Há dias, o regime socialista que nos governa há mais de 49 anos exultava com os dados do crescimento económico para o primeiro trimestre de 2023: uma variação positiva de 1,6% em relação ao trimestre anterior, muito superior à média de 0,3% da União Europeia (EU-27), e de 2,5% em relação ao primeiro trimestre homólogo (2022).
De imediato, os avençados soltaram hosanas ao feito ímpar: “A Economia [portuguesa] cresce melhor do que as outras, as exportações estão a bater recordes, o crescimento do consumo privado sobe, a inflação desce. Entretanto, o governo está, digamos, como está. Talvez não precisemos de governo”. Uma espécie de Alice no País das Maravilhas!
Há, no entanto, um enorme senão. O crescimento económico de um dado país deve debruçar-se sobre séries longas e não num foguetório de um trimestre que aparentemente correu bem. Basta analisarmos a partir do ano anterior (2019) ao início da falsa pandemia.
Excepto a Eslováquia, igualmente um país pobre, o crescimento económico acumulado até 2022 de Portugal apenas superou o desempenho de países consideravelmente mais ricos, como a Áustria, a França, a Itália e a Alemanha. Até a bancarroteira Grécia, a TAP dos países da UE-27, logrou melhor registo!
Infelizmente, e apesar da propaganda de cravo na lapela todos os anos, o socialismo e o Estado Social em nada contribuíram para a educação da população, que apenas não é a mais ignorante em matérias financeiras da UE-27, porque existe a Roménia para ocupar esse lugar – aquele país que viveu o horror comunista durante décadas.
Por aqui, podemos concluir que o trabalho dos órgãos de propaganda está muito facilitado. Os personagens que tomam conta disto há décadas, em particular os que pululam pelos dois partidos socialistas, podem soltar as patranhas que entenderem, já que a população tudo come.
Não estranha que ninguém se iniba em votar e aplaudir os discípulos e ajudantes do famoso engenheiro, aquele que obteve oficialmente a licenciatura a um Domingo – lembram-se?
O tal que elaborou um plano tecnológico que nos ia retirar do subdesenvolvimento atávico. O tal que vendeu computadores Magalhães ao Sr. Chávez. O tal que tratava aos gritos o seu amigo por este não terminar umas obras na sua milionária casa em Paris – atenção: a casa não era do engenheiro, mas do amigo!
O tal que afirmou ser detentor de um milhão de contos num cofre que recebeu da mãe como herança, apesar de até hoje não sabermos como o converteu para Euros e por que razão mandava o Perna pagar o cabeleireiro da sua mãe milionária.
O tal que ordenava o Perna a comprar livros de que era o suposto autor – pagou a um amigo para o escrever, incapaz de tal glória – para o elevar ao topo das vendas nacionais.
O tal que ordenava ao amigo que lhe enviasse livros, estantes ou bibliotecas de notas, consoante as necessidades e anseios de cada momento. Enfim, o tal que nos deu a gloriosa bancarrota, a terceira do actual regime.
Neste contexto, não deve gerar qualquer estupefacção a gestão das empresas públicas – o socialismo gosta de dizer que são de todos –, em que os gestores são meros capatazes ocupantes de gulosas sinecuras. Obviamente, o resultado são sempre colossais prejuízos e perdas sem fim, cobertos por sucessivos assaltos à população, que aparentemente sofre da síndrome de Estocolmo, tal o enxovalho que sofre há décadas.
Como pode alguém se surpreender que uma pessoa íntima do nosso engenheiro tenha combinado as perguntas e as respostas com a ex-directora geral – agora é mais elegante CEO! – da bancarroteira nacional, mais conhecida por TAP?
Como pode alguém se surpreender que o personagem tenha chamado os serviços secretos para investigar – será mais intimidar! – a alegada invasão do Ministério das Infraestruturas pelo seu ex-adjunto, que, segundo o próprio, queria apenas levantar bens pessoais e um computador que continha as notas da famigerada reunião com a ex-directora geral, onde previamente se combinara as perguntas e respostas da sua audição na Comissão de Inquérito à bancarroteira nacional.
Como pode alguém se surpreender que o Governo liderado pelo excelso admirador do nosso engenheiro não seja capaz de colocar tal personagem na rua!? Pelo contrário, negava-se a aceitar a sua demissão.
Como pode alguém se surpreender que o famoso glosador de televisão, perito num amplo leque de temas, da política à bola, eleito de forma esmagadora pelo iliterato povo a Prócere da República, não seja capaz de mandar este grupo de salteadores para o olho da rua.
Assim, há dias, foi natural a sua prédica à Nação: não despedia, mas ia estar atento! Agora é que era; até aqui, atenção, tinham sido apenas selfies, comentários triviais, análises futebolísticas, passeios sem fim à nossa conta e absoluto desprezo das liberdades do plangente e sandeu povo, que era suposto garantir e defender pela CRP.
A partir daqui, o pundonor da sua presidência estava a salvo, dado que passaria a dar a máxima atenção aos “problemas do dia-a-dia”, da habitação à alimentação! Agora sim, para além do escrutínio, o esperado tau-tau, semelhante àquelas perseguições das nossas mães com um chinelo: muito barulho, pouco impacto e, no fim, um enorme riso.
Apesar de tudo, o arrufo não foi suficiente para o Meijengro da República se dar conta dos quatro milhões de pobres, o maior produto do socialismo, e de que estamos a caminho de ser o país mais pobre da Europa, apesar dos encómios dos avençados aos salteadores que nos governam.
Tenhamos esperança, embora as raposas continuem no galinheiro, temos agora um observador atento aos nossos “problemas do dia-a-dia”. Estamos agora mais tranquilos!
Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário
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