Fique culto neste Verão

O equívoco minimal-repetitivo da citação sistematicamente atribuída a Darwin e que não é de Darwin

por Clara Pinto Correia // Agosto 8, 2024


Categoria: Opinião

minuto/s restantes

…E QUE, AINDA POR CIMA, ACABOU POR TER RESULTADOS DESASTROSOS


A hereditariedade é governada por tantas leis ou condições desconhecidas
que até parece agir de maneira caprichosa.

Charles Darwin


Fique culto neste Verão

ESTE SABER VAI OCUPAR UM LUGAR COMPLETAMENTE VAZIO

A partir do último livro de Charles Darwin, THE ASCENT OF MEN & THE SEXUAL SELECTION

No contexto de uma nova tradução, revista e comentada, de todas as obras de Darwin, que entrará em publicação a partir de Dezembro de 2024 na editora Exclamação


“Uma Casa de Gosto é uma casa de bom gosto, onde todas as coisas são um reflexo de pensamentos refinados e desejos castos. Num tal lar, a Beleza preside à educação dos sentimentos, o intelecto é aperfeiçoado, e a natureza moral é depurada através dos apelos silenciosos da Natureza e da Arte, que são os alicerces do Gosto.[1]

James Shirley[2] Hibberd, em RUSTIC ADORNMENTS FOR HOMES OF TASTE: CONTAINS SUGGESTIONS FOR THE FLORAL EMBELLISHMENT OF THE HOME, THE GARDEN, BALCONY, WINDOW, GREENHOUSE AND CONSERVATORY: WITH HINTS ON THE FORMATION AND MANAGEMENT OF FRESH-WATER AND MARINE AQUARIUMS, VIVARIUMS, ETC. Desde cerca de 1855 até à publicação em Oxford de todos os fascículos num único opúsculo de capa dura, em 1895.


Antes de mais nada, há um herói da cultura e das belas causas que pode ser uma criatura algo irritante, mas para todos os efeitos é a grande estrela desconhecida desta história. O britânico Herbert Spencer, um dos grandes representantes do liberalismo clássico do seu tempo, nasceu em 1820 e morreu em 1903. Destacou-se a vida inteira enquanto notável opositor dos governos militares e autoritários, do colonialismo, do imperialismo, e de qualquer forma de guerra. Além disso, aplicou à sociologia ideias que eram próprias das ciências naturais, por forma a criar um sistema de pensamento que foi muito influente na sua época. As conclusões dos seus estudos levaram-no a defender a primazia do indivíduo perante a sociedade e o Estado, e a Natureza como fonte da verdade, incluindo a verdade moral. No campo pedagógico, Spencer fez uma verdadeira campanha pelo ensino escolar da ciência, combateu a interferência do Estado na educação, e afirmou que o principal objetivo da escola era a construção do caráter[3].

As suas cruzadas filosóficas foram sempre extremamente populares, e os números resultantes falam por si. Enquanto a maioria dos filósofos não consegue atingir muitos seguidores fora do grupo de colegas de profissão, entre 1870 e 1880 Spencer tinha alcançado uma popularidade sem precedentes. Foi provavelmente a primeira, e talvez a única vez na história, que um filósofo vendeu mais de um milhão de cópias de seus trabalhos durante a sua vida.


Não se trata aqui de um mero fenómeno de vendas, mas, muito provavelmente, de um verdadeiro benefício para a humanidade. Nos Estados Unidos, onde as edições piratas ainda eram comuns, a sua editora autorizada, a Appleton, vendeu 368.755 cópias entre 1860 e 1903. Este valor não difere muito das vendas na sua Inglaterra natal, e, quando adicionamos as edições do resto do mundo e o das edições pirata, o valor de um milhão de cópias parece ser uma estimativa conservadora. Como observou o filósofo e psicólogo americano William James,[4] Spencer “ampliou a imaginação, e libertou a mente especulativa de inúmeros médicos, engenheiros, advogados, físicos, químicos, e dos leigos em geral“. A parte do seu sistema de pensamento que enfatizava o autoaperfeiçoamento do indivíduo encontrou um público imediatamente interessado na classe trabalhadora qualificada.

Vale a pena notar, aliás, que o endeusamento da Natureza, que poderia ter sido escandaloso em tempos anteriores, e pode parecer-nos legitimamente ridículo hoje, é uma das posturas mais características dos intelectuais da segunda metade do século XIX, sobretudo nos Estados Unidos. Veja-se, por exemplo, toda a comunidade de pobres voluntários que escolheu viver em contacto estreito com a Natureza em torno do Lago Concord, no Massachusetts. Foi nesta comunidade que Louisa May Alcott escreveu, entre muitos outros, o seu quase autobiográfico MULHERZINHAS. Foi também aqui que o respeitadíssimo Ralph Waldo Emerson, considerado o grande expoente do Transcendentalismo, escreveu o livro A NATUREZA, que viria a ter uma influência impressionante sobre os jovens do seu tempo. Considerando a Natureza a fonte da verdade Herbert Spencer está, portanto, a reproduzir em Inglaterra muito do que foi escrito nos ensaios e poemas americanos, surtindo desde logo o mesmo impacto sobre o público, sobretudo o público mais jovem.

Como era próprio da época, Spencer teve várias especializações: foi antropólogo, filósofo e biólogo. Nesta última condição, tornou-se um profundo admirador da obra de Charles Darwin. Depois de ler A ORIGEM DAS ESPÉCIES, decidiu escrever um livro em que estabeleceria diversos paralelismos entre teorias económicas e teorias biológicas.

Para isso, evidentemente, era preciso que todos os leitores conseguissem compreender sem esforço as teorias biológicas – uma vez que as económicas, essas, para o efeito a que se destinavam, não levantavam qualquer problema.

Spencer não demorou muito tempo a reparar que é extremamente difícil explicar aos leigos que, tal como Darwin parecia postulá-la, a seleção natural funciona, ao que parece, e se não é bem assim é qualquer coisa deste género,

pela sobrevivência do conjunto de mutações que, completamente por acaso, estão melhor adaptadas à transformação ambiental seguinte, sendo que ninguém pode prever que transformação vai ser essa, pelo que nunca é possível prever que mutações é que vão ser favoráveis para cada espécie; e uma espécie beneficiada num determinado contexto pode ser prejudicada logo a seguir por mudanças de contexto que também não podemos anticipar

Portanto, temos aqui um grande problema. É importante que as pessoas percebam como é que funciona a evolução; mas, se vamos tentar explicá-la através da selecção natural, vamos mantê-las permanentemente confusas.

Com todo o seu treino de Filosofia, Psicologia, e Comunicação acessível até aos menos dotados, Spencer refletiu muito sobre este dilema, à procura de uma fórmula simples, de preferência uma única frase de uma única oração, que permitisse a toda a gente entender imediatamente como funciona a selecção natural, sem necessidade de mais explicações.

Não sabemos durante quanto tempo andou às voltas com o problema da simples frase.

Mas sabemos que conseguiu arranjá-la.

Querem saber como é que a evolução funciona, é?

Pois bem, é muito simples: a evolução funciona pela sobrevivência do mais apto.

a white butterfly sitting on top of a green plant

Foi assim que a selecção natural apareceu descrita em 1864 no livro de Spencer PRINCIPLES OF BIOLOGY, que o autor se apressou a autografar e enviar ao seu Grande Herói Intelectual Charles Darwin.

Darwin, no entanto, achava a Biologia de Spencer “pouco útil”, e comentou uma vez, sigilosamente, ao seu grande amigo e colega de Geologia Sir Charles Lyell[5], que tinha uma certa dificuldade em ler todos aqueles best-sellers por causa do seu “estilo detestável”.

Consequentemente, tudo isto poderia ter-se ficado pelas páginas de um autor vitoriano de best-sellers científicos que agora ninguém recorda (os tais momentos de lugar ao sol que depois se somem no nevoeiro de que falava Charles Dickens exactamente nessa altura), se não fosse Alfred Russell Wallace. Este homem, que não conhecia Darwin de lado nenhum e chegou à teoria da origem das espécies precisamente ao mesmo tempo do que ele, publicou o seu trabalho separadamente e nunca mais deixou de trocar correspondência com o colega miraculoso. Cada um deles usava terminologia diferente, e Wallace já protestara várias vezes antes contra o termo darwiniano “selecção natural” porque, na sua opinião, era uma escolha de palavras que implicava que a existência de um “selecionador inteligente” com “pensamento e direcção” era fundamental no processo, quando na realidade o processo era totalmente aleatório, como ambos sabiam – mas os leitores com menos formação ficavam frequentemente confusos. Numa longa carta datada de 1866, Wallace pede então repetidamente a Darwin que experimente minimizar essa confusão utilizando antes “o termo de Spencer” – a saber, “a sobrevivência do mais apto”.

Mesmo sem gostar nem do termo nem da prosa de Spencer, Darwin não se furtou à experiência. Um pouco às apalpadelas, introduziu “o termo de Spencer” no seu VARIATIONS OF ANIMALS AND PLANTS UNDER DOMESTICATION de 1868, o seu livro mais volumoso de sempre[6]. Por fim, em 1869, chegou mesmo ao ponto de polvilhar com alguns “a sobrevivência” do mais apto” a sua quinta edição de A ORIGEM DAS ESPÉCIES, mas sempre, e fundamentalmente, enquanto auxiliar e explicação de “seleção natural”, um termo bastante mais complexo mas inescapavelmente necessário, uma vez que, tal como o autor nunca se cansou de insistir,  a evolução é um processo sem vitórias: os vencedores da  “luta pela existência[7]” (um termo que Darwin foi buscar ao economista e demógrafo inglês Thomas Malthus) podem tornar-se os vencidos se as circunstâncias mudarem. Por exemplo, a evidência fóssil indica que o Mamute Peludo estava perfeitamente adaptado durante a última Idade do Gelo, que acabou há cerca de 11.700 anos – mas tornou-se cada vez menos adaptado à medida que o clima foi aquecendo e os humanos aprenderam a caçá-lo cada vez melhor. Finalmente, a mesma evidência fóssil indica que este colosso terá sido dado por extinto alguns milhares de anos mais tarde.

Por esta altura, a introdução na linguagem científica da “frase de Spencer” já não causava estranheza a ninguém, gostasse-se dela ou não: toda a gente admitia que, mesmo que pudesse dar uma imagem um tanto ou quanto desfocada da selecção natural darwiniana, tinha o seu lugar justificado na literatura como forma de simplificar o entendimento do público mais generalista. E, naquela época, naquele meio, educar cientificamente o público laico era mais do que um dever: era uma missão quase sagrada a que ninguém que soubesse do seu ofício quereria furtar-se.

E foi assim, com a circulação incessante de obras e palestras destinadas à educação do público, que o chamado “darwinismo social” pôs a cabeça de fora.

brown and black iguana on gray rock

Aplicado exclusivamente ao ser humano, e baseado sem mais complicações na “frase de Spencer”, o “darwinismo social[8]” defendia o que já se consegue imaginar daqui: que há pessoas melhores e pessoas piores, e é apenas justo, porque apenas normal e cientificamente justificado, que as piores morram e as melhores triunfem.

Regressemos, por exemplo, ao louvor que Shirley Hibberd fez em fascículos durante a segunda metade do século XIX, com um sucesso tão grande que foi a própria Universidade de Oxford a tomar a iniciativa de juntá-los a todos num único livro de capa dura. Tal como os fascículos que o antecederam, o livro está cheio de desenhos demonstrativos dos vários conceitos que o autor vai desenvolvendo, todos eles indiscutivelmente belos e apelativos. Todos esses desenhos foram feitos pelo próprio Shirley, na sua campanha de demonstração de como a Beleza exterior do jardim condicionaria a Beleza interior da casa – e, com ela, a Beleza e a Felicidade das famílias aí residentes.

Note-se que Shirley foi o grande e reconhecido pioneiro da jardinagem ao ar livre em grande escala, e com grande beleza, requerendo para o efeito um enorme esforço de manutenção – e tudo isto pelas suas próprias mãos. Toda a gente admirou não só o desenho dos seus jardins mas também a sua energia, aparentemente inesgotável. Mas nem toda a gente tinha qualquer espécie de interesse em ir lá para fora expor-se aos elementos (passando-se esta história em Inglaterra, deduz-se que estaria a chover quase todos os dias…) por causa de um jardim, cujo desenho, plantação, e abertura de estradas planas, de areia lisa, onde pudesse passar um automóvel, bem como pequenos caminhos de grandes pedras que pareciam ter-se encostado assim umas às outras completamente por acaso, para não falar do grande lago plácido com mesas de chá e de cartas, toldos, e encantadoras aves exóticas, poderia encomendar a Shirley – e depois pagar mal a uma série de empregados, oferecendo-lhes péssimas condições de trabalho, para manterem o seu Louvor à Beleza a funcionar de noite e de dia, melhor ainda do que VERSAILLES, para não dizer nada daquele famoso JARDIN LES DÉLICES, da famosa grande musa e mecenas Madame de Chatelêt, onde indivíduos como Voltaire e Rousseau se abrigavam para recuperarem as forças entre duas grandes batalhas da razão contra a reacção bruta, e depois se reuniam para jantar com vários outros pares interessantes que ali acorriam a convite da anfitriã, debatendo os grandes temas do momento com a mais requintada ironia e deliciosas exposições ao ridículo dos seus adversários. Entretanto, como num milagre, dezenas de tochas balsâmicas iluminavam a noite, seguradas tranquilamente, mas com grande dignidade, por jovens “de pele e feições vagamente africanas, e com enormes olhos claros, rasgados, mesmo no sorriso semelhantes aos olhos da serpente, e mais hipnóticos ainda do que os do animal. Submeti-me por mais do que uma vez à experiência quando estava pronto para ir dormir, e não posso dizer que conheça outra minimamente mais agradável.[9]” A avaliar pelas amostras de correspondência recolhidas entre vários dos membros destes jantares, parece que os comensais também eram frequentemente maravilhados por rapazes bonitos, musculosos, cuidadosamente selecionados pela sua pele morena e estatura elevada, que dançavam para eles “terríveis danças de guerra, provavelmente comparáveis às dos machos que se exibem para conquistar uma fêmea.[10]

É assim que o darwinismo social separa as águas: quem tem meios para manter sempre a funcionar o seu jardim magnífico está no topo da pirâmide evolutiva  e deve considerar-se mais apto com toda a justiça; enquanto que quem não tem meios para assegurar a presença, em torno de sua casa, de um jardim digno desse nome, está algures mais abaixo na pirâmide, vê-se obrigado a trabalhar sem descanso no jardim dos outros para conseguir sustentar a família, que já agora tende a ser cada vez mais, à medida que a escala da pobreza desce pelo interior da pirâmide, uma família em que a mulher fica envelhecida e encovada muito depressa, e muitos filhos morrem ao longo do percurso, por simples falta de acesso aos mais elementares de todos os cuidados médicos. É evidente que estão pouco aptos, e a sua sobrevivência é extremamente discutível.

green trees and plants

Isto seria, digamos, a história de como um partido de extrema-direita da época defenderia o seu direito à existência pela lógica da razão pura.

Infelizmente, a história foi ainda pior.

O desastre consumou-se através de um meio-primo mais novo de Darwin, de seu nome Francis Galton, que se instalou cedo e confortavelmente na poltrona do darwinismo social, com tanto trabalho desenvolvido no estudo da inteligência humana e da sua transmissão que, em 1909, depois de 340 publicações, foi armado cavaleiro pelas suas contribuições para a ciência. E estas abundavam, porque o indivíduo era, no mínimo, e isto temos que conceder-lhe – era extremamente curioso. Galton foi o criador da expressão “nature versus nurture[11]”. Também foi o introdutor do uso das impressões digitais na ciência forênsica. Além disso foi antropólogo, matemático, estatístico, e especialista de metereologia, disciplina onde criou os primeiros mapas do clima e propôs a teoria dos anticiclones[12]. Ou seja, era considerado e respeitado enquanto cientista, pelo que arcava com a responsabilidade social de todos os seus pares. Portanto, quando publicou em 1883 o seu INQUIRIES INTO HUMAN FACULTY AND ITS DEVELOPMENT, apresentando pela primeira vez ao mundo culto do seu tempo o conceito de eugenia[13], legitimado cientificamente pela sobrevivência do mais apto, se fez asneira em grande estilo só fez porque quis. Era impossível que um cientista da craveira de Francis Galton, escrevendo em fins do século XIX, inspirado pelas publicações do seu primo[14], depois da redescoberta das obras de Mendel, e de tudo o que o registo fóssil já tinha revelado[15], não conseguisse entender que não pode existir nenhum fenómeno natural passível de ter como base um modelo tão simplista como a sobrevivência do mais apto.

O modelo foi-lhe muito conveniente, o que é outra coisa.

Em última análise, foi conveniente para todos os habitantes do Ocidente de pele clara, preferencialmente os de olhos azuis e cabelo louro: a sobrevivência do mais apto foi a primeira grande demonstração científica da supremacia branca, com todos os estragos que fez logo na altura e com os que ainda virá a fazer no futuro.

Extra-texto I

Pensem em todos os métodos que, hoje em dia, os bancos de sémen têm vindo a financiar para conseguirem vender produtos superiores. Por superior entende-se, sempre, “tipo escandinavo”, além de estudantes com notas mais altas e mesmo Prémios Nobel. A gente detesta engolir a parte em que a Eugenia, em vez de morrer para todo o sempre, agora voltou a acordar para nos angustiar de novo[16]. Mas a Eugenia é como a hidra. Já os gregos se temiam destas coisas. Cortem-lhe uma cabeça, cortem. Nascem-lhe logo outras duas. Não temos qualquer balística que combata este mito. Resta-nos o mais importante de tudo, que é a informação.

Por todas estas razões pouco bonitas, nesse fim de século ainda meio mundo discutia Darwin, mas já toda a gente entendia Galton[17] e respeitava sem margem para dúvidas a sua enorme respeitabilidade científica. E foi então que o futuro cavaleiro propôs que, segundo o conceito da eugenia, só deviam poder reproduzir-se os exemplares superiores da raça humana para que a população melhorasse como um todo[18]. Nesse sentido, a função reprodutiva, aquela que, de todas as que há no mundo, carrega consigo a maior das responsabilidades, passaria a ficar automaticamente vedada, fosse por esterilização ou fosse por prisão em instituições a criar para o efeito[19], aos deficientes, aos loucos, aos presos, aos criminosos, aos “débeis mentais[20]”, às prostitutas… e aos pobres.

A ideia básica deste plano era acelerar a lentidão infinda do Tempo Geológigo para a Rapidez Humana de duas ou três gerações, despachando com grande rapidez o que a selecção natural faria de forma extremamente lenta: introduzir, através de boas políticas medico-sociais, os protocolos necessários para melhorar rapidamente a espécie humana. Que é que tem? Há séculos que veterinários e agricultores vinham fazendo isso mesmo com crescente sucesso, e não menos aplauso público. Agora, meus senhores, a ciência permite finalmente esta intrépida mudança de paradigma, que leva ao mesmo melhoramento, finalmente possível no humano.

Se nos parecer estranho agora que nenhum dos visados enquanto “exemplares deletérios” da raça humana tenha armado qualquer espécie de tentativa de revolução, é apenas porque, nos mais inconscientes de todos os nossos níveis emocionais, todos somos profundamente moldados pela ideia que os outros têm de nós – e, se aqueles que nos desprezam o disserem em voz alta, se usarem até um megafone, acabamos por não conseguir sentir por quem somos mais do que um profundo desprezo. Durante as campanhas da Eugenia, houve milhões de pessoas, em todo o Ocidente, que foram seriamente pressionadas no sentido de se considerarem uma acabada porcaria, um erro crasso da natureza, até, que mais valia castrar para não contaminar a espécie no futuro. E, impotentes, baixaram a cabeça.

blue starry night

Os cientistas americanos que visitaram a Inglaterra durante a Idade de Ouro de Francis Galton ficaram tão seduzidos com este conceito de supremacia branca, comprovada pela sobrevivência do mais apto, e portanto com o selo de honra da aprovação científica, que agarraram na Eugenia e a levaram para casa. As ideias de Galton já tinham encontrado ecos entusiásticos em vários países europeus[21], e a resposta dos Estados Unidos não foi só um eco: foi um êxtase. E um êxtase muito bem financiado, diga-se de passagem. Os estudos sobre a questão de como melhor implantar a Eugenia Americana tiveram o apoio da Fundação Rockfeller, do Carnegie Mellon Institute, e da fortuna doada por Mary Harriman, viúva do grande barão dos caminhos de ferro americanos, E. H. Harriman, dono da linha de comboio costa a costa. Em 1906, J. H. Kellogg, o médico imortalizado na foto daquele velhote simpático que ainda hoje aparece nas caixas dos cereais que inventou, cobriu todos os custos da construção da Race Betterment Foundation[22], em Battle Creek, Michigan. Logo a seguir, em 1911, com o apoio das autoridades locais e por iniciativa do famoso e muito respeitado biólogo Charles B. Davenport, treinado em Harvard e docente na mesma universidade até ao início da sua cruzada eugénica, construiu-se em Cold Spring Harbor, Nova York, o Eugenics Record Office[23]. Davenport entregou a direcção do Departamento a um psicólogo seu amigo, também ele de enorme respeitabilidade, chamado Harry H. Laughlin. Além destes auxiliares de primeira linha mais vistosos, Davenport também contou sempre, na chuva de publicações que fizeram parte da cruzada épica que ele mesmo tratou de desencadear sobre o seu país para que a genética mendeliana pudesse ser aplicada aos humanos sem quaisquer entraves, com a colaboração da sua mulher, Gertrude Davenport, uma geneticista e embriologista de enorme renome. 

Uma das tarefas a que este trio de projecção e propaganda, encarregue de assegurar novas gerações de americanos cada vez mais bem constituídos e mais inteligentes, meteu ombros sem demora, foi a questão de como diminuir os efectivos da população indesejável, que formava uma maioria ameaçadora para o melhoramento americano. Estabeleceu-se para a discussão de estratégias um regime de reuniões semestrais com um comité de sete colegas, todos eles imensamente qualificados em áreas mutuamente complementares. Foi numa destas reuniões de estratégia, realizada em 1933 sem qualquer espécie de secretismo, que se falou de Extermínio em Massa pela primeira vez.

Se o ano de 1933 vos disser alguma coisa, então deve ser porque Hitler foi democraticamente eleito a 5 de Março de 1933.

Davenport era um grande mestre da arte do lobbying, ao ponto de conseguir aliar a maioria das mulheres brancas, e até alguns intelectuais negros, na sua cruzada para elevar o povo americano acima de todas as outras raças do mundo. A definição do futuro americano ainda estava em aberto, pelo que a credibilidade científica da Eugenia, com todos os traços deletérios considerados hereditários[24], e portanto incorrigíveis, se transformou com o tempo num pretexto fantástico para impedir a entrada no país de tudo quanto fosse imigrante do Sul da Europa, de origem judaica, ou portador de outros estigmas considerados opostos à construção de uma sociedade perfeita[25]. O Immigration Act de 1924, que observa todas estas restrições, é claramente um triunfo dos eugenistas sobre os congressistas. E, ao mesmo tempo, já há uns bons dez anos que se promoviam, com grande sucesso e maior concorrência, cada vez mais concursos como “a melhor família americana”, ou “o melhor bebé americano[26].

Logo em 1911, o problema dos defeitos hereditários, e o esforço científico de gizar bons métodos para acabar com a sua transmissão imutável de pais para filhos, levara Davenport a convocar mais uma reunião de especialistas, onde também não se observou qualquer secretismo. Ao fim de dois dias, estava elaborada, e assinada por todos os seus proponentes, uma lista de dezoito métodos para conter o flagelo imutável da hereditariedade. O oitavo método era a eutanásia. E, no sentido de tornar essa mesma eutanásia mais rápida e funcional, sugeria-se a construção de uma câmara de gás anexa aos hospitais.

Há detalhes históricos que não é prudente deixarmos cair no esquecimento, e estes fazem parte desse número: a ideia do Extermínio em Massa nasceu em Cold Spring Harbor em 1933, e a ideia da câmara de gás nasceu em Nova York logo em 1911.

black and brown lizard on green plant during daytime

O projecto não se realizou apenas porque os fundos começaram a tornar-se mais escassos, uma vez que todas as facções envolvidas sustentavam que um programa desta envergadura, destinado a salvar o povo americano do declínio, deveria por força ser financiado pelo Tesouro Federal. À falta de melhor, enquanto toda a gente discutia, foram-se explorando alternativas menos rápidas mas perfeitamente seguras, como a esterilização forçada de homens e mulheres: os números oficiais indicam que, entre 1907 e 1963, mais de sessenta e quatro mil pessoas foram anestesiadas e depois esterilizadas sem o seu conhecimento prévio[27]. A Califórnia, que só por si esterilizou mais pessoas do que todos os outros estados juntos, começou a partir de 1933 a enviar literatura especializada para hospitais, clínicas, e laboratórios farmacêuticos alemães, e a convidar os seus dirigentes a virem observar no terreno todo o seu imenso trabalho de campo.

De onde viria este cortejamento tão específico que os especialistas americanos começam a fazer à Alemanha, exactamente quando Hitler sobe ao poder? O entusiasmo popular e o interesse científico com que os alemães acompanhavam as actividades velozes da Califórnia teve de certeza um papel neste estranho noivado. Além disso, as tentativas repetidas que Davenport foi fazendo no sentido de criar Sociedades Eugénicas Internacionais não tinham surtido grande efeito entre os europeus à excepção dos escandinavos, pelo que uma aliança internacional com a aderência garantida da Alemanha caía muito bem nos seus propósitos propagandísticos.”

A avaliar pela correspondência trocada entre os investidores e empresários da época, o Grande Capital, só por si, pode muito bem ter desempenhado nesta história o papel mais relevante de todos. Qualquer capitalista que quer crescer precisa de novos clientes. Numa Europa toda ela empobrecida na sequência da I Guerra, a Alemanha aparecia como uma nação bastante rica, povoada por pessoas eugenicamente correctas, tão perfeitamente superiores como o Siegfried de Wagner. E os seus maiores expoentes tecnológicos e científicos pareciam tão interessados nas várias metodologias eugénicas americanas que, depois de todas as técnicas devidamente patenteadas, estava ali uma mina de ouro de certeza.

Não foi só a Califórnia que valorizou devidamente este interesse caloroso dos nacional-socialistas. Mostrando a boa-vontade e o interesse dos americanos em melhorar não só o seu país mas também o mundo das raças superiores, a Fundação Rockefeller estudou a fundo vários programas eugénicos alemães, apoiou o seu desenvolvimento, e, sobretudo, assegurou na totalidade o seu financiamento.

Os eruditos americanos ainda andaram ali desenganados por uns anos consideráveis, cheios de orgulho na importância que tinham adquirido junto dos grandes cientistas alemães, tão dedicados à causa eugénica e tão disciplinados na sua experimentação. Não houve conferência das diversas Sociedades Internacionais de Eugenia em que não repetissem que estavam cheios de orgulho. Aliás, deixaram-se andar cheios de orgulho até já ser tarde demais.

fox laying on snow

Todos aqueles nacional-socialistas alemães que vieram estudar o fenómeno no terreno regressaram à base cheios de grandes ideias. Sem conhecimento do resto da Europa[28], construíram com essas ideias um edifício teórico e bélico cada vez mais grandioso. No epicentro desse edifício, Adolf Hitler deixou de falar aos alemães de paz e prosperidade para falar antes da coragem de renovados sacrifícios, suficientemente grandes para que a raça alemã se tornasse superior a todas as outras. Vamos cerrar fileiras contra todos os que tentarem deter-nos, e dentro de duas ou três gerações o Siegfried seremos todos nós.

Foi este mesmo edifício que levou ao Holocausto.

Francis Galton morreu em 1944, sem poder assistir ao último acto da tragédia terrível criada no século XX pela sobrevivência do mais apto.

Quando foram julgados no Tribunal de Nuremberga, os obreiros da Solução Final garantiram que não tinham feito mais do que implementar os conhecimentos adquiridos na América junto dos maiores peritos da Ciência da Eugenia, que aliás financiaram os estudos dos nacional-socialistas, tanto quanto se percebia a fundo perdido.

Na altura, com a Europa ainda em estado de choque depois de ter visto aqueles filmes insuportáveis sobre o estado em que se descobriram os judeus encarcerados nos campos de extermínio, e com a Guerra ganha depois de, no seu último ano, os americanos se associarem aos Aliados, ninguém quis ouvi-los.

Mas, na realidade, aqueles réus detestáveis estavam positivamente cheios de razão.

Clara Pinto Correia é bióloga, professora universitária e escritora

Texto a partir do último livro de Charles Darwin, THE ASCENT OF MEN & THE SEXUAL SELECTION

No contexto de uma nova edição, traduzida, revista, e comentada, de todas as obras de Charles Darwin, que entrará em publicação a partir de Dezembro de 2024 na editora Exclamação. O primeiro livro será exactamente o último, este A ASCENDÊNCIA DO HOMEM, onde Darwin conclui, reúne, e discute todo o seu formidável conhecimento de causa.


Extra-história

A ignorância causada pelo medo das espécies diferentes das outras que,

ouvindo notícias preocupantes,

foram esconder-se nos confins do bosque e nunca mais saíram de lá

HISTÓRIA DOS DOIS ANIMAIS DESCONHECIDOS

Dois animais que andavam há anos escondidos num bosque enorme com medo de uma razia aos animais estranhos de que toda a gente falava foram ao fim da tarde a um bebedouro num lugar onde a vegetação era tão densa que o tornava quase invisível. Ao contrário do que costumava acontecer, no entanto, chegaram ambos exactamente ao mesmo tempo. Ficaram estupefactos a olhar um para o outro, porque nunca tinham visto ninguém assim na variegada fauna do bosque.

 “És um animal muito estranho,” disse, por fim, o primeiro. “Vivo há anos aqui escondido, e nunca vi nenhum animal assim. Podes dizer-me quem és?”

“Bem…”, principiou o segundo, com uma olhadela em volta para ter a certeza de que não estava mais ninguém a ouvir. “Eu sou um cão-lobo.”

“Um cão-lobo?”, indagou o primeiro. “Mas eu nunca ouvi falar disso. O que é exactamente um cão-lobo?”

“Então,” esclareceu o segundo, agora já com algum orgulho. “Eu sou um cão-lobo porque a minha mãe era uma cadelinha… muito bonita… que se perdeu neste bosque… onde encontrou o meu pai, que era um lobo… e foi assim que eu nasci. E tu, já agora, que também és muito estranho – que raio de animal é que tu és?”

“Eu? Ah, eu sou apenas um urso-formigueiro.”

“Eh pá, não gozes comigo.”


[1] Pode não parecer, e pode até aparecer à primeira vista como um opúsculo extremamente irritante destinado às donas de casa que tenham como sonho criar e manter a toda a sua volta um lar perfeito para toda a família, mas um livro destes, nesta altura, é na realidade uma autêntica bomba-relógio, pronta a explodir assim que lhe carreguem no botão. E os segredos das formas de chegar ao botão estão cheios de armadilhas. Convém ir avisando. Neste caso concreto, convém mesmo.

[2] O nome “Shirley” é andrógino no século XIX.

[3] Não admira que este Sistema fosse influente. Ainda hoje gostaríamos dele, mesmo com muito ensino de ciência na escola. Os lugares-comuns são sempre reconfortantes, e a ausência do Estado, mesmo que leve rapidamente ao caos total ou ao abandono escolar exponencial, de início é sempre uma ideia excitante. Para o período vitoriano, o conceito de procurar a verdade na Natureza não podia estar mais na ordem do dia.

[4] James também não é um psicólogo e filósofo qualquer. Na realidade, foi o primeiro intelectual a oferecer um curso de psicologia nas universidades dos Estados Unidos. James foi também um dos principais pensadores do final do século XIX, e é considerado por muitos como um dos filósofos mais influentes da história dos Estados Unidos, enquanto outros o rotularam mesmo como “pai da psicologia americana”.

[5] Charles Lyell é mais um destes personagens enormes do período vitoriano que operaram a grande mudança de paradigma que separa o século XIX do século XX. O seu PRINCIPLES OF GEOLOGY, e todos os debates a que deu azo, contribuíram decisivamente para alterar de vez a História do Tempo, transformando o Dilúvio numa mera cheia do rio Jordão, eliminando de vez o episódio da Arca de Noé com todos os seus animais, e estabelecendo firmemente que o tempo da vida na Terra não era mensurável em termos humanos. A sua teoria do uniformitarianismo, não obstante alguns erros de raciocínio absolutamente notáveis, teve o enorme mérito de tornar o tempo infinito de uma vez por todas.

[6] E se o são todos, escritos, como eram, num tempo em que havia tempo.

[7]Struggle for existence”, no original.

[8] Com o qual Darwin nunca concordou enquanto ainda em vida, professando antes um profundo desgosto pelo uso que estava a ser feito do seu trabalho.

[9] Anónimo. Em COLECÇÃO DE CARTAS DO JARDIN LES DÉLICES

[10] Idem.

[11] “A natureza ou a criação.”

[12] Durante este período, era frequente as “mentes brilhantes”, sobretudo se não tivessem preocupações económicas, investirem a sua sabedoria e a sua capacidade de estudo em tantas áreas quantas pudessem. Hoje em dia, uma dispersão por tantas disciplinas tão diferentes como a de Galton seria impossível – e, acima de tudo, extremamente mal vista.

[13] O termo é tirado do grego para “bem-nascido”.

[14] Galton já tinha ficado entusiasmadíssimo com a leitura de A ORIGEM DAS ESPÉCIES. O que o levou a avançar até ao conceito de eugenia, no entanto, foi a leitura de A ASCENDÊNCIA DO HOMEM.

[15] Incluindo dinossauros, montes deles, correctamente entendidos e reconstruídos como tal. E algumas das aves gigantescas das ilhas onde anteriormente não existiam predadores, com uma datação dos seus ossos perfeitamente estabelecida. E tudo isto em estratos de rocha datáveis, também eles de épocas geológicas diferentes.

[16] Sobre os métodos de recolha e isolamento de sémen considerado “superior”, ver a passagem sobre SNIPs em FEAR, WONDER, AND SCIENCE.

[17] Há que ver que, mesmo para entender facilitismos como “a sobrevivência do mais apto”, é preciso saber ler e escrever, capacidade que estava vedada à esmagadora maioria das pessoas. Este “toda a gente” limita-se, portanto, apenas aos tais “bem-nascidos”. É naturalíssimo que entendessem: aquilo queria apenas dizer, agora com aprovação científica, que eles eram o topo natural da pirâmide. De TODAS as pirâmides, vendo bem as coisas.

[18] Para mais informações sobre o programa da Eugenia, as catástrofes que causou no seu tempo, e as formas como tem vindo a ser re-criada no século XXI graças aos bancos de sémen equipados com SNIPs para determinadas características genéticas do embrião, tais como os olhos azuis e o cabelo loiro, ver Gilbert & Pinto-Correia, FEAR, WONDER, AND SCIENCE, 2018.

[19] Ver Stephen Jay Gould, A FALSA MEDIDA DO HOMEM, 2004, para estudos alargados e bem fundamentados de todo o estrago causado pelas tentativas de implementar programas de esterilização e de encarceramento “em instituições a criar para o efeito.”

[20] Mesma fonte. O conceito de Eugenia acabou por levar ao conceito “científico” dos testes de QI, e a vasta maioria dos testes de QI usados até à II Guerra foram sendo cada vez mais inflexíveis em “provar” que todos os pobres, todos os pretos, e todos os filhos desta gentalha são “débeis mentais.” E, como isto é “hereditário”, não há nada nem ninguém que possa mudar-lhes o destino.

[21] Este “todos”, embora muito usado, é francamente relativo. A Eugenia foi acolhida de braços abertos pelos países do Norte da Europa, onde o povo era quase todo de pele clara, e pelo menos metade das pessoas era loura e de olhos azuis. Nos países do Sul, foi mais um motivo para as classes dominantes, tradicionalmente compostas por pessoas de pele clara casadas entre si, se considerarem no direito de usufruir de ainda mais privilégios, e acharem natural a proibição do voto popular.

[22] “Fundação para o Melhoramento da Raça.” A coisa promete, não é.

[23] “Departamento dos Registos Eugénicos,” que procurava reunir as árvores genealógicas de todos os americanos e detectar se algum deles, alguma vez, teria sido “contaminado” por sangue negro, o que podia levar à perda de alguns benefícios sociais, e sobretudo ditar uma esterilização imediata, para que aquele “vício” tão bem dissimulado não contaminasse mais ninguém.

[24] Estamos a falar de um tempo filosófico já habituado às ideias de Lamarck, e ainda desconhecedor, ou muito desconfiado, das ideias da Darwin. A ideia de que as características dos pais se tornavam hereditárias e eram transmitidas aos filhos (a famosa “teoria de como cresceu o pescoço da girafa”, para simplificar razões) era, portanto, perfeitamente aceitável. E, sobretudo, uma vez mais – no que respeita à inteligência humana, era muitíssimo conveniente.

[25] A este respeito, consultar uma vez mais Stephen Jay Gould, A FALSA MEDIDA DO HOMEM.

[26] Por “melhor” entenda-se “mais bonito” e mesmo “mais loiro”, e não “mais inteligente”. A tradição estendeu-se também à América Latina, como política preventiva contra a miscigenação. Supostamente, estas famílias, ou estes bebés, receberiam apoios estaduais, ou mesmo federais, para melhor crescerem e se multiplicarem. Não sabemos se os receberam mesmo. Para mais informações, consultar THE HOUR OF EUGENICS, de Nancy Leys Stepan, 1991. Consultar Também Gilbert e Pinto-Correia, 2018.

[27] Esta era a forma mais suave de esterilização. Utilizaram-se obviamente outras técnicas mais brutais, sobretudo em cadastrados, criminosos – e, claro, centenas e centenas daquela porcaria daqueles pretos.

[28] Um exemplo claro deste desrespeito alemão pelos acordos de paz da época, saliente-se que a RAF, a temível frota de aviação de guerra alemã, foi totalmente montada em segredo absoluto, ainda antes do início da Guerra.


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