Descobri por acaso a Simonetta Gatto, uma linda criatura nascida no Zimbabwe de pais italianos, nascida em movimento.
Com a Simonetta, que escolho mencionar hoje sem a avisar previamente, descobri, de uma forma doce e singela que Bolonha, a cidade que desenhou novos contornos no mundo académico nas últimas décadas, era a Manhattan da Idade Média, tendo sido alcunhada de “La Turrita” graças a um fantástico skyline de mais de 150 torres, 22 sobreviventes aos nossos dias.
Eram tantas, que o terreno até aluiu. Uma coisa que acontece quando muitos gigantes de egos bicudos se empilham demasiado próximo. Coisas de torres, portanto…
Outras coisas próprias de torres é servirem por exemplo para as treparmos, nem que seja com ideias mais revolucionárias. (Toca o sino!)
Foi o caso de Galileu que subiu uma das torres, ainda hoje viva, para cismar em atirar diferentes objectos de lá de cima e tecer as suas ideias sobre gravidade e velocidade terminal. Assim vemos que, por vezes, até torres que ameaçam a terra podem ter o seu uso no ar, nem que seja para atirar algo de lá de cima. Com diferentes formas, pesos, materiais, lá ia tudo caindo até cá baixo. (Experiências nocturnas claro, para não acertar em ninguém no cocuruto.)
– E como conseguia Galileu rigor científico nas suas experiências? – perguntei eu na minha mente, e Simonetta respondeu-me:
– Um pêndulo construído com toda a precisão, de um tempo que andava devagar, e um pequeno coro de Jesuítas entoando em uníssono um cronómetro musical. Não era perfeito, mas era perfeito para aquele tempo.
Assim se tentava refutar o princípio da equivalência de Aristóteles, que postulava que o mais pesado caíria mais depressa. Começou-se o trabalho. Mas só se concluiu parte dele em 2017.
Mesmo Einstein teorizou em fórmulas, mas não conseguiu verificar; teve de ser um pequeno satélite francês a concluir a experiência de Galileu em órbita (será que também tem coro de Jesuítas?), e assim se vê como a Ciência atravessa séculos para responder a uma singela pergunta, em que na verdade a maioria de nós nem entende o porquê de tal curiosidade.
Torres e imperadores.
Ambiciosos e visionários gigantes que dizem para onde devemos ir. Como devemos viver. Que ajardinam o mundo para nos estender a todos na relva (e enterrar). Especialistas em maquinar políticas em corredores escuros e sinistros, globalistas que tecem uma teia e berram ameaças. Se o mar nos engolir, se o sol nos incendiar, se os vírus nos devorarem… eles terão a solução: controlo.
A máscara, a vacina semestral, a moeda digital, o rastreamento do teu movimento, da tua alimentação, dos teus comportamentos. Da queda em velocidade terminal que os aguarda eles movem-se na fé de que se subirem alto o suficiente serão a ave de rapina que paira sobre nós ratinhos, de garras estendidas.
Já se viu em Bolonha, nas torres ou na uniformização do ensino superior disfarçada de liberdade de movimento e garantia de qualidade. Uniformização é a chave, esmagar a anomalia.
Porque este imperador (certamente uma teoria de conspiração) considera as anomalias um risco (para o topo das torres).
E o pêndulo construído com toda a precisão, de um tempo que anda depressa, que nos acerta nas costas e empurra-nos para a esquerda e para a direita. Pensamos nós, ratinhos, que existe diferença, enquanto as torres se empilham nos nossos ombros e nós como terra, aluímos.
Pobre do imperador, todo nu, não sabe ele na sua infinita arrogância, que nós que vivemos em tocas somos a massa que edifica este mundo. Nós que escavamos a terra e abrigamos as nossas crias experimentamos um amor que ele nunca conhecerá.
Nós, que vivemos com medo, quando na verdade temos o poder, nas nossas mãos e nos nossos pés descalços. Porque nós fazemos parte deste Mundo, e eles, lá em cima, vão ficar a pairar no silêncio infinito da nossa órbita.
No fim, todos caímos, à mesma velocidade.
Mariana Santos Martins é arquitecta
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