PLANANDO NA TERRA REDONDA

A caminho do Árctico: dia 1, em Oslo

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Prestes a conhecer um dos meus destinos de sonho, partilho, neste ‘Diário de Bordo’, os passos de uma viagem até ao Árctico. A primeira paragem é Oslo, onde a temperatura amena, de 23 graus, convida a um passeio de bicicleta pela capital norueguesa.


É a verdadeira realização de um sonho. De mochila às costas, parto para uma viagem para o Árctico. As expetativas são muitas. O entusiasmo também.

Desta vez, viajo sozinha. Como sempre faço, também esta viagem foi planeada por mim, ao pormenor, num itinerário que começa em Lisboa e que tem como primeira paragem Oslo, capital da Noruega e estrela das minhas primeiras linhas escritas neste Diário de Bordo, para o PÁGINA UM. É o começo de uma viagem de seis dias, que terminará em Helsínquia, na Finlândia.

Assim que cheguei ao aeroporto Oslo Gardermoen, senti que tinha acabado de fazer uma viagem no tempo, para uma cidade no futuro.  A capital da Noruega é uma cidade moderna, famosa pela sua arquitetura. A maior cidade do país – sendo seguida por Bergen -, Oslo é uma cidade que nos fascina.

Tudo funciona bem: o comboio, o metro, o elétrico, os autocarros. Os noruegueses são simpáticos e prestáveis. Respiro civilização.  

Já no comboio, não consigo deixar de notar, o que há muito já sabia. Não há uma máscara, não há restrições covid. O tema não é assunto (e nunca assumiu, nem de longe nem de perto, as gigantescas proporções que assumiu em Portugal). Em todo o dia, apenas vi uma família de máscara (e quando começaram a falar, eram portugueses) e, no final do dia, vi um grupo de chineses, também de máscara. (Fiquei a pensar o que teremos em comum com os chineses! Nem franceses, nem espanhóis, nem italianos! Portugueses e Asiáticos de máscara. Porque será?)

Saí do comboio na Estação do Teatro Nacional, onde aluguei um espaço no interior de um restaurante, para deixar a mochila e o meu casaco de Inverno. Dali, segui para o Porto e vi o bairro de Aker Brygge e os Fiordes de Oslo. Segui numa caminhada de 20 minutos até ao ponto de partida para a minha ‘Oslo Viking Biking’, que prometia passar pelos principais pontos da cidade que já tinha visitado na minha primeira visita à Noruega. É uma forma diferente de revisitar estes lugares. 

Habitualmente, reservo tudo mas, como não tinha certeza se o avião chegaria a tempo a Oslo, optei por não reservar e, se tivesse tempo, arriscaria o passeio de bicicleta. Arrisquei e, quando cheguei, a tour estava completa; Mas devo ter feito uma cara de desiludida porque o rapaz disse para aguardar: “às vezes falta alguém e, se assim for podes vir”.

Passaram 10 minutos do horário e faltavam duas pessoas. Fui ao escritório pagar e, quando saiu o talão do terminal de pagamentos, chegaram as duas pessoas. Fui literalmente salva pelo “Multibanco”, porque, depois de ter pago, deixaram-me seguir com um dos grupos. Tive muita sorte! 

Rebeca era nossa líder da tour. Não deve ter mais de 30 anos, é consultora legal e aos sábados tem este part-time. “É uma forma de fazer exercício, ganhar mais algum dinheiro e conhecer pessoas”. Lembrei-me de uma época em que trabalhava a tempo inteiro e tive também um part-time ao sábado mas, em Portugal, é muito raro. Há uma cultura em que parece que as pessoas têm vergonha de trabalhar em áreas fora das suas habilitações académicas. Há uma preocupação com as aparências e, muitas vezes, um ciclo vicioso que não nos deixa viver em pleno e sermos nós próprios. 

A Noruega é um país muito rico: o seu Produto Interno Bruto per capita é duas vezes o do Japão e duas vezes o de França. Mas, ao mesmo tempo, no essencial, os noruegueses são pessoas simples e levam muito a sério o lema “ninguém é melhor do que ninguém”. Ao nível dos costumes, ao contrário de alguns países, aqui as pessoas não se diferenciam pela maneira como se vestem. A Noruega é também um país que lidera em termos de igualdade de género, entre homens e mulheres. 

Começamos a tour pela fortaleza e castelo, onde ficam o Ministério da Defesa e o Museu da Defesa. Muitos casais casam e também a tradição do casamento é muito diferente da Europa do Sul. As noivas vestem-se a rigor, os convidados vestem os trajes tradicionais da Noruega (que são lindos) e, ao contrário de Portugal, os convidados são apenas os pais, padrinhos, família próxima e seis amigos de cada lado. O casamento é um momento caloroso e desmistifica a ideia que os nórdicos são frios. 

Da fortaleza, seguimos para o Palácio Real, passeamos pelos seus jardins e, no caminho, passámos pelo Grand Hotel de Oslo, o Teatro Nacional e o centro histórico.

Visitar a Noruega no Verão é maravilhoso. Além de encontrarmos dias solarengos e bonitos, vemos todos os jardins em flor, o que faz com que a cidade tenha ainda mais encanto. Nada de flores secas, nem de um calor abrasador, apenas o habitual Verão norueguês, com 23 graus. 

A paragem seguinte foi o Parque Vigeland, onde encontramos o maior museu aberto de esculturas do artista norueguês Gustav Vigeland, As suas esculturas mostram os vários momentos da vida e, em particular, da paternidade (talvez em jeito autobiográfico, digo eu).

Tive ainda tempo de provar um gelado norueguês com brownies e caramelo para retemperar energias. 
O café do parque também é muito bonito, com uma grande esplanada, e um ponto de encontro de famílias e amigos neste lugar único no mundo. 

O regresso ao ponto de partida levou-nos pelas zonas nobres residenciais, com os seus bistros e cafés, e por Aker Brygge.

Segui depois a pé até à Ópera e ao Museu Munch, e confirmei que os nórdicos aproveitam qualquer local junto à água para fazer praia. Há ali também plataformas e barcos, que grupos de amigos alugam, com bebidas, e de onde dão mergulhos para o mar.

Fui procurar o terminal de autocarros, para apanhar o 34, para me levar até Damstredet, uma zona pitoresca, onde ainda se podem ver as típicas e antigas casas norueguesas. 


Não foi fácil encontrar a paragem. Já sentada no autocarro, fechei os olhos. O motorista árabe ouvia as orações. Naqueles instantes, senti-me a ser transportada para a Turquia ou um qualquer país muçulmano.

Cheguei à minha paragem e segui em direção a Damstredet, que corresponde às expectativas. Casas coloridas muito bonitas, numa zona tranquila de Oslo, com espaços verdes e um cemitério que entra para o top dos cemitérios mais bonitos que visitei (não estava no programa, mas deixo sempre espaço para o inesperado), depois do cemitério americano na Normandia, que considero ser o mais bonito. 

Voltei a pé para o centro, mas antes parei para um aperol (um aperitivo italiano) na Vulkan, a área hipster de Oslo. Trata-se de uma zona residencial em forma de vulcão, com muitos restaurantes e bares. 


O caminho até ao Teatro Nacional demorou 30 minutos. Em cena, está “Hamlet”, de Shakespeare, em inglês, com atores noruegueses. 

Antes, jantei no lindo Café do Teatro. Estava lotado (pensámos todos o mesmo: jantar antes do teatro). Muitos casais, uma mesa de amigas, algumas de amigos mais velhos. Como estava sozinha, jantei ao balcão. Gosto muito da cozinha norueguesa, mas, o melhor de tudo foi ter estes minutos a imaginar como seria a vida daquelas pessoas que, como eu, iam ver “Hamlet” no Teatro Nacional.

Saindo do teatro, são apenas 2 minutos até onde deixei a mochila – um restaurante de turcos. Os empregados eram os mesmos que encontrei de manhã. Comentei que trabalham muito, ao que me respondeu o dono: “10 ou 12 horas mas se fosse na Turquia seriam 16 horas”. 

Segui para a estação, onde apanhei o comboio de regresso ao aeroporto junto ao qual se situa o meu hotel. Amanhã, a viagem para o Ártico começa cedo e assim já estou ao lado do aeroporto. 

Sentada no comboio, doíam-se as pernas e um pouco os ombros e as costas. Um dia, ganharei coragem para revisitar os mesmos locais no longo Inverno, pois, neste Verão que não acaba, tudo parece fácil e certo. 

O dia termina com uma chamada para o meu filho que, em casa, espera que lhe leve um ursinho polar. Vou dar o meu melhor, que é o mais importante. O “saldo” da viagem, esse já é positivo. Agora, é só viver o momento, guardar as memórias, as imagens, paisagens e os lugares… 

Raquel Rodrigues é gestora, viajante e criadora da página R.R. Around the World no Facebook e no Instagram.


Dicas:

A melhor altura para se viajar para a Noruega é entre Junho a Agosto. Em Junho, podem ver-se as noites brancas (nunca fica de noite). 

Para quem procura assistir às auroras boreais, terá de viajar em Novembro ou Fevereiro. O ideal é comprar a viagem mais em cima da hora e verificar no site Northern Lights in Norway quando é boa altura para ir. Isto, para aventureiros last minute. A aplicação também tem os melhores lugares para ver as auroras boreais, se bem que Tromsø é a “capital” das “luzes do Norte”.

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