Prestes a chegar ao fim de mais um ano tentei recordar algumas das situações que me fizeram descrer, ainda mais, da capacidade dos nossos políticos.
Lembro-me de criticar fortemente, há cerca de quarenta anos, quando tinha que escrever, diariamente, sobre a política portuguesa, os líderes de então: Mário Soares, Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Álvaro Cunhal.
Hoje, olhando para as principais figuras dos diversos partidos, sinto que não teriam capacidade, sequer, para carregarem as pastas dos seus antecessores.
Tento lembrar o que pensam, quais são as suas prioridades, os seus projectos, as suas ideias e… fico deprimido.
Recordo algumas das suas posições públicas e… tremo.
Vejamos:
Rui Rocha (acredito que não saibam quem é), líder da Iniciativa Liberal, consegue dizer, sem se rir, que “os dados que temos é que a Iniciativa Liberal vai crescer. Para os 15% é difícil, mas somos liberais e ambiciosos.”
Fiquei esclarecido.
Passei para o outro extremo e dei de caras com um rapaz igualmente desconhecido, de seu nome Paulo Raimundo, que vinha com a originalidade de “apoiar as médias, pequenas e micro empresas”.
Passei à frente.
Do homem do Livre, Rui Tavares, lembrei-me do momento em que se dirigiu ao Presidente da Assembleia da República, informando que tinha de sair mais cedo e pedindo-lhe que autorizasse a entrega de um papel com a indicação de como queria votar todas as matérias que faltavam até ao fim da sessão.
Sempre deu para rir.
Uma proposta da senhora do PAN criou-me expectativas. Queria que “os animais de companhia não pudessem ser deixados sozinhos, sem companhia humana ou de outro animal, durante mais de 12 horas, nem alojados em varandas, alpendres e espaços afins, sem prejuízo de presença ocasional nesses locais por tempo não superior a três horas diárias.”
Aguardei que viesse com proposta idêntica para seres humanos idosos, ou sem abrigo, mas como se esqueceu…
Confesso que tinha, por Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, uma enorme admiração e respeito pela coragem, frontalidade e conhecimento profundo dos dossiers e condução dos interrogatórios nas Comissões de Inquérito impedindo que os depoentes se refugiassem no esquecimento.
Entretanto, também ela se esqueceu de que estava em regime de exclusividade, na Assembleia da República, e não podia receber dinheiro por comentários televisivos. Perdeu um pouco da sua credibilidade, mas…
De André Ventura, o que dizer?
O seu discurso é preocupante, mas a dimensão do ódio em todas as suas intervenções, e o acentuado egocentrismo, não convencerão a população portuguesa.
Aponta, como diferença em relação aos restantes partidos, que no seu não há indícios de corrupção ou fraude.
Por acaso o Tribunal Constitucional já anulou um Congresso, por ilegalidades, e os seus estatutos foram rejeitados cinco vezes.
Miguel Sousa Tavares deu a sua opinião: “O Chega não está envolvido em corrupção porque não tem poder. Deixem-no ter poder e vocês vão ver.”
Nas próximas eleições, até pode ter um bom resultado, atendendo a que é um partido extremista, mas nem sequer os eventuais interessados em coligações estarão confortáveis com a companhia.
Restam os representantes dos dois partidos que, habitualmente, disputam o Poder.
Considero Luís Montenegro o mais fraco de quantos líderes (e já foram muitos, e alguns por curtíssimos períodos) passaram pelo PPD e pelo PSD.
Foi o único político que ganhou com a queda do Governo, porque nunca disputaria as eleições se este durasse os quatro anos.
As suas intervenções são de uma pobreza atroz.
As suas tentativas de fazer humor levam às lágrimas de desespero os militantes do partido.
Questionado sobre o Orçamento de Estado, um dos mais importantes documentos do nosso País, deu a sua opinião científica:
“O Orçamento é pipi, bem apresentadinho e muito betinho que parece que faz, mas não faz.”
A análise política ao seu adversário directo:
“Deus nos livre de ter um radical no Governo. Não se chama camarada Vasco, chama-se camarada Pedro e tem uma cinderela chamada camarada Mortágua.”
Nunca explicados os contratos, por ajuste directo, que o seu escritório de advogados conseguiu com Câmaras Municipais lideradas pelo PSD.
De Pedro Nuno Santos, lembro o caso do aeroporto, apresentado à revelia do Chefe do Governo, a indemnização à CEO da TAP, que desconhecia, mas tinha no seu telemóvel e a necessidade da sua demissão de Ministro.
Tanto ele como Montenegro têm problemas de impostos com as suas casas.
Conclusão:
Não é preciso ser exaustivo para temer o pior.
Resta-me uma consolação: seja qual for a solução, que se vá encontrar nas próximas eleições, não será para durar.
E as próximas terão (é impossível que não tenham) melhores líderes a concorrer.
Ataquemos, então, as filhoses e esperemos por 2024.
Vítor Ilharco é assessor
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.