Tinta de Bisturi

Fazendo o papel do Diabo

stainless steel scissor

por Diogo Cabrita // Abril 2, 2023


Categoria: Opinião

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Porque há uma enorme insensibilidade crítica na esquerda alcoólica e fumadora contra os direitos dos outros? Fumar e beber, mesmo que em excesso, é uma habilidade social, um escape de todos os que entendem aquelas imagens do intelectual excessivo, do poeta enevoado, do escritor tombando no regresso a casa.

Esta ideia da bebedeira premiada de Cultura encobre e “justifica” muitos casos de violência sobre as mulheres, muitos acidentes de viação, e muitas causas de doença.

four clear glass bottles in dim light

Já o nevoeiro interno e externo, todas as lutas para o direito de fumar, encobrem a brutalidade das patologias que lhe estão associadas e todos pagamos no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Fumam porque são direitos individuais e direitos de liberdade. As consequências nunca importam.

Já a presença do jogo livre, em casinos e em Santas Casas de enriquecer com a miséria alheia, é outra coisa muito aceite pela esquerda e pela tolerância actual das lideranças do Mundo.

Também a completa democracia do açúcar é considerada uma coisa intocável, sendo hoje a maior causa de doença da juventude. O uso de telemóvel nas estradas é outra fantástica causa de acidentes e mortalidade nos condutores mais novos. Não se criam aplicações nem métodos de impedir o seu funcionamento dentro de automóveis, se calhar porque não se quer.

single cigarette stick with ashes stick

Porque vem um tipo com os dedos amarelos da nicotina, de copo de whisky na mão gritar contra a liberdade da prostituição protegida pela lei?

Porque não somos a favor da máxima liberdade sujeita a códigos de boa convivência?

A construção de regras e de limites permite definir as condutas e os gestos em tecido social.

Detesto que ouçam teleparvoíces nos lugares públicos. Detesto ouvir as conversas alheias à porta da consulta e no bar do Hotel. Teremos de regrar esta poluição sonora trazida pela tecnologia que hoje é o novo tabaco dos aviões, das salas de espera, dos restaurantes. Os cidadãos têm mecanismos de nos poupar aos seus sons – usem-nos.

O som espalhado pelas Câmaras Municipais nas cidades. O tonto que vai para a floresta ouvir rock aos berros, o estúpido que nos impede de escutar o vento e os pássaros ao pôr do Sol. Mas há uma lista de coisas que sim e outra que não, mesmo que o contraditório não se coloque. O que importa são as minhas certezas e as minhas convicções.

a person riding a bicycle on a street

Não, não tendes razão. A prostituição de seja quem for, deve ser livre e protegida, e pagar impostos e permitir a reforma. Sim, o trabalho de casa pode e deve ter algum valor que permita a mulher, mãe e dona de casa defender-se num divórcio com um abusador. Sim, o alcoolismo deve ser causa favorável de divórcio e protecção de menores. Sim, o tabaco é uma droga e deve ter as mesmas opções terapêuticas que as outras dependências. Sim, o tabaco é causa de absentismo laboral e de menor trabalho em muitas circunstâncias.

Dito tudo isto, defenderei sempre o direito de fumar, o direito de beber, o direito de estar ao telemóvel, o direito de dares umas voltas cobrando o teu corpo, mas sempre no respeito da existência do outro. O outro está antes do teu egoísmo, é isso? – é boa educação.   

Diogo Cabrita é médico


N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

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