RUI ARAÚJO: CADERNO DOS MUNDOS

Quatro dias, uma moto e uma mochila

minuto/s restantes


Em 2018, Rui Araújo fez uma ‘peregrinação’ sem destino traçado nem etapas definidas, a partir de Lisboa, em cima da sua então nova mota, apenas pelo prazer da viagem e de encontros imprevistos. Estava para ser uma espécie de ‘viagens à minha terra’ versão motorizada, mas atravessou a fronteira, e não se satisfez apenas com Espanha, galgando o País Basco, até à francesa Baiona, nos Pirenéus Atlânticos. O importante é a viagem, não o destino – e um diário para que a memória se mantenha.


LISBOA. 

É uma viagem (essencialmente por estradas secundárias) sem acompanhantes. E, sobretudo, sem destino.

VENDAS NOVAS.

Decido abandonar a A6. Há estradas que parecem autênticos túmulos desolados a céu aberto. E faz um calor de rachar.

MONTEMOR-O-NOVO.

O importante não é o destino. Chegar é, aliás, irrelevante. O que importa é partir, viajar. É a peregrinação. Dou comigo a matutar, sem querer, que andar de moto é como navegar. E, se não é, parece…

Penso na primitividade das minhas desventuras da pesca do tubarão, entre o arquipélago de Cabo Verde e a linha imaginária do Equador. Cheguei a narrá-las na revista LUZES (A Corunha).

O meu mar…

Essa reportagem acabava mais ou menos nestes moldes:

Depois da faina da pesca do tubarão, a nossa conversa em torno da mesa do pesqueiro Intrujão é, necessariamente, filosófica: grogue e putas.

— Depende da qualidade. Mais barata é 250 escudos [2,5 euros]. Depois, há 300 escudos [três euros]. A diferença é a qualidade. A chinesa é de 500 [cinco euros] para arriba. Badia, há a todos os preços… — explica Magrás.

— São Vicente é mais caro do que a Praia. Mamada a 500, fodas a 1.000 é o mais barato — acrescenta Mendonça.

Ti John coça o pescoço, vagarosamente.

— Hoje, é dia de foder a mulher de cada um, não é dia de puta… — adianta.

— Se o senhor quer uma mulher em São Vicente, eu arranjo… — propõe-me Magrás.

Acabamos por atracar no Mindelo. O pescador ferido, Luís (Malulula), é transportado imediatamente para o único hospital da ilha de São Vicente. 

Largamos amarras (há pescadores que preferem a expressão «largar cabos») segunda-feira, às duas da tarde. Serão mais três semanas sem avistar terra, se tudo correr bem. De resto, sinto-me  melhor no mar. E não estou aqui a fazer nada…

O pescador Luís Malulula aprendeu a ler e a escrever comigo. Três semanas de mar e uma tempestade foram suficientes para ele conseguir gatafunhar o nome e dois ou três verbos a acabar em «ar». Morreu no dia em que atracámos no Mindelo. Teve um desastre. Tinha 40 anos. E deixou uma família por sustentar e muitas histórias de mar para contar, pelo menos isso. Não é nada e é muito…

Luís Malulula: depois da pesca do tubarão as aulas de português.

PASTANEIRA.

Apesar da grandiosidade da planície bravia, dou graças ao destino por ter nascido junto ao mar. Esta paisagem árida, poeirenta e monótona atordoa-me.

ARRAIOLOS.

Paro no Forjador... Café e cigarro. As especialidades do restaurante são as empadas de galinha e os bolos tradicionais.

ESTRADA NACIONAL 4. 

É, portanto, mais uma tarde canicular. E os dias largos ainda nem sequer chegaram.

Vimieiro e, em seguida, Estremoz. Em Borba, hesito. Tenho gasolina para mais 100 quilómetros.

Badajoz? Ou meto pela N255 em direcção a Monsaraz? Eu adoro aquela vilazinha medieval alegre e buliçosa alcandorada sobre um cabeço. Do esplendor de antanho restam as casas caiadas e uma calçada bruta de xisto. O castelo. O muro da cerca, que esconde com parcimónia a melancolia daquela terra poeirenta e abrasadora e uma luzidia albufeira verde-doirada que se estende até ao horizonte. No burgo ninguém me espera…

MONSARAZ.

Parece que foi ontem. Fiquei na Casa Pinto, uma pensão situada diante da sumptuosa igreja de Nossa Senhora da Lagoa, ao lado de um pelourinho de factura oitocentista. Deus e a Justiça dos homens no mesmo espaço. Era o local ideal para mim, o zeloso e fiel combatente da infâmia e dos actos de arrepia-cabelo que corroem a normalidade envergonhada (?) da sociedade bem-pensante ou tão simplesmente do fingidor de jornalista.

Eu recordo-me. A porta baixa de linhas austeras da pensão estava entreaberta. Entrei. A casa, que tinha sido restaurada pelo novo dono, um tipo mais triste do que taciturno, preservara o decoro devido à tradição. O resto não é para aqui chamado. Morrer mal é a mesmissíma coisa que morrer…

No fim de contas, opto por Elvas. Não dá para matar o Diabo, mas teimar em correr atrás de fantasmas é doentio…

ELVAS.

Entrada da cidade. Depois da operação da GNR (ao lado da rotunda do costume, claro!). Faço uma paragem imprevista. E esboço um gesto de repulsa assaz patético, mas sincero. O raio da viseira está repleta de insectos . Puta que os p…

Limpo o capacete e arranco ou, por outras palavras, invisto contra a soalheira, tão rija que faz calar as cigarras (como diria Aquilino Ribeiro).

CAIA.

É na fronteira desolada (edifícios do Estado abandonados e comércios fechados) e cada vez mais simbólica (apesar da propagação dos populismos por essa Europa fora) que começa a E-90/A-5, uma via idêntica a qualquer autoestrada nacional. A única diferença é o preço: é gratuita.

BADAJOZ.

E a seguir? Podia enveredar já pelas estradas secundárias, mas não o faço apesar de serem as mais interessantes porquanto permitem descobrir um país quiçá desconhecido e «escutar o canto dos pássaros». 

A natureza disciplinada acompanha os grandes eixos rodoviários, aqui como em Portugal. 

As aldeias antigas e vazias, desertas de gente, por estas bandas, proliferam dos dois lados da raia.

A 120, a velocidade legal (a CB 1100 só dá 190), chego rapidamente ao El Torero.

LOBÓN.

A via rápida passa perto da vila, situada a 35 quilómetros (praticamente a meio caminho entre Badajoz e Mérida). A escassa circulação rodoviária em Portugal  sobretudo de camiões e carrinhas  contrasta com o movimento daqui. E as velocidades praticadas.

El Torero está fechado. O café é estupendo e o patrão uma pessoa afável. É, quem sabe, um filósofo. A mensagem pintada em letras garrafais no espelho diante do balcão é peremptória: «Por muito alta que seja uma montanha, há sempre um caminho até ao cimo. Tudo é muito difícil antes de se tornar fácil.» Do outro lado do pilar, meio escondido, acrescentou: «O segredo está na vontade.»

Acabo por ir parar à esplanada do café/lar da vila. As veredas da vida estão muitas vezes onde menos as procuramos. Os velhotes sentados à minha volta conversam ou dormitam, tanto faz, aninhados nas recordações ou no esquecimento.

TRUJILLO.

No cimo de um prédio arcaico ou decrépito da Plaza del Campillo, a passarada encastelada bate asas e some-se. À hora do crepúsculo cada qual acoita-se onde pode. Empurro a porta do Hotel Victoria. Fico no quarto 109. O 110 é mais bonito, mas está ocupado.

Deambulo, vagueio para matar o tempo e apaziguar a memória atordoada. Somos todos iguais, regemo-nos pela mesma cartilha. Discorremos como armaduras vazias e mutilamos o sentir, com trapaças ou futilidades, tornando-o inexprimível.

Tienda de Isidro – Chorizos Caseros fica no outro passeio, paredes meias com o Hostal – Restaurante Julio.

O lugar está mergulhado na obscuridade. Dou as boas tardes. Uma cliente bem-parecida observa algo numa prateleira. Um velhote, magrinho, ágil, que arruma latas, mete conversa comigo. É o pai de Isidro, o dono. Tem 90 primaveras ou outros tantos invernos. Faz parte dos encontros improváveis. Conta-me que foi operário da construção civil e que agora passa as tardes no estabelecimento. E que só arreda pé na hora do fecho.

— E de manhã? — indago.

— De manhã, estou no mercado.

Isidro confirma com os olhos as palavras do pai.

— Temos óptima patatera…

— Estou mais interessado no queijo do que nos enchidos… — informo.

— Tenho um curado de cabra, aqui, da Estremadura que é fenomenal…

Duas velhotas descoradas, trajadas de negro, passam diante da porta. Parto.

— Há alguma livraria em Trujillo? — pergunto por perguntar.

A da esquerda acena que sim. A outra nem por isso.

— Só temos uma. É na Calle Tiendas. É antes de chegar à Plaza Mayor. Fica no lado direito de quem sobe…

Agradeço a resposta ou a doçura do tom. A doçura das espanholas é uma realidade.

— E como é que é a vida aqui?

— Há cada vez menos gente em Trujillo. Já não há trabalho. Os jovens partem para as grandes cidades e para o litoral, que são o futuro…

— São? — pergunto como quem não quer a coisa.

Elas não respondem. Limitam-se a sorrir. É um recado silencioso: lamúrias e queixumes não é com elas. Ou com os velhos…

«A velhice é isto: ou se chora sem motivo, ou os olhos ficam secos de lucidez», escreveu Torga.

Instalo-me num mesón que conheço perto da Plaza Mayor (a da estátua de Francisco Pizarro, conquistador do Perú). Peço migas. Já comi melhores, designadamente num restaurante perto dos bombeiros de Grândola. Cada região da península ibérica tem as suas. Desde sempre ou quase… já que a gastronomia resiste ao tempo e à distância.

As ruelas esguias e acanhadas do lugarejo estão desertas, mas aquilo que  incomoda mais é o silêncio. É a mudez ensurdecedora dos manequins clonados tristes que nos macaqueiam nas montras e nos escaparates.

O sol peneirado invade o quarto. Espreguiço-me, espreguiço-me, espreguiço-me. Como quando era puto. Depois do duche e do pequeno-almoço na cafetaria, subo ao castelo, compro um livro («Tecleo en vano» de Pilar Galán, Editorial de la Luna Libros, Mérida) e visito uma capela esplêndida porquanto os palácios aristocráticos continuam a ter dono…

A meio da manhã, arranco de luto na alma. Isto é muito mais do que uma mera viagem improvisada: é uma peregrinação, amarga e solitária, feita de memórias desarrumadas, de saudade e de mais saudade. Penso muito no meu pai, que partiu há dias. Não me habituo. Jorge Araújo «partiu» porque as pessoas só morrem mesmo quando deixamos de pensar nelas.

«A minha alegria em velho consistiria em ter aqui meu pai para falar com ele. Não é só saudade que sinto: é uma impressão física. Agora é que acharia encanto até às lágrimas em termos a mesma idade, conversarmos ao pé do lume e morrermos ao mesmo tempo…» Palavras do imenso Raul Brandão em 1908 e que permanecem actuais. Para mim, claro…

TALAVERA DE LA REINA. 

Estaciono à frente do restaurante El Monasterio (na Avenida Real Fábrica de Sedas, 3 – Ronda Sur). Subo seis degraus, ocupo a única mesa vaga da esplanada e encomendo leitão assado (cochinillo). O Tejo, alheio aos ruídos do mundo, corre tranquilo, ali à minha frente.

Para fugir dos camiões e dos carros dos caixeiros-viajantes, abdico do caminho mais curto para Madrid. Dou preferência a uma estrada municipal que vai para Norte. É menos frequentada e, lá ao longe, dá para acompanhar a linha da Sierra de San Vicente (Cerro de San Vicente: 1.321 metros).

NAVAMORCUENDE. 

Após Cervera de los Montes, Marrupe e Los Jarales (um complexo de turismo rural para famílias numerosas com animais e para casais felizes) subo a encosta (770 metros) e entro (pela CM-5006) no município.

O encanto do lugar é relativo. Devidamente decepcionado, chego à arreliadora conclusão de que a igreja é a única salvação de Navamorcuende. 

Tomo um café morno. E parto como cheguei: com sossego e sem esperança. Madrid fica a 126 quilómetros (M-501). Serão mais duas horas a arder de solidão amorfa entre montes e vales…

MADRID.

É uma cidade incrível. E é ainda — ao contrário de Lisboa — uma capital europeia. Continuo a deslumbrar-me com as suas avenidas, praças, jardins (estou a pensar no parque del Buen Retiro) e nas esplanadas (como a do Cinco Jotas na Jorge Juan – C/ Puigcerdà, s/n). E com a movida. Os espanhóis podem ser danados, mas são acolhedores, alegres, menos formais e bem mais cojonudos do que nós.

Despeço-me de Madrid. E, do mesmo modo, das minhas intenções gastronómicas: jantar no galego O’Grelo (C/ Menorca, 39). Desta vez, não fico no Petit Palace Savoy Alfonso XII (C/ Alfonso XII, 18, Retiro – Puerta de Alcalá), não compro livros na Pérgamo (esquina da C/ de Lagasca com a do General Oráa), não…

Depois da peleja impossível para escapar ao tráfego madrileno sigo para Guadalajara (recordo que a autoestrada com portagem é a pior solução!) e chego lá em menos de uma hora.

GUADALAJARA.

Preciso de procurar o Norte. Tudela? Tudela soa-me a caça e pesca e a Bardenas Reales (um parque natural selvagem e semi-desértico).

Decido ir em direcção a Tudela. Percorro a E-90/A-15/CL-101 (256 quilómetros de desolação monótona) ou a E-5 (337)? Hoje é a vez da primeira, que margina a aridez. Coincide com o meu estado de espírito. A E-90 será pois o meu miradouro para a outra Espanha. E a admirável terra sacrossanta de que(m) eu gosto é estimulante até nos seus mais ínfimos recantos. O desabafo é sincero, mas não me levem a sério. E não me peçam lucidez. O calor embrutece e embriaga…

Paro num saloon de «moteros» no meio de nenhures. Feitas as saudações da praxe, entro e bebo uma água suja do imperialismo norte-americano, vulgo cola. Pago na caixa à saída – a troco da entrega de um papelinho manuscrito.

«Na minha terra sou quem sou; na terra alheia sou quem vou», reza o ditado popular…

TUDELA. NA-8703. 

Os candeeiros da ponte sobre o barrento rio Ebro são iguais aos de Lisboa. E se não são, parecem. O centro da cidade é à esquerda. Como há coincidências (apesar de Fernando Pessoa não acreditar), desrespeito a sinalização. Todas as inépcias vão dar ao mesmo…

CADREITA.

Cinco da tarde. Está mais do que visto: é aqui que fico. A intuição raramente nos engana. Procuro a pensão. Desgraçadamente, La Casa de la Abuela (Calle Aralar, 2, Cadreita, Navarra) está fechada a sete chaves. Milagre crucial: descubro um contacto atrás do toldo esverdeado que tapa a porta. Ligo.

— Podes ocupar o quarto 3, cariño… — diz-me dona Esperanza, solicíta.

— Pois… mas como é que eu entro? ¬— indago.

— É fácil…

— E a mota?

— Pode ficar na rua. Aqui ninguém mexe no que é dos outros…

— Mas eu não estou habituado a esse regime…

— Falamos às sete. Não te preocupes…

— Ya veremos...

Louvo Deus. Entro. Esperanza é uma optimista genuína que conseguiu preservar o que as gentes do interior têm de bom. Coloco a mochila, o capacete e as luvas no meu quarto. Está uma tarde bonita. Em desespero de causa, entro no primeiro bar que encontro.

Triángulos (C/ Bardenas, 37) dá para aconchegar a alma e matar a sede. E o espaço é hospitaleiro.

— Hola! — dispara o dono.

— Buenas tardes…

O Triángulos

Sensação estranha: sou um perfeito forasteiro aqui, mas sinto-me como em casa. Há encontros felizes. Falamos de Pamplona (a capital da fiesta taurina de San Fermín, narrada, designadamente, por Hemingway em Fiesta) e de Arguedas, a povoação das imediações, conhecida sobretudo pelo deserto e as suas cuevas, autênticas cavernas escavadas na falésia, que chegaram a estar habitadas nos séculos XIX e XX.

O convívio é cordial, mas ficar aqui parado ou quiçá pasmado não me interessa. Devoro duas excelentes omoletes com presunto e vou deitar-me. Mas só depois de arrumar a moto no pátio da cunhada de dona Esperanza, claro.

CADREITA.

Às 10 parto para Arguedas. Na rotunda ao fundo da rua, dou com Milagro (milagre, em português). Confesso que depois de Esperanza e de Milagro sinto um misto de curiosidade temperada de esperança apesar de crer que o pretenso destino é coisa que não existe.

ARGUEDAS.

Comarca de Ribera Navarra. 2.400 almas. Percorro a vila em segunda. Os vecinos idosos sentados num banco ao pé do cemitério fitam-me com olhos de espanto. Sorriem. Saúdo os velhotes com um gesto da mão.

Arguedas, Navarra

De um lado, a planície do rio Ebro, os soutos e os arrozais. Do outro, a Sierra del Yugo e a Bardena Blanca. Independentemente das tentações, há terras luminosas onde não me importava de viver. Se Arguedas tivesse mar ou chovesse mais esta seria uma delas. Há serenidade aqui. E pena, sabe-se lá…

Calle la Peña – Arguedas

A igreja paroquial de San Esteban (dos séculos XVI e XVII) está encerrada. Ignoro a liturgia. Desato com imprecações sonoras. Porque necessitamos do sagrado?

CADREITA.

Um duche. Um copo no bar. E dois dedos de conversa com dona Esperanza sobre o jornalismo de guerra e a solidariedade (ou a ausência de solidariedade) e a desistência moral. O resto é conversa de desbocado que não interessa…

Arguedas – Las Bardenas Reales, território árido e semi-desértico.

IRUN.

Esta manhã, parto para França. Opto pela estrada nacional, que passa por Pamplona. Padeço tormentos com o frio e a chuva miudinha nos Pirinéus.

Os redutos separatistas continuam a ser uma realidade mesmo em lugares recatados do País Basco. Mas não há tempo para questionar identidades.

Pirinéus

HENDAIA.

Os engarrafamentos propiciados por ridículas limitações de velocidade sucedem-se e repetem-se para mal da minha paciência.

Fronteira

CIBOURE.

Paro na primeira padaria que encontro. Papo um croissant (de manteiga, se faz favor!).

BAIONA.

É uma cidade bonita, preservada. Mas a prioridade é visitar o cemitério (obviamente privado) judeu. Muitos judeus de Baiona eram oriundos de Portugal. Nos editais da monarquia francesa eram denominados, aliás, a «Nação Portuguesa». Tinham o seu próprio bairro, Saint Esprit. Hoje, já ninguém dá pela sua presença…

Compro chocolate belga e um ensaio do filósofo francês Michel Onfrain (Zéro de Conduite, Editions de l’Observatoire, França) sobre o bando de jornalistas sem olfacto a soldo de Maastricht e do político Emmanuel Macron, inventado pelos media e o mercado. A decomposição do jornalismo e da democracia está em marcha…

PAMPLONA.

Decido regressar a Lisboa pelo mesmo caminho. E hoje. São 1.016 quilómetros. Com este calor, a indolência deixa de ser defeito.

LISBOA.

Sol sem calor. A ponte sobre o Tejo é a minha fronteira. Circulo na faixa do meio porque no meio é que está a velocidade. 

Penso que por muito que me esforce não vou escapar à saudade antecipada da minha próxima peregrinação: Santiago de Compostela para jantar com o meu amigo Xosé Manuel Pereiro (da revista LUZES) na Casa de Xantar (onde se fala, aliás, português!) O Dezaseis.

 Apertas, meu.


Reportagem originalmente publicada no site Autoportal, já inactivo

Fotos de Rui Araújo


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