Na passada semana, Lisboa foi palco das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) e que contaram com a presença do Papa Francisco, um argentino nascido Jorge Mario Bergoglio. Segundo os órgãos de propaganda, o evento, que se prolongou por vários dias e teve lugar em vários locais, foi um retumbante sucesso, contando no último dia com a presença de 1,5 milhões de pessoas.
Em sequência, os órgãos de propaganda foram pródigos em encómios ao Papa Francisco e à Igreja Bergogliana. Um discurso mereceu destaque, em particular quando Jorge Mario Bergoglio proferiu em castelhano as seguintes palavras: “…todos, todos, todos…na Igreja há lugar para todos”. De tão entusiasmado, o Papa Francisco até apelou à multidão a respectiva repetição do “todos, todos, todos”.
Os excelsos “jornalistas” e “fazedores de opinião” de imediato desataram a elogiar as palavras do Papa Francisco. Tratava-se de um claro apelo à inclusão, onde se rematava que ninguém deve ser excluído de participar. Em tom emocionado, a comentadora Helena Ferro Gouveia dizia-nos, na CNN Portugal, que “…é uma igreja que quer estar próxima daquilo que pensam os leigos…uma igreja aberta”. Recordemo-nos que há dois anos e meio a senhora lançava rasgados elogios a um instrumento de segregação: o certificado digital. As portas do céu estão abertas a todos, mas nem todos as podiam atravessar.
A comentadora Maria João Marques, num artigo do Público, não ficou atrás na sequência de panegíricos ao Papa Francisco, apesar de há dois anos dizer-nos que a sociedade devia “pôr numa redoma essas pessoas que não querem tomar a vacina…de certa maneira tornaram-se perigosas”, ao afirmar que a reacção da “esquerda” às JMJ tinha sido um surto de jacobinismo agudo, numa óbvia crítica à intolerância!
Miguel Esteves Cardoso, também no Público, congratulava-se pelo trabalho do Papa Francisco em favor da inclusividade. Afinal, ao contrário do que se possa pensar, os insignes comentadores são perfeitamente coerentes com a Igreja Bergogliana, dado que esta há dois anos restringiu a entrada na cidade do Vaticano apenas a pessoas na posse do Certificado Digital. As portas da Casa de Deus, mais uma vez, apenas se abriam para alguns.
Tudo isto faz-nos lembrar o romance satírico de George Orwell, O triunfo dos porcos, onde uma das regras da quinta, depois da tirania imposta pelos porcos, tinha sido ajustada de “Todos os animais são iguais” para “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros”.
A melhor parte estava reservada para o comentário económico: João Franco, na CNN Portugal, falava-nos da “Economia de Francisco”: “É evidente a denúncia da teoria neoliberal dos mercados de regulação mínima, transformada em dogma de fé”. A inevitável pergunta coloca-se: em que planeta vive este personagem? Hoje, não há actividade económica sem restrições no acesso, seja através de taxas ou licenciamentos, que não esteja sujeita a pesadas regulações, ou até mesmo debaixo de órgãos supervisores com capacidade de inspeccionar, condenar e multar, e sempre sujeita a um pesadíssimo confisco, obviamente, garantido por actuações em cartel. O que há de verdade de novo ou inovador?
João Ferreira, membro do Partido Comunista Português, até nos dava a entender que Mario Bergoglio é um fervoroso comunista – talvez seja!, não sabemos -, citando um dos seus escritos: “…a propriedade privada deve estar sempre subordinada ao destino universal dos bens e ao bem público. A este respeito, importa recordar um antecessor de Bergoglio no trono de São Pedro, João Pio XII, em especial a sua carta encíclica, Divini Redemptoris, publicada a 19 de março de 1937.
Na referida carta, apresenta-se tal ideologia totalitária como uma “…doutrina nefanda do chamado comunismo, sumamente contrária ao próprio direito natural, a qual, uma vez admitida, levaria à subversão radical dos direitos, das coisas, das propriedades de todos e da própria sociedade humana”. Esta é há séculos a posição da Igreja Católica, desde sempre uma defensora dos direitos naturais (direito à vida, direito ao fruto do trabalho, direito à liberdade), pelo que o confisco do fruto do nosso trabalho a favor de um colectivo imaginário nunca foi um caminho que a sociedade devesse trilhar segundo esta, apesar de aparentemente ser esse o desejo de João Ferreira e Mario Bergoglio.
O ramalhete das virtudes de Mario Bergoglio não estaria completo sem a “guerra às alterações climáticas”. Lá tivemos um manifesto entregue ao Papa Francisco pelo seminarista Tomás Virtuoso – o apelido diz tudo -, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude, em que este explicou que o documento “deseja resolver o problema do ambiente e das alterações climáticas a partir do que o homem tem de mais grandioso”.
Estranha-se que todos estejam absolutamente alinhados no mesmo discurso: a Igreja Bergogliana, a propaganda e os políticos. Talvez por isso a bancarroteira Visão – o grupo que a detém tem um calote ao Estado de 11,4 milhões de Euros – brindou-nos em uma das suas recentes edições com a fotografia do Papa Francisco, com o título: “O Papa da esperança e da mudança”.
Esta é a mesma revista que há dias afirmava que “Julho foi o mês mais quente alguma vez registado na Terra”. Atenção, não é um máximo de 20 anos ou 40 anos, é mesmo um máximo desde que o planeta Terra existe! Talvez se tenha esquecido de dizer que é o mês com a temperatura mais elevada desde 1979, altura em que se começaram a utilizar satélites. Também se devem ter esquecido dos 50 graus registados em Paris em 1930; ou que a terceira década do século transacto foi a mais quente do século XX. Talvez seja ignorância ou desconhecimento; desconhecemos.
Na verdade, não há qualquer esperança ou perspectivas de mudança vindas do Papa Francisco, da Igreja Bergogliana ou dos órgãos de propaganda nesta nova tentativa de manipular as populações.
O objectivo é comum: entregar as nossas vidas, a nossa soberania, a um governo mundial. Reparem que a agenda é a mesma, a manipulação é a mesma. A inclusividade serve apenas alguns. O Estado apenas quer o nosso bem. As taxas de carbono e a destruição das fontes de energia barata servem unicamente o propósito de salvar o planeta e evitar que ardamos no inferno. As inoculações experimentais são um acto de amor. Tudo o que nos recomendam serve o bem comum!
Não se esqueçam, a Igreja Bergogliana dizia-nos há dois anos que estávamos a viver uma “terrível pandemia” e que a “vacina” era a nossa única salvação. Esta “ciência” foi desmontada pelo mais recente estudo de John Ioannidis, o médico mais citado do mundo, sobre a taxa de letalidade por infecção (IFR) da Covid-19 por idade, onde este estimou que a IFR do Covid-19 na era pré-inoculações experimentais era inferior a 0,1% para aqueles com menos de 70 anos!
Após a festa das JMJ temos que dar-nos por satisfeitos: a casta parasitária perpetrou um novo assalto ao nosso bolso, os órgãos de propaganda reconciliaram-se com a Igreja Bergogliana, atendendo aos panegíricos sem fim que temos visto, e o mundo irá estar muito melhor com as ideias terceiro-mundistas do Papa Francisco, na verdade, um comunismo reciclado em palavras estéreis como inclusividade ou ecologia integral. Enfim, mais propaganda, mais manipulação, nada mais.
Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.