Quando, a 30 de Janeiro de 2022, contra a expectativa da maioria dos portugueses, o Partido Socialista ganhou as eleições legislativas, com maioria absoluta, fiquei a aguardar a apresentação do novo Governo.
António Costa vinha de meses difíceis.
Tinham sido muitos os casos “estranhos” no seu mandato, vários os ministros debaixo de fogo, imensos os comentadores que consideravam “desajustados”, para as funções, alguns dos ministros, e havia, também, alguns destes a querer bater com a porta.
Pensaram, todos os que se preocupam com a governação, que o líder do Partido Socialista iria aproveitar aquela extraordinária votação, que os eleitores lhe tinham dado, para fazer uma limpeza radical na estrutura governativa.
Tinha motivos, e Poder, para tal.
Era a hora de retirar, dos Ministérios, todas as maçãs podres.
Que eram muitas.
Talvez fosse, até, mais correcto dizer que ele deveria retirar, daquele cesto chamado Governo, as poucas maçãs que continuavam boas e não tinham sido “tocadas” pelas que, completamente putrefactas, as rodeavam.
Quando, a 30 de Março, o Governo tomou posse, a desilusão foi total.
Percebeu-se que, de novo, se tinha optado pelo pagamento de serviços prestados ao Partido, em detrimento da qualidade.
Os Ministérios e Secretarias de Estado, com raríssimas excepções, foram entregues a carreiristas lambe-botas.
A tomada de posse foi um desfilar de gente medíocre, sem vida e sem carreira outra que não a escalada, no Partido, desde especialistas em colar cartazes a moços de recados das figuras de referência.
Na realidade, eu só estranhei a entrada de algumas personalidades, poucas, com conhecimentos e coragem para conseguir algum sucesso.
Apesar da convicção de que os seus companheiros, nesta missão, lhes iriam dificultar essa tarefa.
Essas poucas excepções, admito, davam-me alguma confiança.
Quando vi uma delas, o Ministro da Economia, a ser atacado por Secretários de Estado absolutamente acéfalos, sem uma tomada de posição firme do Primeiro-Ministro, fiquei com a certeza de que este Governo iria ser o bombo da festa da Oposição.
Os inúmeros casos que se seguiram, e que mostraram, à saciedade, a total incompetência, e até insanidade mental, de alguns dos governantes, mostraram, à evidência, a fragilidade da equipa.
São muitos, são incompetentes, são burros!
Numa palavra, o Governo é mau.
Muito mau.
A Oposição tentou aproveitar para convencer o Presidente da República a dissolver o Parlamento e levar o País a eleições antecipadas.
Embora não o afirmando taxativamente.
Mesmo quando o “líder” da Oposição, repetindo as frases de um seu antecessor (Passos Coelho), garantia que “o PSD não está cheio de vontade de ir ao pote“, percebíamos que estas frases soavam a falso.
O problema do líder social-democrata, contudo, é igual ao do Primeiro-Ministro: está rodeado de incompetentes e imbecis.
E sabe que, a querer construir uma nova “Geringonça”, vai ter que se entender com o pessoal do “Chega”.
E aquilo não são maçãs podres.
Porque não há, ali, maçãs…
O problema é que talvez ele seja o único português que ainda não percebeu isso.
Maior prova de que a Oposição é péssima é que nem Marcelo a leva a sério, por muito que isso lhe custe!
Só que, é difícil não se perceber que o actual PSD nunca ganhará umas eleições legislativas.
A Oposição tem, portanto, um caminho difícil.
Logo à partida porque encontra, à sua frente, um monte terrivelmente íngreme e difícil de transpor ou, mesmo, de rodear.
É um monte que tem de se fazer com cautela, desconfiando de todo o terreno a pisar e, sobretudo, dos companheiros de caminhada.
Talvez não precise de ter um olho nos burros e outros nos ciganos porque, à sua volta, não há ciganos.
Mas o monte ergue-se, imenso, no caminho de todos os portugueses.
Um monte que cheira a falso, que se sabe perigoso, sem caminhos visíveis, sem mapas, sem bússola.
Um grande, imenso, tenebroso, monte negro.
Talvez esteja na hora de seguir, pela primeira vez, um conselho de Passos Coelho e… emigrarmos.
Vítor Ilharco é secretário-geral da APAR – Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso
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