PELOTA EM PELOTA

Anda campeão, dá-lhe, dá-lhe!

black net

por Tiago Franco // Novembro 25, 2022


Categoria: Opinião

minuto/s restantes


Eis a verdade! Fernando Santos surpreendeu e inovou, respondendo a um pedido irónico feito na minha crónica de ontem. Na conferência de imprensa disse, em tom descontraído, que o 11 era mais do que expectável. Não! Não! E não! Entrar com dois avançados e apenas um trinco – sendo que Ruben Neves habitualmente até joga na posição 8 –, mesmo contra uma das selecções mais fracas da competição, é um salto de gigante para o seleccionador nacional. E isto tem de ser dito.

Ao contrário do Brasil, que sabe que tem a sua maior força no ataque e roda seis ou sete avançados durante o jogo, Fernando Santos aposta habitualmente em rodar seis ou sete médios para garantir que a bola não sai dali. Tite usa o que tem e arrisca-se a ganhar; Fernando Santos mostra medo do que tem e fica feliz a empatar.

O Gana apresentou-se contra Portugal em versão Arouca. Com 11 homens à saída da área e um bloco tão baixo que foi difícil apanhar Diogo Costa na imagem durante os primeiros 45 minutos. Se é penoso ver este tipo de jogo nas ligas nacionais, num Campeonato do Mundo chega a ser deprimente. Valeu a festa nas bancadas.

Portugal fez aquilo que sabe melhor: passar para o lado até adormecer o adversário, os espectadores, os árbitros e os camelos que estavam estacionados à saída do estádio. Não há vivalma que aguente tanta lentidão de processos e tão pouca procura pela baliza.

Ronaldo teve as duas primeiras hipóteses e mostrou que continua a saltar muito, mas a acertar pouco. Félix esteve mais preocupado em cair do que lutar pela bola, e até ao golo, numa excelente oferta da defesa, não fez nada que justificasse a sua inclusão. Bernardo Silva e Bruno Fernandes pautaram, bem, o jogo da equipa. Otávio lutou e foi bastante útil no meio-campo.

A defesa comprometeu, e Danilo, em particular, tremeu desde o primeiro minuto. Cancelo nunca arriscou no um para um e acabou sempre a ir à linha para voltar a passar para trás ou para o centro.

Fernando Santos voltou a respirar aos 56 minutos, quando, depois dos ganeses passarem o meio-campo duas vezes, William Carvalho entrou. Com dois trincos e o resultado em 0-0, o nosso selecionador voltava à sua zona de conforto.

Rafael Leão entrou a 13 minutos do fim, numa altura em que o jogo estava 1-1. Portugal marcou um minuto depois, por João Félix, e novamente, três minutos volvidos pelo próprio Rafael Leão, que, antes de rematar, já sorria adivinhando onde acabaria aquela bola.

Entretanto, João Cancelo optou por dar mais alguma emoção à partida, oferecendo um segundo golo à selecção ganesa, e já nos descontos, Diogo Costa, fez o possível para entrar nas epic failures do Youtube.

Enfim, jogamos pouco. Jogamos muito, muito pouco. Pela frente tivemos uma equipa que procurou o empate desde o primeiro minuto e que será, provavelmente, o adversário mais dócil deste grupo. Para além da vitória e do salto do Ronaldo com o Messi a ver, o grande destaque da partida de ontem acabou mesmo por ser os comentários do Paulo Futre. “Anda campeão!”, “força, força, vai para cima!”, “vamos, menino, vamos!” – esta é a banda sonora que todos queremos ouvir em momentos íntimos da nossa vida. Futre tocou-a num Mundial, em horário nobre. É o maior!

Tiago Franco é engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


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