As bandeiras de hoje são a banalização do aborto – a prevenção é que devia ser a política –; a eutanásia – o envelhecimento saudável é que deve ser a alternativa –; o ambientalismo radical – a defesa de uma alimentação com mais plantas e menos carne e peixe é que é o caminho –; a política de género nas escolas – a baralhar crianças e a desconstruir as prioridades. Enquanto isso, temos o excesso de entretenimento para docilizar as gerações que assim vão dependendo dum Estado que “trata”, que “protege”, mas evita prevenir, reduzir, corrigir os erros, porque esta é a estratégia do negócio!
As bandeiras cegam a racionalidade e obnubilam as decisões e o pensamento. Querem uma medicina totalmente vinculada a linhas de orientação e protocolos.
Isto viola um dos pés da equação – a individualidade, a particularidade. Concordo com que a exposição frequente melhora a performance, mas nem toda a medicina é massificável.
O aborto é um mau acontecimento e não deve ser uma bandeira. Deve estar disponível como solução, mas sempre em desfavor da prevenção. As mulheres devem exigir a contracepção masculina e têm ao dispor de modo livre e gratuito mecanismo de contracepção feminina.
A eutanásia deve estar disponível, mas não pode ser a bandeira. Os princípios e as clamações devem ser por coisas positivas e boas. Devemos lutar por energias menos poluentes, mas não podemos dar passos vigaristas como o encerrar das centrais de carvão e acreditar que as eólicas só têm virtudes. Não podemos achar normal as barragens portuguesas estarem nas mãos de franceses ou chineses.
As bandeiras estão a cegar a ideologia porque se tornaram fúteis e simplistas.
Os portugueses sabem pouco sobre as realidades que depois se exibem. Somos o país com menos crimes da Europa e dos que mais presos tem per capita. Somos o país que mais pede detenções e prende indefinidamente em preventiva por perigo de fuga.
Não acredito que Vieira quisesse fugir, e Sócrates veio ter com o Ministério Público pelo que nunca estaria em fuga. O problema desta formatação acrítica é que os cidadãos esquecem que a Justiça é para todos, e, portanto, o que se faz mal ao Bernardo Santos Sócrates é o mesmo que nos podem fazer a nós em circunstâncias improváveis amanhã.
A sociedade dos canais temáticos, das aplicações com algoritmos de viciação, da construção de não-assuntos que sobem à ribalta da informação, a força da rede social como canal de apagamento do jornalismo, afoga-nos em sofás com televisões defronte. Como tontos levantamos a bandeira e o dedo da indignação sem cuidar de nos informar.
Os fogos trazem a prevenção que não é negócio, por parente pobre do tratamento que é uma mina de ouro. Há lucros secundários no arder e, por isso, houve políticas que conduziram à desertificação, ao abandono da pastorícia, à delapidação da agricultura portuguesa.
Se estiverem atentos verão o que se passa na Holanda onde os agricultores explodem de raiva e se manifestam, sem qualquer referência nos nossos canais monopartidários.
Diogo Cabrita é médico
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