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O botão atómico de Belém

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Irá o homem que senta no Palácio de Belém carregar no botão que fará explodir a bomba atómica da política portuguesa? Podem ter a certeza que sim, mas só vai acontecer quando nos convencerem que fomos nós que pedimos. É assim que funciona a República. Ouça também esta crónica no P1 PODCAST.


Muitos dos meus amigos ficam intrigados comigo quando lhes digo que sou monárquico. Perguntam-me pelo meu avô, por exemplo, para tentarem perceber até que ponto faz sentido essa minha afeição a um regime do passado.

Respondo então que não é por saudosismo de um antigo regime, anterior ainda ao da ditadura de Salazar e do seu Estado Novo, mas sim pelo desejo de um futuro melhor.

E procuro demonstrar que, um País com as características geográficas de Portugal, com a nossa localização, história e papel que ainda podemos ter no futuro da humanidade, seríamos mais prósperos e mais bem geridos se fôssemos uma monarquia.

É apenas uma opinião e, como tal, espero que a respeitem. Teríamos ainda de trocar umas ideias sobre o assunto, ter uma conversa mais prolongada, mas para já mantemos apenas as coisas por aqui.

Posso, no entanto, explanar parte do pensamento com pequenos exemplos da nossa vida quotidiana e que merecem uma reflexão a propósito do sistema político em que vivemos.

Vamos então ao actual momento da nossa III República, aquela que começou há quase 50 anos, após outros quase 50 anos da II República, debaixo da ditadura que tivemos entre 28 de Maio de 1926 e o 25 de Abril de 1974.

Neste momento, temos um primeiro-ministro do Partido Socialista a governar com maioria absoluta e um Presidente da República que é ex-líder do Partido Social Democrata. Poderíamos dizer que temos o melhor de ambos os mundos e que está tudo equilibrado. Mas não é bem assim.

O Governo do PS parece cansado e gasto. Em surdina, especula-se que o Presidente da República deverá dissolver o Parlamento, demitindo assim o primeiro-ministro, e convocar eleições antecipadas para que o PSD as vença. E marcam-se já prazos: será depois das eleições europeias, no próximo Verão.

Prevê-se que o partido do governo sofra uma derrota pesada, já que o eleitorado tende a votar por protesto nas eleições para o Parlamento da Europa.

A demissão do governo é um dos pouco poderes que o Presidente da República tem em Portugal, já que ele não é um presidente com poderes executivos. É a chamada “bomba atómica”. E o botão é sensível. Demasiado.

Se Portugal fosse uma monarquia, ninguém iria pedir ao rei para demitir o primeiro-ministro. O que deveria acontecer, isso sim, era o primeiro-ministro ir até Belém e explicar, bem explicadinho ao rei, os motivos pelos quais ele considera não ter condições para continuar sentado em São Bento e apresentar, humildemente, a demissão, reconhecendo o seu fracasso político.

O rei existe precisamente para evitar que um líder de um partido, seja ele PS ou PSD – ou até um almirante recém-promovido a herói de Nação –, possa fazer jogos e joguinhos políticos, manipular a Comunicação Social e fazer-se de vítima para criar condições que o permitam proteger-se, e até surgir renovado, de um qualquer botão atómico em Belém.

O rei existe para que nenhum político profissional possa manipular a ordem pública e chegar a Chefe de Estado, ou usar a figura do Chefe de Estado para o desculpar dos seus erros. Sim, sei que o sistema monárquico tem falhas, pois os reis também são humanos e sujeitos a fragilidades ou a acções de carácter dúbio.

Mas pensem ainda numa outra coisa: um povo pode existir sem um rei, mas vive manipulado pela república e por uns quantos que fazem disso um jogo político. Agora, um rei nunca o poderá ser se não tiver um povo que o apoie.

E um rei, nunca usará uma bomba atómica contra o seu próprio povo.       

Frederico Duarte Carvalho é jornalista e escritor


N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

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