Tinta de Bisturi

Quatro exemplos de luta

medical professionals working

por Diogo Cabrita // Dezembro 11, 2023


Categoria: Opinião

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Recentemente, numa reunião do Ministério da Justiça, ouvi o professor de Psiquiatria Miguel Xavier, coordenador nacional das políticas da Saúde Mental, a zurzir as decisões e procrastinação de Marta Temido a propósito da ineficiência e desleixo neste sector. Foi dito o que Maomé não contava dos toucinhos. “Demitam-me se estou errado”, assim protestava a gestão técnica sobre a governação. Um homem com obra conhecida na matéria, insurgiu-se diante do público de modo categórico.

Entretanto, ouvi na televisão esta semana, António Levy Gomes, diretor de Neuropediatria do Hospital de Santa Maria – que denunciou o caso das gémeas luso-brasileiras –, a distribuir pancada em Marcelo, no filho dele e em António Costa. Para Levy Gomes, esta ‘santíssima trindade’ era toda corrida por utilização indevida, por usurpação de funções demonstrada por e neste caso.

Acresce a isto ter-me chegado numa publicação o depoimento de Carlos Matias Ramos, ex-presidente do LNEC e antigo bastonário da Ordem dos Engenheiros, que considera que os valores apresentados pelo presidente da ANA, José Luís Arnaut, para a construção do aeroporto em Alcochete, não são verdadeiros. Homem da sociedade civil, como os descritos anteriormente, ele demonstra desde há vários anos como Alcochete é a melhor solução.

Recordo ainda de memória os depoimentos de instituições da sociedade civil sobre criações aberrantes do Estado onde ficava patente a deriva na gestão dos problemas e as oportunidades perdidas de fazer melhor. O bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas chamava a Entidade Reguladora da Saúde a entidade de cobranças coercivas.

Por sua vez, Santana Castilho tem escrito no Público dezenas de críticas pertinentes às políticas de Educação e demonstrado como o harmónio de decisões transporta uma ineficiência e uma incapacidade de gerir o problema.

Enfim, há um incontável número de artigos de opinião espalhados pelos jornais que revelam a frustração dos que trabalham, e por esse método guindam a cargos de direcção, com o poder ao centro.

As reformas estão por fazer e os protagonistas têm sido o PS e o PSD, que se intercalam na governação desde o 25 de Abril. Produzimos necessidades que nos distraem, discursos que nos retiram do essencial e que projectam obras ineficientes, mas o primordial está sempre a patinar. A verba de correcção das ineficiências nunca chega ao poder próximo e, desse modo, os que podiam fazer porque sabem, os que podiam decidir porque estão na essência do conhecimento, nunca encontram afinal respaldo na política para a execução.

A sociedade civil não está morta, como o demonstram estes quatro seres superiores, mas está revoltada e cansada.   

Diogo Cabrita é médico


N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

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