EDITORIAL DE PEDRO ALMEIDA VIEIRA

Sondagens, ou como a imprensa procura não sei bem o quê: talvez o fim

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por Pedro Almeida Vieira // Janeiro 25, 2024


Categoria: Opinião

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Na semana passada, durante o Congresso dos Jornalistas, viram-se os ditos baterem muito no peito, e jurando que a Democracia ruiria sob os escombros do Jornalismo, se este, enfim, fosse deixado colapsar pelo Estado, já que os leitores, ouvintes e telespectadores parece não serem suficientes para lhes reconhecerem valor.

E, de repente, olho hoje para (mais uma) daquelas ‘sondagens’ e ‘inquéritos’ que vai enxameando esta, repetindo outras, época pré-eleitoral. Neste caso, foi no Correio da Manhã, mas poderia ser noutros quaisquer, como no diário que anunciava que Medina sucedia em Medina, e em muitos outros que, depois de se envergonharem perante os leitores, e contribuírem para a manipulação dos incautos, ainda se questionam estupidamente.

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Em todo o caso, há muito que não assistia a uma tão pesarosa ‘sondagem’, que, além de enviesada nas questões (mas nisto cada um mete as perguntas que quer), retira as mais absurdas conclusões em parangonas. Neste caso, hoje, saiu um: “Portugueses voltam a preferir maioria socialista”.

Ora, mas a partir da ficha técnica deste Barómetro Intercampus, em letras muito miudinhas, boas para míopes, mas péssimas para a credibilidade da notícia e do jornalismo, vemos que só 62 pessoas disseram que gostavam, face a outras alternativas, que houvesse uma maioria absoluta do PS. Repito: 62!

Mas isto foi suficiente para hoje o Correio da Manhã titular: “Portugueses voltam a preferir maioria socialista”. E isto num inquérito que tinha 9 alternativas, com uma amostra de 637 entrevistas e uma taxa de resposta de 62,9%. E esta alternativa foi a mais votada teve 15,4% das respostas: as tais 62 pessoas, se considerarmos que o famoso “Ns/Nr” (Não sabe / Não respondeu) não saiu mesmo ‘vitorioso’, pois arrecadou 22,3% dos ‘votos’. E isto sabendo que a segunda alternativa mais votada foi a de “um Governo AD aliada ao Chega”, que registou 13,7% das preferências da tal amostra de 637 entrevistas das quais só 62,9% responderam e, destes, 22,3% nem quiseram ou souberam responder. Contas feitas, foram 55 pessoas.

A terceira alternativa – “uma maioria relativa do PS, sem fazer alianças e governar com apoios pontuais” – teve, contas feitas pelo mesmo processo, as respostas concretas de 46 pessoas.

Portanto, é com esta ‘ciência’ que andamos a brincar ao jornalismo.

Isto, repito, foi no Correio da Manhã, mas podia pegar noutra qualquer sondagem ‘martelada’ para retirar conclusões absurdas.

A imprensa continua, dia a dia, a enterrar a sua credibilidade, procurando não sei bem o quê: talvez o fim.


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