Desde Dezembro de 2021, numa ciclópica actividade jornalística, tenho liderado este projecto inovador que é o PÁGINA UM. De uma forma independente, audaz e inconveniente, noticiamos aquilo que a imprensa mainstream não quer ou até esconde. Fomos até inconvenientes, e destapámos os podres de grupos de media, como a Global Notícias e a Trust in News, ou as promiscuidades intoleráveis de outros, com mistura de conteúdos comerciais e jornalísticos.
Ousámos abordar temas que ‘queimavam’ em 2021, como a pandemia, denunciando negociatas, compadrios entre ‘peritos’ e farmacêuticas, o conluio da imprensa, o obscurantismo e manipulação da Administração Pública e do Governo em relação à informação.
Enfrentámos, num país que faz de conta viver numa democracia, os poderes instalados que impedem o acesso à informação. E já apresentámos mais de duas dezenas de intimações no Tribunal Administrativo. Ganhámos mais de metade, há outros em decisão; alguns casos perdemos. Enfrentámos e ganhámos até ao Conselho Superior da Magistratura, malgrado não terem ainda cumprido um acórdão que lhes foi desfavorável (uma vergonha num Estado que se diz democrático). Enfrentámos mesmo as entidades que nos tutelam por atitudes de obscurantismo-mor. Procurámos testar a democraticidade e a abertura á informação, e mesmo quando perdermos (como sucedeu com o Banco de Portugal, Infarmed [num caso, já que ganhámos em outros], o Ministério da Saúde ou a Presidência do Conselho de Ministros, serviu para demonstra que estamos longe de uma democracia amadurecida.
Publicámos mais de 2.500 notícias, entrevistas, artigos de opinião, entrevistas, recensões de livros, podcasts – tudo isto uma redacção perfeitamente minúscula (hoje constituída por dois jornalistas) e um bom punhado de colaboradores ‘pro bono’, que nos ajudam com artigos de opinião ou na função de administração do site.
E tudo isto fizemos com os nossos magníficos leitores e sobretudo apoiantes. Tem sido uma profunda bênção – um milagre num país como Portugal – que algumas centenas de pessoas, grande parte das quais nem sequer conhecia (e continuo sem conhecer muitos) nos concedam apoios financeiros. Conseguimos dois anos completos (caminhamos para o terceiro), completamente independentes de parcerias comerciais e publicidade, e mantendo o jornal de acesso livre. Abrimos há algumas semanas a possibilidade de apoios pontuais, e dentro de determinados limites, de empresas.
Tenho a perfeita noção do serviço público que o PÁGINA UM tem feito – e mais aquele que virá a fazer.
Mas há situações em que se tem de assumir uma mudança de estratégia, sob risco de colapso, incluindo físico. O PÁGINA UM, para a sua dimensão actual, tem as suas contas equilibradas – sem esse aspecto não há independência possível. Mas vive – eu vivo – num perfeito labirinto. O volume de potenciais investigações não pára de aumentar, e tem sido crescente o sacrifício pessoal e, por vezes, a frustração de ver notícias ‘fugirem’, de oportunidades que se esfumam. Por exemplo, aguardo ainda tempo e disponibilidade para analisar e escrever um levantamento exaustivo (feito a partir da base de dados da Agência Europeia do Medicamento, que demorou dias) sobre as reacções adversas das vacinas contra a covid-19.
Há investigações que se perderam, à medida que outras nascem, mas que perdem a oportunidade em breve, se não houver tempo para uma investigação suplementar, para a qual não há tempo. Ainda hoje, deparei-me com estranhos contratos da Universidade Nova de Lisboa e do Conselho Português para os Refugiados. Necessitariam de investigação: não teremos pelo menos até quarta-feira.
Acresce a tudo isto que estou a fazer um doutoramento – que está atrasadíssimo.
Tinha a esperança, ao longo destes dois anos e meio (já são quase 1.000 dias), de o PÁGINA UM crescer em número de jornalistas, tornando assim a redacção com uma dimensão suficiente para não me obrigar a dedicar tanto tempo a desvendar assuntos, a escrever investigações jornalísticas, a paginar e editar artigos, a fazer entrevistas, a falar com colaboradores e fontes, a programar a agenda, a fazer a própria gestão administrativa do jornal.
Em dois ano e meio, não conseguimos a dimensão desejada – e a culpa não é dos nossos apoiantes, que já fazem muito; tem a ver com a dimensão do país, com a pertinência e valorização do que fazemos. É a realidade – e, por muito que nos custe, a realidade é soberana. Uma coisa é certa: nunca me passou pela cabeça contratar jornalistas a quem não pudesse depois pagar. Além disso, nem sequer tenho/ temos tido tempo para desenvolver contactos com projectos similares ao PÁGINA UM para diversificação de financiamentos verdadeiramente independentes (sem ser através de fundações e organizações com agendas pré-determinadas).
O PÁGINA UM está assim num labirinto: o actual modelo tem as contas equilibradas, mas é fisicamente impossível mantê-lo ou alterá-lo (contratando mais pessoas) para me permitir mais ‘folga’.
Por estes motivos, a partir de Agosto – e por tempo indefinido, mas que espero seja curto –, o PÁGINA UM vai passar a ter apenas uma edição quinzenal. Ou seja, deixamos de ter notícias e artigos diariamente, e passaremos a actualizar integralmente o conteúdo do site apenas duas vezes por mês, sendo que a primeira será previsivelmente no dia 9 de Agosto.
Significa assim que, quinzenalmente, teremos uma nova edição com uma manchete e mais oito notícias, um editorial, as (já) habituais rubricas de Serafim e Brás Cubas, seis artigos de opinião e diversos conteúdos de Cultura, incluindo as recensões, contos e duas entrevistas com escritores.
Espero que possam compreender a opção por esta ‘modalidade’, sendo certo que compreenderemos se os nossos actuais apoiantes possam, de alguma forma, sentir-se defraudados, e com isso nos deixem de apoiar. Fizemos/ fiz tudo aquilo que era humanamente possível.
Apenas uma garantia: esta modalidade quinzenal não alterará a qualidade e a independência do PÁGINA UM. Nunca aceitaria dar esse ‘bónus’ a quem deseja que este jornal desaparecesse. Retomaremos a frequência habitual quando e se as circunstâncias se modificarem.
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