EDITORIAL - OPINIÃO DE PEDRO ALMEIDA VIEIRA

O lamaçal de António Araújo, colunista do DN e administrador da Fundação Francisco Manuel dos Santos

man lying on green grass soaked with mud

por Pedro Almeida Vieira // Fevereiro 26, 2024


Categoria: Opinião

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O historiador António Araújo ostenta, como nota curricular de particular destaque, ter sido assessor político de Cavaco Silva e de Marcelo Rebelo de Sousa, algo que lhe deveria conceder o opróbrio dos outros, ou então o recato do próprio, quando se decide a falar dos actos dos demais.

Ora, mas António Araújo arrojou-se, desde há uns tempos, em chafurdar na intimista vida de figuras públicas, tecendo longos perfis sob a forma de coluna no Diário de Notícias, onde, supostamente com um olhar clínico de historiador, vai dissecando virtudes e polémicas dos visados, mas com a verve bem afiada nos supostos defeitos, nos quais ele, olimpicamente, e no alto da sua cátedra de puro sem mácula, dá as suas bicadas.

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Já eu ficara com olhos de esguelha quando, há uma semanas, António Araújo traçou um perfil de Fernando Nobre, enlameando as posições (legítimas) deste notável médico sobre a pandemia, que contrariavam uma narrativa (corrente) e unanimista (imposta), e que resultou em perseguições de clínicos e muitos outros especialistas, e que deveriam envergonhar uma qualquer democracia.

Porém, ontem, António Araújo foi ainda mais longe; longe demais. Não apenas por usar o mesmo estilo de bota-abaixo, a conspurcar, no mínimo de forma deselegante, o perfil de mais uma pessoa notável – Clara Pinto Correia – como, à boleia, quis conspurcar o PÁGINA UM.

Vejamos um trecho desta lamentável prosa de António Araújo:

Depois, por uma cruel sucessão de desastres, uns próprios, outros alheios, a fama cobriu-se de lama, Clara entrou em perda e em queda, despenhou-se dali abaixo – e hoje é colunista do Página Um”.

Eu sei que gente como António Araújo vive numa bolha, onde todos se consideram a melhor bolacha do pacote. Mas… que coisa é esta: a “fama” de Clara Pinto Correia “cobriu-se de lama” e “despenhou-se dali abaixo” e a tal ponto que “hoje é colunista do Página Um”?! Não ficava António Araújo satisfeito em atirar ‘apenas’ lama a uma pessoa, ao melhor estilo misógino, e quis meter ainda no seu lamaçal um projecto como o PÁGINA UM a mim e a mais uns quantos bons punhados de pessoas muito válidas –, que trouxe uma lufada de ar fresco à putrefacta lusa imprensa?

O PÁGINA UM é um modelo daquilo que deveria ser um órgão de comunicação social:  independente, na essência e na prática quotidiana. Vive com o apoio exclusivo dos seus leitores, não tem publicidade nem parcerias comerciais com entidades públicas ou privadas, não tem dívidas ao Estado nem empréstimos bancários. E faz investigações sem complexos; e tem muitos mais processos de intimação, junto dos tribunais administrativos, para obtenção de informação escondida por entidades públicas do que TODA a outra comunicação social.

Será o PÁGINA UM algo tão baixo para se ser colunista? Ou será o PÁGINA UM, antes, um órgão de comunicação de excelência para, sem falsos puritanismos, aproveitar o melhor que uma cronista da qualidade da Clara Pinto Correia pode dar?

Mas afinal, quem é hoje António Araújo, e onde é ele colunista?  

É colunista de um vetusto jornal que, perdida a glória de antanho, vende agora menos de 1.200 exemplares em banca.

É colunista de um vetusto jornal que integra um grupo ainda dominado por um fundo manhoso das Bahamas, sendo que a sede do accionista maioritário é uma caixa de correio de um cowork no Saldanha.

É colunista de um vetusto jornal que integra um grupo que deve 7,5 milhões de euros ao Fisco.

É colunista de um vetusto jornal que integra um grupo com prejuízos de 50 milhões de euros desde 2017.

É também António Araújo –  além de colunista do Diário de Notícias, onde expele puritanismos de cátedra –  um dos membros executivos do Conselho de Administração de uma fundação que compra jornalistas – ou dá-lhes dinheiro – para elaborarem à peça, para o seu site, supostos artigos noticiosos independentes, supostas entrevistas independentes, supostas moderações de debates independentes e promoção de supostos podcasts independentes, numa promiscuidade inqualificável, nas barbas da ERC e da CCPJ, e que tem contribuído para a degradação da credibilidade da imprensa.

É também António Araújo –  além de colunista do Diário de Notícias, onde expele puritanismos de cátedra –  um dos membros executivos do Conselho de Administração de uma fundação que olha para a imprensa meramente como um ‘parceiro de negócios’, para si e para o seu ‘patrono’ (a Jerónimo Martins), a tal ponto que tem o descaramento de quantificar, em euros, o produto das notícias (boas, claro) que sobre si são feitas.

Para não haver dúvidas, citemos o último parágrafo do relatório de actividades de 2022 da dita Fundação – que ainda por cima quer tornar-se um think tank, talvez com a ajuda dos jornalistas e órgãos de comunicação social a quem vai pagando:

As atividades da Fundação geraram 4.813 notícias, mais 10% do que em 2021, que originaram um AAV (Automatic Advertising Value) de 157 milhões de euros, mais 80% do que no ano anterior. Além deste crescimento, a Fundação atingiu o terceiro lugar no que respeita à notoriedade das Fundações, ultrapassando a Fundação Mário Soares, que ocupava anteriormente esse lugar”.

Portanto, quando António Araújo voltar a falar em Clara Pinto Correia ou no jornalismo do PÁGINA UM, tenha alguma noção. A começar pela noção do ridículo. A acabar pela noção de humanidade. Clara Pinto Correia não está no fundo; nem estará, certamente, enquanto colaborar no PÁGINA UM. Ao contrário do António Araújo, de quem – e parafraseando Nietzsche, que ele até cita de forma infamemente cruel no vil perfil deste domingo no Diário de Notícias – não se espera qualquer renovação nem que o metam antes em cinzas.

N.B. Este editorial foi escrito antes sequer de falar com a Clara Pinto Correia sobre este assunto.


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