Estátua da Liberdade - ANÁLISE DE LUÍS GOMES

Conflito israelo-árabe: a fórmula perfeita para nos distrair

Statue of Liberty in New York City under blue and white skies

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A batalha da “Ponte de Stirling”, ocorrida a 12 de Setembro de 1297 na Escócia e que colocou em confronto as forças escocesas, lideradas por William Wallace, e as forças inglesas, lideradas por John de Warrenne, teve como desfecho a vitória escocesa. Segundo a crónica de Lanercost, no final da batalha, William Wallace mandou retirar uma tira larga da pele de um inglês chamado Cressingham, da sua cabeça ao calcanhar, para fazer dela um báculo para a sua espada.

Esta extrema violência não tinha surgido do vácuo!, mas era o resultado da invasão da Escócia pela Inglaterra em 1296, em que o rei inglês Eduardo I forçou o rei escocês John de Balliol a abdicar. Foi seguramente o resultado do tratamento dado pelos ingleses aos escoceses durante esse período.

aerial view of gray concrete building during daytime

Assim, não pode constituir surpresa o ataque bárbaro e infame perpetrado pela organização terrorista Hamas no último dia 7 de Outubro, em que foram assassinados mais de mil israelitas e feitas reféns várias pessoas. Olho por olho, dente por dente.

Como fundamentei em artigo anterior, o Estado foi a instituição mais perversa criada pelo homem: tem o monopólio da violência e de administrar a justiça sobre um dado território, bem como o monopólio de assaltar a população desse território, mais conhecido por tributação. Trata-se de uma organização que necessita de um número crescente de hospedeiros – a razão das guerras – com o propósito de os extorquir, humilhar e roubar em favor de uma minoria privilegiada de parasitas que a controla.

No final da Primeira Guerra Mundial, com o fim do império Otomano, a Liga das Nações concedeu ao Reino Unido um mandato para o estabelecimento de condições políticas, administrativas e económicas para garantir o estabelecimento do lar nacional judaico e a salvaguarda dos direitos civis e religiosos de todos os habitantes da Palestina, sem distinção de raça e de religião.

green tree on brown sand during daytime

Apenas em 1947, após o término da Segunda Guerra Mundial, a substituta da Liga das Nações, as Nações Unidas, propôs a partição da Palestina em dois Estados: um judeu e um árabe – não um, mas dois! –, sem ninguém ter questionado a aquiescência da população a esse respeito.

Como era natural, o mundo árabe nunca aceitou a presença de tal Estado nem tão pouco do Estado árabe, sucedendo-se os inevitáveis conflitos militares em que o Estado de Israel saiu quase sempre vencedor, permitindo-lhe hoje controlar um território muito superior ao plano inicial das Nações Unidas. Devido a estes conflitos, cerca de 700 mil palestinos foram expulsos ou forçados a fugir das suas terras para o Líbano e Jordânia.

E quem é que o Estado de Israel efectivamente governa, que território controla? Apesar de toda a propaganda sobre uma solução de dois Estados e dos mapas que mostram a Cisjordânia e a Faixa de Gaza separadas, o facto é que o Estado de Israel governa tudo entre o rio Jordão e o mar, dado que controla a entrada e a saída de pessoas e bens, supervisiona a segurança e tem a capacidade de impor as suas decisões, leis e políticas a milhões de pessoas sem o seu consentimento.

blue and white flag on pole

Os palestinianos da Cisjordânia enfrentam severas restrições à sua liberdade de circulação, desde postos de controlo a auto-estradas segregadas! O Estado de Israel dedica-se a destruir frequentemente as suas casas e a fechar empresas por falta de licenças. São vítimas de assédio constante e de actos de vandalismo, de destruição agrícola e de violência, perpetrados por colonos judeus que operam sob a protecção das Forças Armadas de Israel.

Em bairros de Jerusalém Oriental, os palestinos são frequentemente despejados das suas casas ao abrigo de uma lei que os declara “ausentes”, mesmo que vivam na sua casa há décadas. Num vídeo de um despejo deste tipo, um colono judeu, de forma infame, diz a um proprietário palestino o seguinte: “Se eu não a roubar, alguém a vai roubar”.

A Faixa de Gaza, conhecida por ser “a maior prisão a céu aberto do mundo” e sem a presença israelita desde 2005, continua na verdade a ser controlada por Israel a partir do exterior, atirando a sua população de dois milhões de pessoas para uma existência miserável.

Man in Blue and White T-shirt Holding Black Dslr Camera

Às fronteiras aéreas, marítimas e terrestres de Gaza, o Estado de Israel impõe um bloqueio económico permanente: só são concedidas autorizações de viagem a indivíduos em circunstâncias especiais, nenhum aeroporto ou porto marítimo é permitida a sua construção e as importações e exportações por via rodoviária são fortemente restringidas.

O Estado do Egipto tem agravado esta situação com as suas próprias restrições e encerramentos periódicos das fronteiras – a parte sul da Faixa de Gaza faz fronteira com o Egipto. É precisamente neste ponto que agora surgem os argumentos mais mirabolantes para justificar esta tragédia: ninguém os quer; até o Estado árabe do Egipto não lhes abre as portas; nenhuma nação árabe os aceita como refugiados.

Isto faz lembrar os argumentos dos Nacionais Socialistas dos anos 30 do século transacto: ninguém os quer, nenhum estado europeu aceita de bom grado comunidades de judeus. As semelhanças dos argumentos são notáveis!

three men and one woman soldiers standing on rock during daytime

Para piorar a situação, em 2006, os palestinos elegeram uma associação criminosa para os governar: o Hamas. Temos então um Estado terrorista, armado até aos dentes e equipado com a melhor tecnologia militar do mundo, em luta com uma organização criminosa, que vive do terror e da violência sobre a população, usando-a muitas vezes como escudos humanos.

O resultado é a devastação económica: a taxa de desemprego antes de 7 de Outubro era superior a 46%, o rendimento per capita correspondia apenas a 25% do nível da Cisjordânia e 65% dos habitantes de Gaza estavam abaixo do limiar de pobreza.

O ataque de 7 de Outubro foi apenas mais um episódio desta guerra entre bandidos, assassinos e psicopatas, em que cada um tenta superar em violência e brutalidade o oponente. Recorda-nos a violência entre escoceses e ingleses nos tempos do “lendário” William Wallace.

O mais ridículo deste trágico conflito são os argumentos daqueles que há uns meses aplaudiam os actos de terrorismo perpetrados pelos “Estados Livres do Ocidente” durante a putativa pandemia: prisões domiciliárias, inoculações forçadas de substâncias experimentais e restrições à liberdade de circulação eram os únicos métodos válidos para “cercar o vírus”. E quem não se recorda dos inaceitáveis mísseis russos sobre as cidades ucranianas? Agora podem voar livremente nos céus de Gaza.

black barbwire in close up photography during daytime

Dizem-nos mais: que Israel tem o direito a “defender-se”, dando-nos a entender que é legítimo terraplanar edifícios com mísseis e bombas, assassinando de forma indiscriminada. Aqui, os meios já justificam os fins. Até aprovam a desumanização dos palestinos, nomeadamente as palavras do ministro da defesa do Estado terrorista de Israel: “estamos a combater animais, não pessoas”. Ou que até mesmo a opção nuclear poderá servir para eliminar da face da Terra aquele “curral”.

Outros chegam a justificar a sua desgraça em resultado da “inferioridade” da sua civilização: o trato miserável dado às mulheres ou a discriminação dos homossexuais; esquecem-se, no entanto, de que a sua “superior civilização”, em nome de um “vírus”, discriminou a população que se recusou a ser inoculada com substâncias experimentais ou impôs um véu em forma de fralda facial.

Em nenhum momento se lhes ocorreu que toda esta violência resulta da existência de Estados e de bandidos psicopatas que aspiram a sê-lo. Não se trata da velha fórmula maniqueísta: os bons vs. os maus, mas sim de uma violência programada para dividir-nos e manipular-nos, para que nos ataquemos uns aos outros, enquanto a sua agenda progride de forma inexorável.

bird's eye photography of road on dessert

E que agenda é essa? Continuarem a fomentar conflitos armados que custam milhares de milhões de dólares norte-americanos, pagos com a impressora de notas de monopólio que vão parar aos bolsos de uma minoria de privilegiados, roubando-nos sem piedade, através da perda de valor do dinheiro que levamos no bolso.

Gerando-se o ódio entre nós, distraímo-nos do verdadeiro inimigo: o Estado, a entidade parasitária que necessita do nosso consentimento para sobreviver. Manter-nos cheios de medo, distraídos e resignados é a sua fórmula! Este conflito entre bandidos e psicopatas foi o cenário perfeito que se seguiu à farsa pandémica e à guerra na Ucrânia, bastava atiçar aquele vespeiro, onde as únicas vítimas são as populações israelitas e palestinas.

Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário


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