Fui às praias dos arredores de Marbella, mas não meti o pé na água. Porque são as mesmas, onde se afogam milhares de irmãos africanos que apenas querem uma refeição e uns chinelos…
Após atravessarem o nosso mar comum: o Mediterrâneo!
Ouvi a notícia do resgate de 117 crianças desacompanhadas enviadas num barco tosco, onde estavam mais 203 africanos de olhos postos no paraíso europeu. Foram levados para o porto italiano de Taranto. Outras mil pessoas continuam em embarcações à deriva.
Houve tempos em que o Mediterrâneo era europeu. Roma de um lado, Cartago na Tunísia. Os próprios apóstolos de Cristo nunca escreveram epístolas aos berlinenses, londrinos ou mesmo lisboetas. Mas aos Coríntios, Romanos ou Efésios. Foi Carlos Magno que mudou o sentido da Europa.
Mas agora a Europa precisa de voltar-se também para o seu berço.
A população europeia envelhece e os recursos estão no norte da África, zona rica em gás, petróleo e com uma população ávida de consumir… uns pães, umas frutas, chocolates e de ter uma TV e um popó.
Em Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egipto 40% da população têm menos de 23 anos de idade.
Para quem só vê dinheiro, é ” um mercado e pêras “.
E a abertura imediata ao desenvolvimento da margem sul do Mediterrâneo resolveria dois problemas: tornava as migrações desnecessárias e desenvolvia um sentido de coesão nos países magrebinos e mesmo no Próximo Oriente.
Melhor ainda, daria aos europeus da margem norte do Mediterrâneo a possibilidade de continuarem a ser um bom motor económico e um somatório civilizacional.
É muito triste ver pais a meter filhos em barcaças, pagando fortunas, para que eles possam ter “o pão nosso de cada dia”.
Nós europeus precisamos de uma ética séria.
Amigos do norte da África: sejam bem vindos à CCE, a Casa Comum Europeia.
José Ramos e Ramos é jornalista (CP 214)
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.