Uma parte da água que Lisboa bebe todos os dias também serviu para arrefecer os reactores da central nuclear espanhola de Almaraz. Há mais de 40 anos.
Pior, os reactores dessa central já deviam estar desligados porque ultrapassaram o prazo de vida segura.
As gigantescas turbinas de Almaraz fornecem 10% da electricidade de Espanha. E pertencem agora a um consórcio de três empresas: Iberdrola, Endesa e Naturgy.
Os políticos ignoram Almaraz. E os jornalistas também não pegam no assunto, porque a central fica em Cáceres, longe das portas das redacções e os orçamentos são muito curtos.
Em rigor, 75 % da água que Lisboa bebe vem da barragem de Castelo do Bode, onde se anda de barco e se toma banho. Os restantes 25% vêm da captação em pleno rio Tejo, em Valada. Está tudo explicado no site da EPAL.
A água que chega a Valada, veio de Almaraz, e passou também pelas fábricas de celulose e pelos vinhedos e lagares de azeite da Beira Baixa e Ribatejo.
A EPAL garante que é boa água depois de tratada, mas não se sabe se tem teste de radioactividade.
Em Almaraz tem havido pequenos acidentes e avarias.
Não parece prudente arrefecer centrais nucleares com água que depois se vai beber.
Um dia, a meio da noite, acordamos com a cabeça transformada numa lâmpada de 25 watts.
Ou nem acordamos…
José Ramos e Ramos é jornalista (CP 214)
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