Recensão: A cláusula familiar

Uma família infeliz, à sua maneira

por Maria Carneiro // Julho 1, 2022


Categoria: Cultura

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Título

A cláusula familiar

Autor

JONAS HASSEN KHEMIRI (tradução: Joana Neves)

Editora (Edição)

Elsinore (Fevereiro de 2022)

Cotação

08/20

Recensão

Um livro que parte de uma premissa banal (uma família, como todas as outras) e que termina num romance banal, que não deixa marcas de espécie nenhuma, excepto um enorme bocejo.

Começa: “Um avô que é pai volta ao país que nunca deixou.  Está na fila para o controle de passaportes. Se o agente por trás do vidro fizer perguntas desconfiadas, o pai que é avô vai manter a calma”.

O mote está dado. As personagens não têm nome. Temos o avô que é pai, temos o filho que é pai, temos a filha que ainda não é mãe. Temos a irmã que é filha, mas que já não é mãe, e temos o filho que é pai, mas que não quer voltar a ser, e todo um conjunto de relações familiares e de lugares comuns e acontecimentos sem interesse que nos entedia ao fim de poucas páginas.

O avô, que é pai, é um velho que, duas vezes por ano, visita os filhos, na Suécia. É uma pessoa difícil, frequentemente preconceituosa, constantemente crítica, e a sua visita parece ser mais motivada por questões práticas do que por afecto: um acordo tácito, a tal claúsula familiar, vincula o filho a ocupar-se dele nesses regressos bianuais e a manter um apartamento em seu nome, para assim ele poder escapar-se aos impostos no seu país de origem.

Nesta visita, que acompanhamos desde a sua chegada ao país,  o avô, que é pai, estará dez dias. O livro começa numa quarta-feira e cada capítulo tem o nome do dia da semana a que diz respeito.

Como diria Tolstoi: todas as famílias felizes se parecem, as infelizes são, cada uma, infeliz à sua maneira.

Esta é uma família infeliz, e o autor faz-nos a descrição detalhada da limpeza que fez ao apartamento preparando-o para a chegado do pai, que é avô, mas que, rapidamente, regressa a casa porque tem os filhos para cuidar, uma vez que optou por gozar a licença de paternidade, na íntegra, o que faz com que fique sozinho com os filhos, todo o dia,  enquanto a mãe vai trabalhar criando, ao fim de pouco tempo, tensão entre o casal e os pais e os filhos, que são netos, o que acaba por se estender ao avô que veio de visita mas não se sente bem-vindo.

Os encontros familiares são, também eles, sempre tensos porque o avô, que é pai, nunca está satisfeito com nada: a refeição que o filho preparou, o atraso da nora para o jantar, o facto de não o terem ido buscar ao aeroporto, e sido obrigado assim a fazer uma viagem de autocarro numa noite fria e chuvosa, o encontro com a filha que já mãe e está novamente grávida e a contas com a vida e com um casamento insatisfatório.

Só o avô, um patriarca orgulhoso, é perfeito – de acordo com ele próprio, pelo menos e, nas suas palavras (há vários diálogos que ele tem com estranhos como taxistas, por exemplo), quando faz elogios aos filhos, na sua ausência. Em presença deles, é insuportável, e todos desejam que os dez dias acabem depressa para que ele regresse ao seu país, até à próxima visita.

O livro pretende ser um tributo às famílias, às suas dinâmicas, aos seus limites e aos seus silêncios, mas, na minha opinião fica muito aquém.

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