A imaginação do Ministro das Finanças não tem limites.
Descobriu (também não era difícil) que os portugueses, há muito, tinham deixado de poder comprar veículos novos, muito pela sobrecarga dos impostos que têm de pagar, e encontrou uma solução para aumentar as receitas: cobrar impostos mais elevados aos carros com data de matrícula anterior a 2007.
Segundo as contas de Fernando Medina, o Imposto Único de Circulação aumentará, para todos, à taxa de inflação, mas será mais penalizador para os mais antigos.
Contas feitas por especialistas garantem, no entanto, que há a possibilidade de veículos, a gasóleo, anteriores a 2007, terem um agravamento do IUC de 1.746%.
Vou escrever por extenso para se perceber bem: mil setecentos e quarenta e seis por cento!
Esperemos que a inflação não chegue a esses números…
O jornal ECO fez contas e concluiu que o IUC dos automóveis a gasolina aumentará, em média, 347% e os carros a gasóleo contarão com um aumento médio do imposto de 591% durante os próximos anos”.
A “desculpa” dada para este aumento prende-se com a diferença actualmente existente no imposto pago entre alguns carros, a gasóleo, com matrículas anteriores a 2007 e os mais recentes.
Garante o Governo que, por uma questão de justiça, se deveria diminuir essa diferença que chega a ser de sete vezes menos para os mais antigos.
“Esquecem”, todavia, que os carros com matrícula anterior a julho de 2007 pagam hoje menos IUC (tal como nos últimos 16 anos) porque pagaram mais impostos no momento da sua aquisição.
A realidade é que os carros velhos, de modo geral, são usados pelos portugueses de meia idade e idosos, muitos deles sobrevivendo, unicamente, com reduzidas pensões.
Ou por trabalhadores com salários baixos, que precisam do seu automóvel para a labuta diária, mas sem dinheiro para o mudar por um mais novo.
Tudo gente que raramente recebe uma boa notícia e que, quando tal acontece, sabe convictamente que a sua alegria não vai demorar muito.
Aumento na pensão?
Em breve chegará um aviso das Finanças com um novo imposto de valor superior a tal aumento.
Fim das taxas moderadoras?
Aumento substancial nos medicamentos.
Muitíssimos trabalhadores portugueses, bem como praticamente todos os pequenos empresários, repito, têm o seu automóvel como uma “ferramenta” absolutamente essencial para o desempenho da sua profissão.
Custa-lhes caro.
Os combustíveis não param de aumentar, as reparações são absurdamente caras, tal como os seguros.
Com este aumento num dos impostos a situação vai piorar ao nível do incomportável.
Pode optar por mandar a viatura para abate, a troco de cem euros, e passar a andar de transportes públicos.
Se e quando os houver.
Se, porque em muitas localidades são uma miragem.
Quando, porque são imensos os dias em que estes não cumprem os horários, seja pelo número de greves, seja por avarias ou, simplesmente, pela incompetência de gestores e preguiça dos motoristas.
Tentei deixar de lado estas notícias, para não deteriorar, ainda mais, a minha saúde e começar a pensar em coisas mais agradáveis.
Decidi preparar um petisco e sentar-me a ler um bom livro.
Chegado à cozinha, olhando em volta, fiquei em pânico.
Quando é que o Medina vai pensar em criar impostos sobre os electrodomésticos antigos?
Se não pelo ambiente (desculpa que tem servido para tudo), por razões estéticas, por exemplo.
É que o meu frigorífico já não vai para novo, o fogão tem o forno a trabalhar a cinquenta por cento e o micro-ondas faz birras.
Sabendo que a diferença entre um cidadão vulgar e um membro do Governo é que enquanto aqueles se deparam com problemas estes arregalam os olhos perante oportunidades de fazer dinheiro, a constatação do estado destes aparelhos é um péssimo presságio.
Este país não é o mais indicado para a “peste grisalha”, avisou-nos um deputado, que muitos apelidaram de imbecil, mas que, com toda a certeza, não corre o risco de ver aumentar o imposto dos seus automóveis.
É menino para ter vários, mas todos comprados nos últimos anos.
Tivesse eu força e coragem e seguiria o conselho de outro político, não menos imbecil, e emigraria.
Vítor Ilharco é assessor
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