No Dafundo, na Avenida Marginal, está o retrato dos nossos últimos 50 anos de desenvolvimento económico: meia dúzia de ricos, sem sentido do estético, encavalitados na maioria dos portugueses de bolsos vazios e longe das artes e letras.
Por ali passam milhares de carros e passageiros nos comboios da Linha de Cascais. Todos os dias. Mas indiferentes… A ambivalência fez-nos reivindicar uma vida melhor e, ao mesmo tempo, comprar melão importado da Argentina ou camarão do Vietname. Tornámos as empresas Continente e o Pingo Doce no 5º e 6º maior importador nacionais. E exportam?… Zero!
Engordamos os que pagam a pêra-rocha ao agricultor português a 30 cêntimos e depois a metem à venda a mais de 1,30 euros. Afogamo-nos em casas na periferia remotas, construídas a 700 euros por metro quadrados, e que pagamos de 1.500 para a frente…
Dizem os promotores que são pechinchas, com lareira e aspiração central, no cimo de um cabeço qualquer. Produzimos apenas o trigo para duas semanas do ano. Mas o que queremos é futebol, uma cervejola e que o trabalho não falte. Porque a política que conhecemos é o “vira-o-disco-e toca o mesmo”.
José Ramos e Ramos é jornalista (CP 214)
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