A notícia do dia é que o Sporting é campeão europeu de hóquei em patins, a mais portuguesa das modalidades desportivas.
Tenho uma ‘cacha’ para os leitores do PÁGINA UM: o seu ilustre Director assistiu a tudo sem pregar olho nem tirar os óculos, como aconteceu em dois outros gloriosos momentos desta época. Confortavelmente aterrado no mesmo sofá com formato de nenúfar, vi-o sobreviver corajosamente aos dois golos do Génio Catamo. E jamais poderei esquecer o impávido espanto com que tentou travar, de braços retraídos e pernas no ar, a arrancada dos dois cometas nórdicos que acabou com as incompreensíveis dúvidas sobre o desfecho da meia-final da Taça.
(O estádio grita “Rafa, Rafa” para bater um penalty. Foi lá antes aquele craque argentino que nunca pode ser substituído e é campeão do Mundo sem alguma vez ter marcado um golo ao Sporting. A harmonia continua na família do querido rival.)
Ocasiões como as do Catamo, do Hjulmand e do Gyökeres são como sacramentos entre amigos verdadeiros de clubes rivais.
– Pedro Almeida Vieira, estás convidado para a final da Taça! Nesse dia nem fazes mais nada, acordas e vens logo aqui ter a casa.
Aqui no estádio, ao meu lado, o Pedro já escreveu umas 12 laudas de texto. Parece o Trincão a fintar os laterais, com ligeiras diferenças de tonalidade na barba, compensadas pelo corte de cabelo fiel ao modelo. Dribla o teclado e ao mesmo tempo consome gurosans de estatísticas ao telemóvel, para depois debitar gigas de resultados mais velhos do que nós ao meu ouvido, com a alegre efervescência dos comprimidos a alaranjar as águas. Manifestamente, o jogo interessa-lhe ainda menos do que a mim.
(O estádio acorda o Senhor Director do torpor analítico e da sanha historiográfica-futeboleira aos gritos de Rafa, Rafa. Outra vez penalty. A julgar pela rasteira escandalosa que pregou às pernas do adversário, o guarda-redes do Arouca deve ser fan do Rafa. Cá de cima, parece-me um sueco da terra do Gyökeres, imagino que traumatizado desde o recreio da escola primária. E o árbitro apitou mesmo com vontade de alegrar a bancada. Rafa, Rafa? Desta vez marcou o turco que vai ficar com o lugar dele para o ano. O Roger Smith é tão exímio a mostrar quem manda como a culpar os outros pelas derrotas. Como foi golo, isto hoje já não descamba, nem vai dar grande notícia.)
Notícia digna de registo foi a iniciação do Senhor Director do PÁGINA UM no glorioso Núcleo do Sporting Clube de Portugal da Garagem do Estádio de Alvalade. Aconteceu ontem, dia 11 de Maio de 2024, numa reunião extraordinária realizada no bairro da Graça, para assistir ao jogo no Estoril em comunhão de duas espécies.
O Núcleo da Garagem tem sementes na abençoada terra de Alpalhão. Zé Sequeira, Major João Presumido, Fernando Cardoso, Cotrim, Severino Cunha, Tó Luís Joeirinha e Ti José Joaquim, este já no prado mais verde dos céus, foram os sete violinos fundadores. Antes e depois de cada jogo, no piso menos um do estádio, montam mesa farta de azeitonas, queijos de cabra e ovelha, cacholeiras, ovos com espargos, toda a sorte de petiscos, muitos vinhos e alguns doces.
Quem ousa aproximar-se é sempre bem recebido. Eu fui um deles, um dia, e fiquei para sempre. Dantes, o Núcleo da Garagem reunia-se no Alvaláxia, para desespero dos restaurantes de comida rápida do recinto. Para o ano, já comemora 15 anos. Saborosas bodas de cristal, com vinho alentejano a transbordar dos copos.
(O Rafa marcou um golo de bola corrida. Deve ter posto beicinho de desforra. É mais um benfiquista no estádio com vontade de contrariar o treinador. A orquestra da Luz continua afinada e, desportivamente reconheço, ele sempre foi um solista talentoso…)
Pedro Almeida Vieira foi recebido pelo Núcleo da Garagem como se fosse o João Pinto. E eu juro que o vi aos saltos, bem embalado. E quem não salta? O Pedro estava muito, mas muito, muito mais divertido ontem do que hoje, que o Benfica ganhou cinco a zero.
Eu cumpri a minha parte do nosso trato, com visita ao Estádio da Luz, credencial de imprensa e esta crónica preguiçosa. Foi pena o Arouca ter ido de férias antes do jogo. Daqui de cima, confirma-se que o Benfica tem alguns grandes jogadores. Dou graças a Deus por não ser cego e me ter libertado do fanatismo clubista. Até gostava de ver o João Neves no Sporting mas felizmente isso é impossível. Hoje houve algumas jogadas bonitas, nenhuma como o vôo da águia. Sonho com o dia em que haverá leões à solta no fosso do nosso estádio. Para já, só no relvado.
Para o ano, disse-me o Pedro, se o Sporting for bicampeão aumenta exponencialmente a probabilidade de voltar a ser penta. É que nunca fomos só bicampeões. Vamos ver!
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