Vértebras

Os fact-checkers e o suicídio da Ciência: os mosquitos agora andam sempre por cordas

Vértebras

por Pedro Almeida Vieira // Outubro 10, 2022


Categoria: Opinião

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Antes, os debates científicos faziam-se na academia e nas revistas científicas. Sempre. Era modo lento, mas eficaz. A Ciência não evolui segundo a espuma dos dias. Outros tempos. Agora, a Ciência impõe-se na Internet, consolida-se nas redes sociais. O debate científico ganha-se no imediato, elimina-se uma tese em meia dúzia de dias, bastando para a vitória que se tenha a possibilidade de decretar um veredicto, geralmente através de um popular fact-checking reconhecido, por exemplo, pelo Facebook.

Isto a pretexto de um artigo científico do cardiologista Aseem Malhotra, publicado em 26 de Setembro passado no Journal of Insulin Resistance, e da sua validade científica.

selective focus phot of artificial human skull

O PÁGINA UM divulgou-o três dias mais tarde, pela relevância da temática, e porque começam a surgir cada vez mais estudos independentes sobre os efeitos adversos das vacinas contra a covid-19. A restante imprensa mainstream ignorou completamente. Se juntarmos a postura obscurantista das farmacêuticas e das entidades de regulação – veja-se o exemplo do Infarmed –, dar destaque a este tipo de estudos visa sobretudo lançar o debate.

Porém, não pode ser tolerável a manutenção do modus operandi dos dois primeiros anos da pandemia que impuseram um unanimismo e uma ausência de debate, através da ostracização e mesmo perseguição de todos aqueles que, muitas vezes com argumentos sólidos, procuraram “dar luz” a um problema.

Sobre o artigo de Malhotra – e até mais ainda o da autoria de um grupo de investigadores italianos, que o PÁGINA UM divulgou no passado dia 6 de Outubro –, esperar-se-ia um amplo debate. Mas tal não sucedeu.

Aquilo que ocorreu foi um veredicto na Science Feedback feito por Iria Carballo-Carbajal, uma reputada especialista catalã… em doença de Parkinson, que determinou que o artigo de de Aseem Malhotra não tem “suporte científico” (Unsupported), acusando-o também de cometer cherry-picking.

A análise do artigo de Aseeem Malhotra no Science Feedback (secção Health Feedback) foi feita apenas oito dias após a sua publicação original.

Este tipo de veredictos fulminantes (nas palavras e na rapidez) supostamente científicos são, na verdade, a anti-Ciência no seu máximo esplendor, porque não são isentos nem ingénuos.

A análise académica de um artigo científico não se faz em meia dúzia de dias nem é publicado num site de fact-checking. Até porque o site em causa, embora seja se apresentado como “uma organização apartidária e sem fins lucrativos dedicada à educação científica”, está longe de provar a sua independência.

Com efeito, a Science Feedback, além de fazer recrutamento de cientistas para que ali escrevam, é membro da denominada Vacine Safety Net, promovida pela Organização Mundial da Saúde, e que tem como membros (financiadores) diversas entidades governamentais (como o CDC) ou dos lobbies associados ao sector farmacêutico, como a GAVI, ligada à Fundação Bill e Melinda Gates.

Além disso, apesar de compor uns bonitos Communuty Standards, não revela quem são especificamente os seus responsáveis (apenas os editores), nem sequer tem um contacto físico ou um endereço de correio electrónico directo. A comunicação faz-se por mero formulário. Anda-se, enfim, a brincar com coisas sérias. A Ciência não se pode basear em coisas destas.

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Pode até o estudo de Malhotra – e tantos outros – serem uma fraude, tal como foram muitos outros que apresentaram as vacinas como contribuindo para a imunidade de grupo – e que levaram à iníqua segregação de não-vacinados em Estados democráticos durante meses – ou que cantaram loas a absurdas medidas não-farmacológicas.

Porém, uma coisa me parece evidente: para se “derrotar” uma tese ou um artigo científico dever-se-ia sempre seguir a “velha escola”, ser feita através de um debate na academia, e não através das redes sociais, onde fact-checkers, de mãos não completamente impolutas, sentenciam que determinado “herege” não merece falar e deve ser silenciado.

A Ciência não pode continuar a portar-se assim. Será o seu suicídio.

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