Recensão: As melhores histórias do melhor amigo

A comovente homenagem aos eternos amigos

por Maria Afonso Peixoto // Abril 14, 2023


Categoria: Cultura

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Título

As melhores histórias do melhor amigo

Autores

Vários

Editora (Edição)

Parsifal (Outubro de 2022)

Cotação

15/20

Recensão

Este As melhores histórias do melhor amigo é um livro sobre o amor. Uma das mais bonitas, fraternas e universais formas de amor – a que existe entre o Homem e o seu eterno melhor amigo de quatro patas: o cão.

O fundador e editor da Parsifal, Marcelo Teixeira seleccionou quase uma vintena de breves contos e textos, escritos por reputados autores nacionais e internacionais, para homenagear os nossos sempre fiéis companheiros.

 É, por isso, verdadeiramente, uma coletânea de histórias de amor. Alguns escritos são de carácter ficcional, outros contam experiências reais. Cada um deles descreve uma vivência diferente, e em todos a emoção é tónica muito presente, com a relação (ou as relações) entre humanos e canídeos como protagonista.

Formado em Arqueologia e História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Marcelo Teixeira dedicou grande parte da sua vida às letras, sobretudo como editor, onde se destacou como coordenador editorial da Oficina do Livro, antes de fundar a Parsifal em 2013. É co-autor dos livros de poesia Terna Ausência (2005) e Santo Ofício (2006), e dos livros História(s) do Estado Novo e Reflexões sobre a expedição punitiva norte-americana no México na imprensa portuguesa.
Como o próprio assume, esta obra sobre a paixão por canídeos não teria surgido se não fosse a insistência dos seus filhos para que acolherem, na família, um novo membro, quadrúpede e peludo.

Nesta “enxuta” obra de apenas 156 páginas, podemos assim ler escritores, vivos e já falecidos, tão distintos como Mark Twain, Anton Tchékhov, José Luís Peixoto, Machado de Assis, Sérgio Luís de Carvalho e Filomena Marona Beja. Todos os textos são uma ode a essa encantadora espécime que são os canídeos e a quem, como tão bem elucidam as palavras de Sérgio Luís Carvalho, “pouco falta (…) para serem humanos; e o que lhes falta apenas reverte a favor deles”.

O “acervo” escolhido é bastante heterogéneo: alguns contos ou fábulas, bem-humoradas, arrancam-nos um sorriso aberto ou até mesmo uma gargalhada, enquanto outras suscitam-nos comoção, nostalgia ou compaixão.

Assim, com Tchékhov, em A senhora do cãozinho, um lulu-da-pomerânia branco testemunha o início de uma história de amor. Em Rumo ao primitivo, de Jack London, temos um cão estilo “super-herói” chamado Buck. O cómico e indiscreto Black, um bull-terrier, é responsável pelo desenlace de um casal, ao “denunciar” o caso de dois amantes, no conto de Artur de Azevedo. Já Mark Twain, em A história de uma cadela, fala-nos sobre uma família canina bastante erudita, em que a mãe, uma collie, sabe, inclusivamente, que a palavra “agricultura” é um sinónimo de “incandescência intramural”.

Marcelo Teixeira salienta, e bem, na introdução, a omnipresença destes animais na arte, na literatura, na cultura, e no quotidiano do Homem desde tempos imemoriais. Conseguirá alguém imaginar um mundo sem cães? O amor incondicional, a alegria, a lealdade, a proteção e a companhia que proporcionam aos seus bípedes pais adoptivos não têm par, e por isso esta homenagem a estes seres deveras especiais é uma justa retribuição.

Vale muitíssimo a pena ter este livro em casa – com ou sem cão –, já que a sua aquisição é um ganho duplo: por um lado, acrescenta-se à biblioteca um tributo enternecedor a estes nossos fiéis amigos de quatro patas sob a forma de peças literárias imaculadas; e, por outro, contribui-se para a Associação Zoófila de Leiria – Fiéis Amigos e para a Associação Protectora de Animais da Marinha Grande, já que as receitas obtidas com as vendas revertem, na totalidade, a favor destas instituições.

Deixo apenas uma advertência: quem não for já dono de um bichinho destes, poderá, com a leitura deste livro, ser assaltado por um forte desejo de se dirigir ao canil mais próximo e levar um consigo para casa. Se for o caso, não resista. É que, e para concluir, citando novamente Sérgio Luís de Carvalho: “E – vejam bem o que os cães nos fazem – mesmo sendo ateu convicto desde a minha juventude, chego muitas vezes ao ponto de agradecer a Deus por os ter criado”.

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