CARTAZES HÁ MUITOS

CDU: ‘É hora. Mais força à CDU’

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Faltam menos de 25 dias para as eleições legislativas antecipadas em Portugal, com as comemorações do 50º aniversário da Revolução dos Cravos como pano de fundo, um dos momentos mais marcantes da nossa história democrática. O mês de Abril e os seus princípios inspiram as propostas do Partido Comunista Português (PCP), enraizado na ideologia marxista-leninista. Desde a sua origem em Março de 1921, o PCP tem sido um pilar essencial na evolução dos movimentos operários portugueses, desempenhando um papel significativo na consciencialização e no desenvolvimento político das massas trabalhadoras.

 Em 2022, Paulo Raimundo foi escolhido para assumir o papel de líder do PCP, sucedendo ao histórico Jerónimo de Sousa. Trabalhou em carpintaria, foi padeiro e animador cultural na Associação Cristã da Mocidade na Bela Vista. Desconhecido para a maioria dos portugueses, é no entanto reconhecido no partido pelas suas qualidades humanas e pela vasta e diversificada experiência política. Raimundo traz consigo uma trajectória marcada por múltiplas áreas de actuação, incluindo sindicatos e o acompanhamento de empresas e serviços públicos. Nas eleições antecipadas de 2024, Raimundo encabeça assim a lista da CDU — Coligação Democrática Unitária, em Lisboa.

Mupi da CDU na Avenida da República, em Lisboa. Foto: ©Sara Battesti

O perfil do eleitorado da CDU revela uma distribuição diversificada com  destaque para a faixa etária acima dos 54 anos, mas curiosamente com uma participação significativa de jovens adultos. E recebe grande apoio de pessoas com menor escolaridade, enquanto a diferença entre os votos de homens e mulheres é praticamente inexistente.

Desde Janeiro, na campanha que se vê nas ruas, especialmente em vários mupis, destacam-se promessas como a criação de uma rede pública de creches, aumento de salários e pensões, direito à saúde e melhorias nos transportes públicos. Numa recente sondagem da Católica apresentada no jornal Público, a Saúde e Educação são os assuntos que mais preocupam os inquiridos, com respectivamente 72% e 48% pelo que os temas da campanha do PCP são certeiros.

O slogan “Basta de injustiça!” é uma presença comum nesses materiais, reflectindo a tradição do PCP em denunciar problemas e mobilizar a população para construir um país mais justo. No entanto, “Basta de injustiça!” tornou-se um leitmotiv bastante desgastado, amplamente usado não só noutras ocasiões, como também por outros líderes, nomeadamente em 2007 por Jerónimo de Sousa.

Mupi da CDU na zona do Beato, em Lisboa. Foto: ©Sara Battesti

Consistente na sua abordagem panfletária, diversifica o chamamento ao protesto bem como convoca a população à construção de um futuro para Portugal com base numa distribuição de riqueza mais justa. O facto de ter sido um dos partidos que apoiou o governo de António Costa por seis anos fez com que se acalmassem os sindicatos com a redução da intensidade da luta.

Durante a pandemia, o PCP nunca adoptou uma postura de confronto com as medidas restritivas que foram impostas, as quais prejudicaram severamente as classes mais desfavorecidas. Ora, desde os trabalhadores precários até aos operários fabris, as medidas tiveram como consequência o agravamento das disparidades de género e raciais. Se porventura o partido proclama a defesa dos desfavorecidos aos quatro ventos, quando chega a hora de agir, parece recuar, o que levou alguns eleitores a afastarem-se. Porém, ao ser um dos partidos responsáveis pela queda do governo, o PCP voltou a assumir a defesa da classe operária, embora deixando de ser uma proposta revolucionária para se tornar reaccionária. Há muito tempo que deixou de nos oferecer sonhos para apenas constatar doenças. Para muitos, esses seis anos são imperdoáveis e, sem dúvida, deixaram uma marca indelével no PCP.

Nesta primeira fase de campanha, as cores predominantes são o verde, roxo e azul com a mensagem grafada num lettering geralmente aberto a branco. Se porventura, a composição é reconhecível ao longe, a leitura da mensagem ao ser muito descritiva requer demasiado tempo, o que reduz o impacto desta campanha old fashion. Os motivos integram fotografias de pessoas com um filtro de cor verde, o que resulta bastante mal lembrando vultos extraterrestres. Muito embora a presença humana permita sublinhar a empatia com o povo, resulta num design definitivamente pouco atractivo.

Cartaz 8×3 da CDU ©DR

Curiosamente, somente na versão de grande formato 8×3 metros é que está representado o líder, aqui também com um filtro azul que acompanha a cor de fundo como parte da identidade CDU. Uma opção que evidencia distância, com o Raimundo que não olha de frente como sugerem os preceitos do marketing político. O resultado é uma composição antiquada que denuncia um partido envelhecido que opta por modelos que pouco se adequam ao actual panorama social, político, e até mesmo comunicacional.

Em Fevereiro, surge uma nova fase de campanha que aposta numa composição refrescada com um impactante retrato de Paulo Raimundo em grande destaque. De visual mais contemporâneo, o cartaz dá ênfase a valores de esperança e a confiança, apelando à união do eleitorado. A fotografia foi extremamente bem produzida, tendo como fundo árvores frondosas de cores outonais que sugerem uma quinta ou um jardim. É nesta representação da natureza que reside o apelo emocional, para evocar emoções como esperança e confiança simbolizada à verticalidade das árvores.

Agora, não se percebe por que o PCP não apostou num secretário-geral com maior projecção pública, que transmita uma imagem de menor ortodoxia, como João Ferreira, e preferiu optar por uma figura sem qualquer reconhecimento público. Neste cartaz, denota-se uma clara intenção de tornar a imagem de Paulo Raimundo mais atractiva. Apresenta-se de forma bem cuidada e olha para a o meio da lente da câmara de modo a nutrir um elo de confiança e intimidade com o eleitorado (real e potencial).

Nova campanha de Outdoor do PCP © DR

Dispensa a gravata — outra coisa não seria de esperar—, usando um vestuário informal mas elegante, combinando o castanho de um blusão numa alusão à terra, e o azul eléctrico da camisola de lã que sobressai e atrai o olhar das pessoas. Esta renovação de imagem é crucial para poder gerar um vínculo positivo e formar a opinião do eleitorado. De composição simples, esta é uma fórmula clássica feita a partir de uma única fotografia retratando o líder em plano americano, com a expressão grifada “É hora. Mais força à CDU.” Enquanto apelo directo e claro, é uma mensagem curta e fácil de memorizar a que está subjacente o mote “a união faz a força”. Ao contrário de outros cartazes políticos destas eleições, Raimundo encontra-se no centro do cartaz e não num dos lados, inserindo-se mensagem do lado esquerdo, aliás como no caso do Bloco de Esquerda.

Aqui, o logótipo PCP-PEV é ajustado para encaixar a cruz do boletim de voto. O headline usa a fonte identitária da Coligação Democrática Unitária, permitindo à sigla do CDU estar somente escrita em prol da simplicidade e clareza. Uma acertada aposta nesta campanha que transmite uma postura de homem de estado, compensando o facto do secretário-geral do PCP ser estreante nos palcos televisivos e estar em franca desvantagem face aos adversários.

Surpreendente é verificar que nestas eleições legislativas de 2024, a CDU é a terceira força política que mais gasta com uma previsão de investimento de 785 mil euros, o que corresponde a um aumento de mais 90 mil euros comparativamente a 2022. Um dos motivos é ter uma campanha de cartazes com uma distribuição alargada pelo território nacional.

A força. Ilustração Ruy Otero a partir de fotografia de arquivo

A fotografia de Raimundo neste ambiente natural permite assim transmitir uma mensagem de proximidade e autenticidade. Contudo, a CDU enfrenta desafios nas últimos sondagens, com apenas 2% de intenções de voto, sendo ultrapassada pelo Livre que alcança 3%. Estas sondagens revelam que o surgimento de novos partidos que diversifica o cenário político nacional, tem também desafiado o protagonismo do PCP.  Muito por culpa própria, ao ter-se afastado da sua raiz poética, dando claros sinais de que a sua noção de funcionamento do mundo ainda é do século XIX. Proletariado e capitalismo…onde é que isso já vai!

Como observou o político e filósofo polaco Schwartzenberg, a política moderna tende a focar mais em pessoas e personagens do que em ideias. Apesar disso, é essencial uma regeneração na classe política para manter a democracia resiliente. À medida que nos aproximamos da votação de 10 de Março, resta saber como o eleitorado responderá a um partido cuja base de apoio está em declínio. Não obstante a abstenção e o envelhecimento da base de apoio, cabe a nós não sucumbirmos a projectos pouco democráticos (e não estou a falar do Chega), mas que, por estarem tão distantes da essência humana, correm o risco de falhar, como aliás se faz sentir um pouco por todo o mundo ocidental. Como é referido nalguns meandros das redes sociais, o primeiro passo é não nos darmos ao luxo de permitir que pensem por nós.

Sara Battesti é especialista em Comunicação


Avaliação do cartaz

Design: 2/5

Impacto: 2/5

Eficácia: 2/5

Média: 2/5


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