Planando na Terra Redonda

O magnífico Bernina Express

por Raquel Rodrigues // Agosto 22, 2024


Categoria: Cultura

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Raquel Rodrigues regressa ao PÁGINA UM com uma proposta de viagem de Inverno: Itália e Suíça através do Bernina Express, uma rota classificada como Património da Humanidade.


Foi em Novembro de 2022 que li um post de um amigo, que como eu adora viajar e é um apaixonado por Itália. Na mesma hora, liguei-lhe a dizer que ia marcar a viagem e seria maravilhoso se as agendas coincidissem e viajássemos juntos.

Marquei os voos de Lisboa para Bergamo, e comecei logo a preparação da viagem. Como já conhecia a imponente Bergamo, La Città Alta, cidade muralhada, com um centro histórico muito bem preservado, segui a recomendação do meu amigo e começámos o roteiro por Brescia, onde chegámos a tempo de um almoço rápido, ainda com tempo para explorar a cidade.

Estacionámos o carro alugado no parque de estacionamento da “Piazza della Vittoria”, e daí seguimos a pé. Nesta praça nota-se o estilo racionalismo italiano, de 1926-1943, onde se localiza o Palazzo de la Poste; o Il Torrione, o primeiro arranha-céus italiano e, primeiro da Europa, construído em cimento armado. Seguimos a pé para a Piazza della Loggia, construída na época em que Brescia fazia parte da República de Veneza. Aqui encontramos o magnífico Palazzo della Loggia e a bonita Torre do Relógio. Depois, seguimos a pé pelos corredores de lojas até à Piazza del Duomo onde a Duomo Nuevo e a Duomo Vecchio se encontram e juntos fazem o postal da cidade. É obvio que a Duomo Vecchio é muito mais fascinante, em primeiro lugar por ser um edifício redondo, e depois pela histórica que carrega, com ruínas de mosaicos paleocristãos.

Mas a história de Bréscia não termina aqui, pois remonta ao período pré-românico, com as ruínas de Brixia, o nome romano da cidade. Esta área arqueológica, a mais bem preservada do norte de Itália, reúne na Piazza del Foro e Capitolino, as estátuas de Juno, Júpiter e Minerva, um teatro romano e um santuário de século I com frescos e pavimentos do século II antes de Cristo, muito bem preservados. A joia da coroa é o Castelo Alto de onde conseguimos ter uma perspectiva fantástica da cidade.

Final da tarde. Seguimos para Iseo, a 45 minutos de Bréscia, a cidade que dá o nome ao lago e onde jantamos, em cima do lago, numa pizzaria que muito recomendo, Leon D´Oro. Terminando o jantar ,seguimos para Pisogne, a 30 minutos de Iseo, onde dormimos as duas noites e ficávamos a meio caminho de Tirano, o ponto de partida do fantástico “Trenino Rosso”.

Chegamos a Pisogne tarde, mas a simpatia de Bárbara e sua família fez-nos sentir que tínhamos feito a escolha certa para esta estadia no Lago Iseo.

O B&B Alveare Sul Lago é um pequeno paraíso para “gourmands” que apreciem o conforto da cozinha e gastronomia italiana, um lugar onde nos sentimos em casa. Uma localização privilegiada com uma fantástica vista para o lago.

No dia seguinte, tomámos o pequeno-almoço às 7 horas, e ainda não passara uma hora e seguimos viagem para Tirano. A paisagem é muito bonita, passando pelas aldeias alpinas italianas, e em hora e meia chegámos a Tirano. O estacionamento no parque é gratuito, e atravessando o túnel da primeira estação regional, encontramos a estação internacional do Bernina Express.

Viajar de comboio é algo que se entranha, são viagens que não esquecemos, que prolongam as memórias, e esta, em particular, é quase mágica. Passámos por aldeias alpinas pintadas de branco, que contrastavam com um intenso azul do céu e as escuras colinas mais escarpadas. Garantidamente, uma das viagens de comboio mais deslumbrantes que se podem fazer.

Sempre a subir. Partindo de Tirano, a 429 metros de altitude, passamos por Bernina a 2.253 metros de altitude. Cumes impressionantes. A carruagem panorâmica tem um fee de pagamento, mas isso vale cada cêntimo. É uma viagem incrível no primeiro comboio de cremalheira electrificado.

Depois de duas horas e meia de cenários de cortar a respiração chegamos à sofisticadíssima Saint Moritz. Saindo da estação seguimos a pé até ao teleférico, que nos levou ao pico da montanha mais alta, almoçámos literalmente entre as nuvens.

Descendo do teleférico, pode-se passear pelo centro da cidade no meio de um deslumbre luxuoso. As pessoas parecem, e são, simpáticas e bem-educadas. As lojas são de sonho, embora não para qualquer carteira. A estância de ski é uma das mais fantásticas do Mundo e Saint Moritz tem ainda o Badrutt´s Palace Hotel onde, mesmo que seja impossível pernoitar, vale pela experiência do Chá das Cinco. Regressando de volta à estação, viajámos de regresso a Tirano, no lado contrário da viagem de ida, mostrando outra perspectiva, embora por pouco tempo, pois a noite, nesta altura do ano, chega cedo.

Chegados a Tirano, regressámos a Pisogne onde o Chef Cláudio Faustini nos aguardava com uma magnífica pasta fresca com trufa, pães e foccacia feita em casa e ainda um “Vino Rosso”. Podia ser melhor? Não podemos crer.

No dia seguinte, acordámos com paz de espírito, tomámos um pequeno-almoço tardio, com produtos caseiros e frescos, e seguimos então para a nossa aventura pelo Lago.

A primeira paragem foi Lovere, considerada uma das cidades mais bonitas de Itália, mesmo junto ao lago. Paragem obrigatórias para quem quer desejar boas memórias dos lagos italianos.

De Lovere passámos de carro pelos túneis de Castro. Sentimo-nos um pouco como James Bond nos filmes gravados nestes cenários italianos. Continuámos viagem até Sulzano, e aí se pode apanhar um barco para Monte Isola.

Chegando ao porto de Sulzano, apanhámos então o barco, que faz a viagem de 20 em 20 minutos. Monte Isola tem sido considerada uma das belas cidades europeia. Ainda que seja pequena, é a maior ilha lacustre da Europa, a pérola do lago Iseo. Aqui não existem automóveis para alugar, pelo que a melhor opção passa por alugar uma bicicleta ou seguir a pé. Em todo o caso, o santuário no topo da ilha só faz sentido se se visitar de autocarro.

Em 2016, durante duas semanas o Monte Isola esteve em destaque, com a Floating Piers, uma instalação artística do artista búlgaro Christo e da sua companheira Jeanne-Claude, que pela primeira vez uniram a aldeia de Sulzanno a Monte Isola e a Isola de San Paolo, um pequeno pedaço de terra nunca alcançado sem esta plataforma flutuante. Contabilizaram-se então mais de 1,2 milhões de visitantes. Hoje, ainda podemos ver um memorial celebrando o momento.

Passear pela ilha é bastante relaxante, mas há locais que não se devem perder: Borgo di Siviano,Borgo di Novale, Borgo di Peschiera Maraglio, Museo della Rete, Rocca Martinengo e Santuário della Madonna della Ceríola, no topo do monte.

Depois de umas horas em Monte Isola, tivemos de regressar no barco que nos devolveu a Sulzano, e daí fomos obrigados a apanhar um carro e seguir para o aeroporto, de regresso a casa.

Foram, passe o lugar comum, apenas três dias de viagem, mas que souberam a sete num deslumbrante cenário alpino entre Itália e Suíça.

Para quem começar o ano com uma viagem desta qualidade, em pleno Inverno, já só desejará uma próxima. Prepare-se.

Dicas da viagem para uma viagem no Inverno:

Em Novembro, comprar voos Ryanair: Lisboa – Bergamo – Lisboa

Estadia: Hotel B&B Alveare Sul Lago (2 noites)

Alugar carro: Rentalcars (procurar com aluguer rodas de neve gratuito ou incluído)

Bernina Express: Viagem de Ida e Volta a 65 euros por pessoa

Mochila: dois pares de calças; roupa interior e extra de neve (camisola, calças e meias); cachecol, gorro e luvas; camisolas.

Raquel Rodrigues é gestora, viajante e criadora da página R.R. Around the World no Facebook.


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