Recensão: Bipolar sim, louca, só quando eu quero

Afinal, o que nos define?

por Ernesto S. Sousa // Novembro 2, 2024


Categoria: Cultura

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Título

Bipolar, sim, louca, só quando eu quero

Autor

BIA GARBATO

Editora

Oficina do Livro (Setembro de 2024)

Cotação

14/20

Recensão

Bia Garbato, escritora e publicitária brasileira, traça neste livro o percurso desde que foi diagnosticada bipolar, contando histórias cheias de intensidade e que tanto geram risos como compaixão e tristeza. E fá-lo com leveza e alegria, armas de combate ao estigma da 'doença mental'.

O livro está organizado em 12 capítulos e a dedicatória deixa pistas ao leitor sobre 'de onde' a autora partiu e 'onde' chegou, na actualidade: "dedico este livro àqueles que sempre acreditaram em mim, mesmo quando eu deixei de acreditar".

Na sua versão original, a obra tem um prefácio da romancista e publicitária brasileira Tati Bernardi, que é complementado com outro, da escritora portuguesa Rita Ferro, na edição para Portugal.

Na parte dedicada ao diagnóstico, Bia Garbato escreveu: "eu sempre soube que tinha uma coisa estranha aqui dentro". relata que se lembra de pensar: "como será que é ser normal'". E conta como é viver uma vida de depressão em depressão, a depressão pós-parto e os altos e baixos, os saltos para a euforia. 

Num dos capítulos, o quarto, sobre 'Emagrecimento', a autora conta-nos: "como cheguei aos 100 quilos e voltei para contar". Em outro, fala sobre os seus sentimentos e noutro ainda sobre os pensamentos, neste caso, os 'doentes', catastrofistas e negativos, tóxicos.

Apesar de um tom que pode ser percepcionado como um tanto 'lamechas' em algumas páginas, o facto de o livro estar escrito com humor anula o ligeiro enjoo provocado por algumas frases mais ou menos piegas. 

Pode acontecer que muitas das experiências narradas na primeira pessoa por Garbato possam parecer familiares ao leitor. Se assim for, não será tarde para procurar um diagnóstico, não apenas para que confirme se padece ou não de bipolaridade, mas para apurar se pode ou não ter uma espécie de 'super-poder', daqueles que o 'desvia' do padrão dito 'normal'. Com o bom e o mau que isso traz. Com as coisas fáceis e os desafios. Para Bia Garbato, as coisas difíceis da vida incluem "guardar dinheiro", "ler Guimarães Rosa", "trabalhar depois do almoço" e "emagrecer". A listas das coisas fáceis da autora é bem mais curta que a das coisas difíceis e inclui "engordar", "gastar dinheiro" e "dormir depois do almoço". (Diria que só o facto de gostar de fazer listas será um 'sintoma' em si...)

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