos, então, calmamente:

Oeiras é um pequeno concelho com um tão grande sucesso que é, por muitos, considerado um caso de estudo.

Em quatro décadas passou de um dormitório de Lisboa, repleto de bairros de barracas sem saneamento básico (que desapareceram por completo), para o segundo concelho cujas empresas financeiras mais facturam (vinte e cinco mil milhões de euros, ano).

É o segundo concelho mais exportador de Portugal.

É um concelho com os maiores índices de nível educacional do país.

A Câmara de Oeiras é visitada, semanalmente, por políticos dos quatro cantos do Mundo, incluindo Presidentes, Primeiros-Ministros, Ministros, Embaixadores, Autarcas.

Por artistas, escritores, desportistas, cientistas.

Os membros do Executivo são constantemente convidados para reuniões, palestras e debates, nos mais variados países.

A imagem do concelho é uma extraordinária mais-valia para Portugal.

Quando todas estas personalidades visitam Oeiras, o Executivo, chefiado por Isaltino Morais, faz o que qualquer pessoa educada deve fazer, recebê-las com a qualidade que o Concelho deve exigir aos seus dirigentes.

E não fazem mais do que a sua obrigação porque, com toda a certeza, tratamento idêntico lhes será dado quando forem eles os visitantes.

O jornalista, autor da notícia, considera os valores gastos nestas refeições como exagerado.

Na realidade, 139 mil euros é um número que faz pensar.

Pelo menos até fazermos contas.

Falamos de seis anos, 1.560 dias úteis.

Feitas as contas, os almoços de trabalho dos membros do Executivo, e os destinados aos mais diversos convidados, custaram, ao Município, na totalidade, menos de 90 euros por dia útil.  

Se o título tivesse estes valores qual seria o impacto da notícia?

Felizmente a população do concelho conhece os seus autarcas e tem demonstrado uma absoluta confiança neles, o que leva a que vá aumentando, em todas as eleições, a percentagem dos seus votantes.

Mas, apesar de anos e anos a ser perseguido de maneira ignóbil, Isaltino deve sofrer com estes ataques.

Não sou ninguém para lhe dar conselhos, mas se ele aceitasse dir-lhe-ia que esquecesse tudo à mesa de um bom restaurante, com um bom lavagante e Moet & Chandon de entrada.

Vítor Ilharco é secretário-geral da APAR – Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso


N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

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