Recensão Eleitoral

Os ofendidos de direita

two black cats looking outside a glass window

por Tiago Franco // Janeiro 26, 2022


Categoria: Opinião

minuto/s restantes


Boa parte desta campanha eleitoral joga-se no “pós-jogo”. Explico. Por cada vira que António Costa dança no Minho, por cada três minutos de conversas de mercado de Rui Rio, ou por cada declaração de Ventura sobre o RSI, discute-se uma hora entre os comentadores de serviço nos quatro canais noticiosos.

A dinâmica imposta à campanha pelas televisões transforma-se em entretenimento de horário nobre. Os líderes partidários fazem declarações de segundos e os comentadores enquadram-nas durante horas. Num país onde adultos conseguem discutir dias a fio a vida de Jardel e Bruno de Carvalho numa casa na Venda do Pinheiro, ainda há 50 000 almas que, por exemplo, assistem à CNN todos os dias (cerca de 2,2% de share). Se somarmos aos que se espalham pelos restantes canais, podemos facilmente assumir que mais de 100 000 pessoas, diariamente, vão formando opinião com o que por ali ouvem.

E é aqui que a batalha me parece incrivelmente desigual. Os comentadores afectos à direita estão em larguíssima maioria. Ao fim de 12h só consegui contar 5 de esquerda, entre todos os canais. 5,5 se pensar em Pacheco Pereira, uma espécie de estrumpfe chateado dentro da sua própria casa. Honestamente não encontro uma explicação para isto, mas compreendo que a influência exercida não tem contraditório.

Ontem, na CNN, depois de António Costa ter sido entrevistado, quatro comentadores criticaram a posição do atual primeiro-ministro. Ou porque repetia o discurso, ou porque não esclarecia as alianças, ou porque se associava novamente a PCP e BE. Já Rui Rio continuava muito bem e a presença de Luís Montenegro, ex-opositor, mostrava unidade no partido. Quando o PSD ultrapassou por 1% estava à frente, quando o PS ficou a 4% de distância, já era empate técnico. Os intervalos de confiança aplicam-se apenas para um lado, ao que parece.

Pedro Silva Pereira, em debate com Paulo Rangel (no mesmo programa), acusou o painel de ser escolhido a dedo para emitir aquelas opiniões. Sebastião Bugalho, ex-candidato ao parlamento nas listas do CDS e amigo de jantarada de André Ventura, ficou muito ofendido. Mafalda Anjos, diretora da Visão, também. Inês Serra Lopes, antiga diretora do Independente, jornal associado à direita, também. E Rui Calafate, que classifica Ventura como um “killer” nos debates e que vê, na gritaria, uma substituição do debate, também ficou incomodado. Em resumo, num painel onde o CDS tem mais apoio do que votos nas urnas, Pedro Silva Pereira constatou o óbvio.

E, se alargarmos o espectro para as restantes televisões, percebemos que os opinion makers que ajudam os indecisos a deixarem de o ser, estão largamente ao serviço da direita política. Resta saber quantos votos ganharão, num dia em que a direita, à excepção do Chega, se afundou um pouco mais.

Engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


Décimo primeiro episódio da Recensão Eleitoral (26/01/2022) – Os ofendidos da direita


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