Recensão: Perla, a cadelinha poderosa

Uma história banal

por Pedro Almeida Vieira // Outubro 3, 2024


Categoria: Cultura

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Título

Perla, a cadelinha poderosa

Autora

ISABEL ALLENDE & SANDY RODRÍGUEZ (ilustração)

Editora

Porto Editora (Maio de 2024)

Cotação

10/20

Recensão

Isabel Allende, um dos nomes mais consagrados da literatura latino-americana, e ainda hoje recordada como autora de uma das obras mais marcantes do realismo mágico, o soberbo ‘A casa dos espíritos’ (1982), teve, na verdade, a sua estreia literária com um livro infantil, em 1974, intitulado ‘La abuela Panchita’, que teve continuidade nesse mesmo ano com ‘Lauchas y lauchones, ratas y ratones’. Julgo nunca terem sido publicados em Portugal.

Ao longo dos anos, Isabel Allende, de nacionalidade chilena, apesar de acumular com a cidadania norte-americana, esteve sempre um pé no público mais jovem, escrevendo diversas novelas juvenis, entre as quais a trilogia ‘As memórias da Águia e do Jaguar’, publicadas em Portugal na primeira década do presente século na extinta Difel.

Em 2024, aos 82 anos, e meio século depois dessa sua estreia, Isabel Allende regressa ao livro infantil com ‘Perla, a cadelinha poderosa’, que pode deslumbrar o público-alvo, mas levanta questões sobre os desafios que os escritores reconhecidos pelo público adulto enfrentam se se aventuraram na literatura para crianças.

E há uma certa frustração quando se folheia, e se ‘lê’ esta ‘Perla, a cadelinha poderosa’, que conta a história de uma cachorrinha pequena e corajosa que, mesmo com seu tamanho diminuto, se mostra heróica em diferentes situações, assim ‘ensinando’ a Nico como se deve comportar durante o ‘bullying’ escolar. Embora a premissa da superação por meio da coragem seja uma ideia interessante, especialmente quando destinada ao público infantil, o enredo não se destaca pela originalidade. A superação de desafios aparentemente impossíveis face ao ‘tamanho’ é uma metáfora clássica e amplamente utilizada na literatura para crianças, mas talvez se pudesse aguardar que, com Isabel Allende, essa abordagem trouxesse qualquer elemento inovador ou surpresa narrativa. Nada: é uma banal história, embora simpática.

A ausência de qualquer realismo mágico – a assinatura de Allende em obras como ‘Eva Luna’ ou ‘A Casa dos Espíritos’ –, que, por certo, seria bem acolhido pela ‘criançada’, é talvez o que mais marca este livro, com ilustrações da norte-americana Sandy Rodríguez que ‘não aquecem nem arrefecem’. A história é linear e mais do que previsível.

Resta assim saber se os pais – ou até avós – que cresceram a ler os romances de Isabel Allende –, vão comprar este livro só por causa do nome da autora, e, com isso, a autora ganha um cobres. Pode até suceder, mas, confessa-se, que este pequeno livro, num género que não deve ser considerado menor, nada acrescenta de positivo, pelo contrário, para a bibliografia da escritora chilena.

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