É verdade! Apanhei de trombas com o primeiro-ministro António Costa a sorrir de férias… satisfeito não sei porquê.
Ele está na capa de uma revista cor-de-rosa, e de um jornal de escândalos que alegadamente muito batalhou para o encontrar. Como se alguém acreditasse!
António Costa não devia deixar-se fotografar em férias, porque é assunto da sua vida privada e, sobretudo, porque a maioria dos portugueses não têm népia de férias.
O primeiro-ministro também não devia sorrir, porque tem nas mãos o maior caos de que há memória no Serviço Nacional de Saúde, com os serviços de obstetrícia fechados em vários hospitais. E pior! Em dias previstos, o que é uma vergonha!
Vem tudo nos jornais e passa nas TV’s, onde se revela que a maioria dos portugueses ganha menos de 800 euros por mês.
E que as grávidas não podem ter os filhos neste e naquele hospital, como se fosse um facto normal.
Ou ainda, por exemplo, que as famílias estão a apertar o cinto, e os supermercados a ficarem desertos por causa da inflação descontrolada.
Ou que o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) estava para ser dirigido por uma pessoa alegadamente com um perfil duvidoso, que, entretanto, já se demitiu ou foi demitida.
A vida do País corre muito mal. Por exemplo, com o ministro das Finanças, Fernando Medina, metido no imbróglio do Caso Sérgio Figueiredo, depois de ter deixado Lisboa na mão de especuladores imobiliários e repleta de centenas de prédios em ruínas e milhares de apartamentos desabitados.
Infelizmente, os jornalistas estão a piar menos e entregam-se agora ao “jornalismo de precaução”, como já previa Baptista Bastos (BB), que andou a mendigar um trabalho no fim da sua brilhante carreira. Quem não se recorda do seu livro de crónicas “As Palavras dos Outros”?
Balsemão, antigo camarada de trabalho no Diário Popular, deu-lhe uma pequena tribuna na SIC, onde BB voltou a brilhar com a célebre pergunta: ” Onde é que estava no 25 de Abril?”
Já ninguém quer saber dessa data histórica (com quase 50 anos) que nos devolveu à Europa democrática e moderna, mas que nos afogou em fundos comunitários que engordaram algumas pessoas, como se disse a boca cheia.
A satisfação de António Costa em férias é pior que Cavaco Silva a comer bolo-rei de boca aberta.
As senhoras e os senhores lembram-se?
José Ramos e Ramos é jornalista (CP 214)
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