DA VARANDA DA LUZ

Vizela 6.1

por Pedro Almeida Vieira // Fevereiro 18, 2024


Categoria: Opinião

minuto/s restantes


Sendo certo que, mais uma vez, cheguei uns minutos atrasado, ao ponto de no elevador do piso -2 para o piso +3 – para se chegar à edénica Varanda da Luz tenho de passar sempre pelo ‘inferno’ de descer ao -2 para seguir para o +3 –, ter sabido pelo intercomunicador de um polícia que o jogo já começara, daí só ter começado a escrever esta crónica ao minuto 13 (oh! diabo), porque tive de ir ainda buscar o farnel, dar dois dedos de conversa a uma leitora confessa do PÁGINA UM, e subir umas escadaria de causar enfartes, estou hoje com um feeling – vá lá, à portuguesa, uma fezada – de ser este o dia para me deslumbrar com o almejado 15 a 0.

(goloooooooo…. já está: depois de uma cena do típico goleiro de pés cegos, perante a proximidade de um avançado, a defesa do Vizela aos papéis, e à segunda insistência lá marca o David Neres)

Bom, faltando 14, e já com um falhanço de permeio, explico as razões da fé: primeiro, está bom tempo. Não é o empapado de Guimarães, que ‘roubou’ dois pontos na semana. Ou contribuiu, porque a outra parte se deveu a não se ter feito um corno para se ganhar, mesmo com o habitual ‘Big Brother’, ou seja, a expulsão (e merecida, sem faccionismos) de um adversário. Depois, hoje deram-me um cartão de acreditação que está guilhotinado no canto inferior direito. Será, de certeza, um sinal de boaventura – calma, não é o César Boaventura, condenado na semana passada por corrupção a favor do Benfica sem, oh claro, o Benfica saber, mesmo se a palavra Benfica é citada 64 vezes na sentença do juiz. E, se se confirmar o 15-0, deverá depois haver também uma explicação científica para o fenómeno do cartão guilhotinado, pelo menos equivalente à ciência do Doutor Filipe Froes sobre a tripla pandemia que ele anunciou em Novembro de 2022, e que nunca se viu. Depois, porque…

(goloooooooo… Otamendi, nas alturas, a facturar, como se diz)

Nem me deram tempo de explicar tudo. Assim não há condições. Estava para dizer que a terceira razão era o infortúnio do Vizela, que acabou de perder por lesão o seu guardião principal, Fabijan Buntic. Se antes deste jogo já tinham encaixado 38 golos na Liga desta época com o efectivo, imagino que terão uma média pior com o suplente. Aliás, entrou, levou logo um. Além disso…

(golooooooo… Tiago Gouveia… 3-0. O regressado Tengstedt faz um chapéu para o poste, mas o miúdo não falha na recarga. É melhor pôr o resultado sempre que o Benfica marcar, de contrário arrisco perder-se a conta).

E já agora, antes de continuar, um agradecimento ao Tengstedt por ter falhado um golo de calcanhar, e também ao fora de jogo do Rafa, que marcou, mas foi anulado. Se se metem a marcar de empreitada, esta crónica, escrita em tempo real, fica completamente atípica. Se repararem, nas outras, tento sempre escrever dois ou três parágrafos entre comentários às incidências do jogo, mas com golos à cadência de cinco minutos isto não fica fácil ao escriba compor um texto em estilo digno.

Portanto, e finalmente com a possibilidade de escrever um segundo parágrafo sem acrescer nada sobre as incidências do jogo, lá em baixo no gramado, continuo: a quarta razão para a grande fé num 15-0 é por o Vizela ser o ‘lanterna vermelha’, um lugar propício para uma infernal gloriosa tarde de cabazada à antiga portuguesa. Se o Sporting até já consegue meter oito golos ao Dumiense e ao Casa Pia, mais fácil será enfiar mais 12 ao Vizela…

(11, pá! 11… já só faltam 11… golooooooooooo… 4-0. David Neres numo belo remate corrido em assistência primorosa do Rafa)

Agora a sério. Isto está a correr melhor do que eu pensava. Vou mesmo acreditar na história do cartão de acreditação guilhotinado no canto inferior direito… Além disso, os árbitros hoje vestiram-se de preto, lembrando os gloriosos tempos, antes do wokismo, em que um homem do apito que era homem do apito apenas de preto vestia, e nada mais. E o Benfica sempre se deu bem com árbitros que apitam de negro…

(golooooooooo… 5-0. Rafa a marcar numa das suas arrancadas…)

Qual acreditar? Qual fé, qual carapuça! É evidência! Vou passar a exigir ao Benfica que me passe a guilhotinar o cartão de acesso quando aqui vier escrever a crónica. E já agora: prefiro um ‘sumito’ à água engarrafada da Serra de Monchique que andam a fornecer no farnel. Tem pH de 9,5; demasiado alcalina.

(e pronto!, intervalo; toda a gente satisfeita por aqui, excepção à equipa do Vizela, presumo, e aos duzentos adeptos que andaram 348 quilómetros para empochar este vexame que se anuncia)

Entretanto, começa a segunda parte e, enquanto não surge novo golo, estou aqui a meter uma nova entrevista do Hora Política no Spotify e a descarregar as fotos para o WordPress. Enfim, enquanto aguardo pelo 15-0, o trabalho por aqui tem de avançar, que o PÁGINA UM não é só futeboladas.

(porca miséria! Como é possível? Golo do Vizela! Como é possível!)

Já me estragaram a tarde. Eu bem achei estranho que a segunda parte começasse quase em silêncio, sem as cantorias das claques. Entrou-se descontraído, e pronto: lá se foi pelo cano abaixo o meu sonho da crónica do 15-0, do ‘eu estava lá’, para inveja dos vindouros. Pelo menos que façam então um 16-1, que menos do que isto sempre será pouco. E mais do que isso já nem apaga o deslustre de apanhar um golo de uma equipa que, nesta época, é a menos concretizadora da Liga (20, agora). Caramba: ainda há menos de um mês levaram cinco sem resposta do Arouca!

Enfim, respiremos fundo: sempre é bom lembrar as dificuldades passadas. Se hoje, daqui do alto de um descontraído 5-1, já damos mais que certo os três pontos, apesar das invenções do Roger Schmidt…

(penalti a favor do Vizela… defendido pelo Trubin; acreditem, isto estava tão morno nas bancadas que eu, entretido numas pesquisas, só me apercebi de ter havido grande penalidade após a defesa guarda-redes do Benfica por via de um bruaá quase semelhante a um golo dos nossos)  

Bem, continuemos. Falemos então das dificuldades passadas, que a quimera por hoje já foi. Na última vez que se defrontou o Vizela na Luz para a Liga, em 2 de Setembro de 2022, ganhámos apenas por 2-1, com um golo de penálti do João Mário aos 12 minutos de compensação, e esteve-se a perder entre os minuto 20 e 76. E na época anterior, em Março desse mesmo ano, não se fez melhor do que um empate a uma bola, e andou-se também atrás do prejuízo, ‘ó tio, ó tio’, depois do Taarabt ter feito das suas e sido expulso logo ao minuto 8. Por falar em expulsões: esta noite ainda não houve o momento ‘Big Brother’; ainda ninguém foi expulso. Só dois ou três amarelos. Além disso, aquele Vizela era do Álvaro Pacheco… Aquele boné tinha alguma coisa de mago, como o computador do Carlos Antunes a fazer previsões durante a pandemia.

(e o jogo, lá em baixo, decorre morno; o Benfica ainda não teve, pelo que vi, uma única oportunidade de golo nesta segunda parte, e já vamos no minuto 87)

Enfim, acho que encerro por aqui esta crónica; a crónica sobre o insucesso de se escrever uma crónica sobre o quimérico, o utópico 15-0.

(caraças!, devia ter feito o lamento mais cedo: Marcos Leonardo marca o 6-1… sempre empatamos na segunda parte).

Últimas substituições ali em baixo, onde, enfim, fiquei a saber que o Benfica tem um jogador chamado Benjamim Rollheiser! Ando mesmo afastado destas questões da bola. Fui agora ver: é um argentino de 23 anos, contratado no mercado de Inverno ao River Plate, e que até já jogara três minutos contra o Estrela da Amadora, mais quatro contra o Gil Vicente, e agora mais um minuto neste jogo, porque, entretanto, o homem de negro [engraçado, ontem revi, por acaso, quase todo o filme Homens de Negro, aquele dos alienígenas, com o Will Smith, antes da chapada, e o Tommy Lee Jones] apita para o fim do jogo. E pronto: mais três pontos, crónica concluída.

Para a semana há mais. Portimonense: és o próximo candidato ao 15-0. Estás a ouvir-me, Roger Schmidt?Mas antes, vê lá se nos passas o Toulouse…

Sim, Schmidt, tu aí que estás ainda a falar para os meus comparsas de profissão, enquanto eu, aqui de luzes vermelhas acesas, na Varanda da Luz, acabo de meter esta crónica online no PÁGINA UM: ainda acredito que sejas o ‘patinho feio’ que nos vais presentear com um 15-0. Mas, e digo eu que nem treinador de bancada sou, convém ser a jogar as duas partes como se fez hoje na primeira. Se queres a glória, jamais será sem um 15-0. E hoje perdeste uma boa oportunidade.


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