Título
O obstáculo é o caminho
Autor
RYAN HOLIDAY (tradução: Maria Saraiva)
Editora (Edição)
Lua de Papel (Junho de 2023)
Cotação
15/20
Recensão
Ryan Holiday auto-descreve-se como escritor e estratega dos meios de comunicação social. Aos 19 anos terá abandonado a faculdade para se tornar aprendiz de Robert Greene, um dos autores do livro As 48 leis do poder.
Fundador da agência criativa Brass Check, afirma-se ainda como conselheiro de empresas como a Google, a TASER e a Complex, bem como de diversos autores como Neil Strauss (Regras do jogo), Anthony Robbins (O poder sem limites) e Tim Ferriss (4 horas por semana).
É também autor já de uma dezena de livros, entres os quais A quietude é a resposta (Lua de Papel), Estoico todos os dias (Lua de Papel) e O ego é o seu inimigo (em português do Brasil, pela Editora Intrínseca). Livros que se inspiram no chamado estoicismo da Antiguidade Clássica.
Só por isso, talvez valha a pena pegar neste O obstáculo é o caminho, também publicado pela Lua de Papel, pois, tal como o Ryan Holiday sugere, mais do que ler livros sobre os clássicos, é melhor ler o que os próprios filósofos terão escrito, nomeadamente, Meditações de Marco Aurélio, ou Sobre a brevidade da vida, de Séneca.
Será, portanto, natural que, no decorrer da leitura, a curiosidade vá aumentando, no sentido de se querer conhecer os princípios do estoicismo, a partir dos quais também este O obstáculo é o caminho se desenvolve.
De salientar que, para quem não conhece o estoicismo, as suas origens e tão-pouco os seus princípios, este pode ser, efectivamente, um ponto de partida interessante, sobretudo por ser de leitura fácil, pela simplicidade da escrita. Além disso, na tradução do livro, optou-se por tratar o leitor por "tu", o que poderá resultar numa sensação de proximidade.
O livro está dividido em três partes: “perceção", "ação" e "vontade”. As partes para compreender e agir sobre os obstáculos, e, finalmente, para persistir e perseverar nessa jornada. Para cada uma das secções, o autor recorre a exemplos de pessoas que ficaram famosas pelos seus feitos, identificando-as como personalidades com atitude e pensamento estoicos.
A título de exemplo, o primeiro presidente dos Estados Unidos, George Washington, terá recorrido com frequência a Catão, o Jovem – um dos primeiros estoicos da Antiguidade Clássica – nos seus discursos para as tropas, aquando da Guerra da Independência. Steve Jobs e Margaret Thatcher são outras pessoas referenciadas, entre muitas ao longo do livro.
Ainda que seja incerto que essas pessoas se tenham assumido como estoicas, Ryan Holiday consegue neste livro cativar aqueles que estejam em busca de uma orientação para alcançar os seus objectivos. É assim mais um livro de auto-ajuda que poderá ser útil a quem procura mudança na sua vida profissional, em particular aqueles que acreditam que basta desejar e visualizar o sucesso, como é apanágio agora de algumas correntes ‘New Age’.
Em todo o caso, ao invocar alguns dos princípios do estoicismo, Ryan Holiday está sim a mostrar que a vida é constituída por um conjunto interminável de obstáculos. Embora não seja nada de novo, é um bom lembrete mostrar que a ilusão é apenas e somente isso mesmo: uma ilusão. Não basta acreditar que tudo se resolverá, que os astros se vão alinhar e que tudo será possível, que basta querer e seremos famosos ou pessoas de sucesso.
Este livro tem assim essa grande vantagem: a de lembrar, aos mais ingénuos, que a vida, o mundo e a realidade são como são e não vale a pena perder tempo a desejar que fosse de forma diferente. Nesse sentido, é um livro prático, por recordar que os obstáculos, os percalços, as vicissitudes da vida são inerentes à existência e que quanto mais rápido se aceitar que assim é, mais rápido se aprenderá a tentar ultrapassar ou a contornar cada obstáculo.
Além da mudança, esta pode ser outra constante da existência: nada é fácil e haverá sempre mais uma barreira antes de alcançarmos os nossos objetivos, sendo certo que depois de os atingirmos (se os atingirmos), outras adversidades se terão de enfrentar.
Por isso, faz sentido o conselho do autor, repetido ao longo do livro, mesmo que inicie afirmando que não tem conselhos para dar: vejam as coisas como elas são, façam o que podem e aguentem e resistam ao que for preciso. Tudo isto, cumprindo com o nosso dever: “trabalho árduo, honestidade, ajudando os outros tanto quanto podemos”. Em que a “ação certa – altruísta, dedicada, magistral, criativa – é a resposta” ao sentido da vida e é “uma maneira de transformar cada obstáculo numa oportunidade” (p. 108).
No caso de haver reimpressões futuras, sugere-se uma revisão para corrigir gralhas.