Correio Trivial

Não, é não! Ou talvez! Ou sim!

black and white abstract painting

por Vítor Ilharco // Março 8, 2024


Categoria: Opinião

minuto/s restantes


Todos lembramos o tom firme com que Luís Montenegro se dirigiu a André Ventura logo na primeira intervenção do seu debate na televisão:

“Coligação com o Chega? Já disse e repito: Não, é não!”

Talvez não tenha sido a primeira, mas foi, sem dúvida, a mais marcante promessa da sua Campanha.

Com esta frase Luís Montenegro quis mostrar a firmeza exigida a um líder.

Para mais sabendo que esta decisão estava longe de ser consensual entre alguns dos seus apoiantes.

O que está em causa é que, mantendo esta posição, cria o risco da Aliança Democrática não conseguir os seus objectivos de constituir Governo, ainda que ganhando as eleições, por lhe ser impossível aprovar um Programa na Assembleia da República.

Compreendo, e respeito, a posição de Luís Montenegro, mas também sei “a sede e a vontade de ir ao pote” de muitas dezenas de companheiros seus nos Partidos da Coligação.

Oito anos fora do Governo, com dezenas de interessados em lugares de Ministros e Secretários de Estado, Directores-Gerais, etc., etc., etc., faz com que estes estejam nas tintas para os ideais que dizem defender.

E nem sequer escondem isso.

Antes mesmo das eleições e, logo, de saberem o resultado, são muitos os que, publicamente, entram em confronto com o líder.

“Nunca digas nunca” é a palavra de ordem de quem quer tudo a qualquer custo.

Também há quem diga que é falta de coluna vertebral, mas com Poder esse mal é secundário.

Depois há as “figuras de referência”.

Gente que, por ter sido derrotada em eleições, não esconde a revolta e quer que o seu Partido regresse ao Governo nem que tenham que se associar ao Diabo que eles próprios diziam ser aliado do Partido do outro lado da barricada.

Vão ser imensas as pressões sobre Luís Montenegro para que altere a sua decisão, mesmo depois de ter prometido, com o ênfase conhecido, que jamais o faria.

E estes seus conselheiros até podem dar inúmeros exemplos em que, eles próprios, prometeram e mudaram de opinião.

black metal frame glass window

Tentarão explicar, com argumentos diversos, que por vezes “Não, é… talvez”!

Como bom correligionário, e amigo, é quase certo que Luís Montenegro comece a ponderar se faltar à palavra será assim tão mau.

Principalmente se comparar com o que pode deixar de ganhar e fazer com que os seus ganhem.

Acresce que, verdade seja dita, os seus adversários políticos também não se podem dar ao luxo de pegar em pedras para atirar na direcção de um qualquer mentiroso.

É gente que mora em casas luxuosas, mas com telhados de vidro.

Vidro muito, muito, muito frágil.

As promessas dos políticos são, de um modo geral, de curta duração e quem nelas acredita é, no mínimo, tolo.

É sabido que, quanto mais firmeza houver no momento em que tenham sido proferidas, mais depressa são quebradas.

Apontem-me um político, ao acaso, e lembrarei promessas feitas e não cumpridas.

As intenções, no momento em que são proferidas, até podem ser, serão muitas vezes, sentidas.

Acredito que, por vezes, quem as faz até tenha a firme intenção de as cumprir.

Só que, em política, a realidade muda rapidamente e a conquista de votos sobrepõe-se a tudo.

São os votos que levam ao Poder.

shallow focus photography of padlocks in steel cable

E é este que traz dinheiro.

O dinheiro que João de Deus definia tão bem:

“O dinheiro é tão bonito,

Tão bonito, o maganão!

Tem tanta graça, o maldito,

Tem tanto chiste, o ladrão!

O falar, fala de um modo…

Todo ele, aquele todo…

E elas acham-no tão guapo!

Velhinha ou moça que veja,

Por mais esquiva que seja,

                            Tlim!

                            Papo.”  

Luís Montenegro não é excepção nenhuma. Vai mostrar, em breve, que, por vezes, “Não, é não”, muitas vezes “Não, é talvez”, na política, quase sempre, “Não, é sim”!

Vítor Ilharco é assessor


N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.


PÁGINA UM – O jornalismo independente (só) depende dos leitores.

Nascemos em Dezembro de 2021. Acreditamos que a qualidade e independência são valores reconhecidos pelos leitores. Fazemos jornalismo sem medos nem concessões. Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não temos publicidade. Não temos dívidas. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro. Apoie AQUI, de forma regular ou pontual.

O jornalismo independente DEPENDE dos leitores

Gostou do artigo? 

Leia mais artigos em baixo.