Contava-me um professor, há muitos anos, que no primeiro Conselho de Ministros do Japão, depois de terminar a última Guerra Mundial, a preparação do Orçamento de Estado foi extremamente complicada dado o estado em que tinha ficado o país.
Todos os Ministros pediam aumento substancial das verbas que seriam atribuídas aos seus Ministérios sabendo, embora, da falta de recursos.
O Ministro da Saúde lembrava a quantidade de feridos de guerra e as vítimas das radiações, causadas pelas bombas atómicas que destruíram Hiroshima e Nagasaki, e que aumentavam, exponencialmente, o número de doentes internados.
O Ministro das Obras Públicas falava da necessidade de recuperar as cidades, estradas e pontes arrasadas pelas bombas.
O Ministro da Solidariedade recordava as inúmeras famílias que tinham ficado sem casa, sem emprego, sem possibilidade de trabalho e que precisavam de apoio imediato.
O Ministro da Indústria salientava a necessidade premente de ajuda para as fábricas que estavam paradas por falta de energia, de maquinaria e de pessoal.
O Ministro da Defesa explicava o estado em que tinham ficado os três ramos das Forças Armadas, depois de uma guerra em que tinham sido derrotados.
E todos exigiam, para os seus ministérios, quantias que, por vezes, ultrapassavam o valor total de que o país dispunha.
Houve um grande alvoroço quando o Ministro da Educação apresentou a sua proposta.
Pedia uma verba superior ao do último ano de paz no país.
A revolta foi enorme e os Ministros começaram a analisar toda a proposta, ponto por ponto, concluindo que, para todos estes, eram pedidas verbas que consideravam exageradas e que ao orçamento da Educação devia ser atribuída uma verba muitíssimo inferior à apresentada pelo Ministro.
Quando foi a vez deste falar, disse:
– Se consideram erradas as contas de quem quer investir na Educação, façam contas ao custo de investir na Ignorância.
O silêncio que se seguiu acalmou os ânimos e a Pasta da Educação foi das que menos cortes sofreu.
Algo semelhante aconteceu na Alemanha.
Talvez seja essa uma das explicações para que, poucas décadas depois do fim da guerra, as duas maiores potências na Europa e na Ásia, fossem, de novo, a Alemanha e o Japão.
Os dois países que tinham ficado arrasados.
Pode parecer estranho que, em pleno século XXI, ainda seja necessário recordar, aos governantes, que a Educação, a par da Saúde e da Justiça, tem de ser a grande prioridade.
Voltando a falar do Japão, há quem garanta que o apertado protocolo de Estado obriga a que todos os cidadãos se curvem perante o Imperador, com excepção dos professores.
Muitos acham tal como uma excentricidade que provoca sorrisos ou, mesmo, gargalhadas.
Outros põem em causa esta narrativa, que até podia ter um fundo de verdade por uma razão simples:
Os japoneses apostam na Educação.
Já em Portugal, os professores estão na base da pirâmide social ganhando mal, sendo desrespeitados por alunos e pais e sem qualquer apoio do Estado, sequer na sua segurança.
Os portugueses apostam na Ignorância.
Aqui, o Ensino degrada-se de dia para dia.
Péssimo comportamento dos alunos, falta de professores, desajustados programas escolares, facilitismo e desleixo são as marcas das nossas escolas.
A preocupação dos últimos governos, no que à Educação diz respeito, é zero.
Alunos que passam de ano sem terem nota positiva a uma única disciplina, são imensos.
Depois acontecem vergonhas como na Ordem dos Advogados onde, nos últimos três anos, chumbaram 83% dos licenciados em Direito e que pretendiam ser advogados.
Não terão dificuldades em conseguir emprego porque entrarão nas juventudes partidárias e, em breve, serão Deputados, Secretários de Estado e Ministros.
Antigamente os pais, que se apercebiam do facilitismo, e da falta de disciplina nas escolas, diziam esperançados:
– A tropa vai endireitá-los!
Mas, antigamente, as Forças Armadas eram levadas a sério…
Para desagrado dos ignorantes, de ontem e de hoje, que tudo têm feito para, de igual modo, as destruir, hoje nem na tropa há disciplina.
A Ignorância venceu.
Vítor Ilharco é secretário-geral da APAR – Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso
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