Correio Mercantil foi um periódico brasileiro do século XIX (1848-1868), onde o grande Machado de Assis deu os seus primeiros passos. Pareceu assim oportuno ao PÁGINA UM, no contexto da actual mercantilização da imprensa portuguesa, ‘contratar’ o protagonista do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas para umas epístolas semanais. Hoje, o piparote de Brás Cubas vai para a Professora Rita Figueiras pelas culpas às redes sociais sobre um ‘caso’ inicialmente noticiado pela imprensa respeitável como uma queda do palco de Trump.
Ouvir – ou, neste caso, ler – uma professora universitária é um acto que se deve praticar com a dilgência de um Janjão, daquele filho de 21 anos que, em incerto lugar brasílico na noite de 5 de Agosto de 1865, pelas 11 horas, auscultou os ensinamento de seu pai, de sorte a, sem grande esforço das meninges e com devida protecção contra dissabores, alcançar postos elevados. Pode ser sempre que se fixe, em nós, umas quantas figuras expressivas, umas sentenças latinas, uns ditos históricos, uns versos célebres, uns brocardos jurídicos, umas máximas, que sempre bom aviso será trazê-los connosco para discursos de sobremesa, de felicitação, ou de agradecimento, que nos possam tornar uns excelsos e bem-sucedidos medalhões.
Por isso, depois de uma leitura da instrutiva e enriquecedora Teoria do Medalhão, de um tal de Machado de Assis, aconselho-vos a sugarem a opinião – que digo!, factos, são factos! –, da professora – que digo!, que digo! Professora – Rita Figueiras, que no Público dissertou, a pretexto do atentado contra Trump, sobre “a morte da verdade”.
Se sacaram os soundbites da Senhora Professora – que digo!, antes devo dizer, Vossa Excelência Professora Doutora –, que ali tão bem expõe, podem depois papaguear uma tese sobre as origens e consequências da “crise epistémica na democracia” – só o facto de decorarem este termos vos acrescentará pontos de valimento –, e sem colocar o intelecto em movimentos independentes, e com soberba e bons préstimos, arremeter em força na seguidura do ambicionado posto de medalhão. Ela, assim já fez, e assim chegará longe – e vós, atrás.
Fixem o que escreveu Vossa Excelência Professora Doutora, que aqui separo em frases para melhor apreensão – ou compreensão.
“O ambiente digital é avesso à disciplina da verificação, e a destruição da noção de que existem factos é mais uma prova de que tudo se tornou uma questão de opinião”.
“As alegações falsas e conspirativas, que fluem livremente pelas redes sociais e contaminam o trabalho jornalístico, contribuem para pôr tudo em causa”, Vossa Excelência Professora Doutora Rita Figueiras scripsit.
“Este ambiente é, igualmente, promovido por figuras institucionais da política americana que emitem, espalham e alimentam perspetivas enganosas do sucedido”, Vossa Excelência Professora Doutora Rita Figueiras scripsit.
“E nas próximas semanas vamos continuar a assistir a uma escalada incessante da guerra de significados sobre o que aconteceu, movida por ódio, ressentimento e intransigência”, Vossa Excelência Professora Doutora Rita Figueiras scripsit.
“Neste contexto, a possibilidade de estabilizar um entendimento comum em relação ao ataque parece impossível”, Vossa Excelência Professora Doutora Rita Figueiras scripsit.
Enfim, se decorarem os doutos oráculos da Professora Rita Figueiras farão sempre um brilharete. Não certifico que vereis a queda das muralhas de Jericó ao som das trompas sagradas nem vos assevero que triunfareis para entrar na Terra Prometida, mas abrir-se-vos-ão as portas para uma profícua colaboração como opinion maker em qualquer jornal. Julgar e culpar as redes sociais passou a desporto, e sempre soará melhor ao vulgo zurzir em tudo o que se determinou ser mau do que açoitar quem, na verdade, tendo o dever de confirmar antes de publicar, não o faz.
Até para a semana, e um piparote.
Brás Cubas
N.D. O título Correio Mercantil é uma marca nacional do PÁGINA UM em processo de aprovação de registo no Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Quanto ao nome do autor (Brás Cubas), será o pseudónimo usado em exclusivo por Pedro Almeida Vieira nestas crónicas, constituindo apenas uma humilde homenagem a Machado de Assis e ao seu personagem. Tal não deve ser interpretado como sinal de menor rigor na análise crítica que aqui se apresenta, independentemente do caracter jocoso, irónico ou sarcástico.
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