COISAS & CAUSAS

A solidão

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por José Ramos e Ramos // Agosto 20, 2022


Categoria: Opinião

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Continuamos sem saber porque morrem, porque razão estão a morrer tantos portugueses nos últimos meses. Mas há uma certeza: muitos lisboetas morrem sozinhos.

Há anos, Santana Lopes era provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e disse-me numa entrevista: “em Lisboa, vive-se e morre-se sozinho”. Em casa ou no lar, acrescentamos.

Quem passa pelas ruas de Lisboa, ao anoitecer, não vê luzes acesas. E só vê gente idosa à janela… gente sozinha.

Da sociedade inebriada com o 25 de Abril de 1974, chegámos aqui: temos uma das maiores taxas de divórcio da Europa – a razão divórcios/casamentos não para de crescer – e habitamos em casas de cidades semeadas ao vento.

Na Grande Lisboa, temos uma mancha urbana que vai de Cascais a Vila Franca, de Bucelas a Palmela, mas apenas com 2,8 milhões de habitantes. Muitos sozinhos. Incomparavelmente maior que a mancha urbana de Barcelona com 3,3 milhões de habitantes. Basta ir ao Google Earth e ver o céu à noite na Península Ibérica.

Não aproveitámos os Descobrimentos, desbaratámos o ouro do Brasil, queimámos as notas do volfrâmio, espatifámos os fundos sociais europeus e iremos estourar a bazuca dos 15 mil milhões de euros.

As nossas casas não deviam ter sofás, só cadeiras. Para não ficarmos colados. Para sairmos à rua e falarmos, como os povos da Espanha… porque é a falar que nos entendemos. E podemos ser felizes.

José Ramos e Ramos é jornalista (CP 214)


N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

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