Título
O esplendor e a infâmia
Autor
ERIK LARSON (tradução: Miguel Diogo)
Editora (Edição)
Dom Quixote (Setembro de 2022)
Cotação
16/20
Recensão
Erik Larson é autor de oito livros, seis dos quais são best-sellers do New York Times. As suas duas mais recentes obras, A última viagem do Lusitânia e, este, O esplendor e a infâmia atingiram o primeiro lugar nessa lista, pouco depois do seu lançamento.
Na capa do livro editado em Portugal, pela Publicações Dom Quixote, pode ainda ler-se que é o livro do ano para Bill Gates e Barack Obama – o que, desde logo, cria muitas expectativas. E, com efeito, a primeira coisa que se pode dizer é que o livro nos oferece um relato cativante e envolvente, que nos impele a ler esta lição de História como se de um thriller de ficção histórica se tratasse.
Esta é uma das suas virtudes, a de contar a História, formando um mosaico de pequenas e grandes histórias de várias figuras proeminentes, como por exemplo, as de Winston Churchill, naturalmente, Frederick Lindemann (amigo e conselheiro científico de Churchill), General Pug Ismay (amigo íntimo e confidente), Lord Max Beaverbrook (chefe do Ministério da Produção Aeronáutica); mas também de figuras secundárias, como a sua filha, Mary Churchill, e John Colville (secretário particular de Churchill). Os diários destes últimos são dois dos muitos registos diarísticos a que o autor recorre.
Este é outro dos aspectos que vale a pena destacar. Mostra-se notável o tipo e a quantidade de fontes que o autor consultou para nos narrar um dos períodos mais sangrentos para a Grã-Bretanha, durante a II Guerra Mundial, que inclui a campanha Blitz: desde o dia 10 de Maio de 1940 – dia em que Churchill é nomeado primeiro-ministro – até 10 de Maio de 1941. Foi um período marcado pelo crescente protagonismo de Churchill, até pela série de discursos que proferiu com o objetivo de dar esperança e galvanizar Inglaterra. Como é sabido, a sua oratória era magnífica.
Além dos referidos diários, o autor teve acesso a documentos oficiais, recentemente desclassificados, a escritos íntimos e oficiosos, como cartas da mulher de Churchill, Clementine, e eminentes figuras políticas de então, bem como a diários incluídos no Mass Observation Project – um projecto iniciado em 1937, na Grã-Bretanha, e que incluía os registos diarísticos de um conjunto de escritores voluntários. O objectivo era criar uma “antropologia de nós próprios”, a fim de conhecer a vida quotidiana das pessoas comuns da Grã-Bretanha.
O recurso a este tipo de fonte permite-nos chegar à intimidade de Churchill e da sua família, uma vez que o autor nos revela traços de personalidade e idiossincrasias de muitos dos actores e jogadores da II Guerra Mundial, nomeadamente do próprio primeiro-ministro. No final do livro, fica-se com a sensação de que se conhece o “Velho Leão” intimamente, como se se tivesse privado com Churchill, tal é o grau de detalhe do livro.
A descrição dos muito agitados, e sempre com muitos convidados, fins-de-semana em Chequers, a casa de campo do primeiro-ministro inglês, é disso exemplo. Eram dias de trabalho e de muitas decisões, mas com jantares de gala, no fim dos quais Churchill poderia dançar nu e de charuto na boca.
A História oficial é, assim, intercalada com a vida privada e até pensamentos e reflexões íntimas dos diversos intervenientes da II Guerra Mundial. A negociação entre Churchill e Roosevelt é bem explorada, sendo possível compreender como decorreu todo esse processo, quer oficial, quer oficiosamente.
Note-se, porém, que os pormenores podem ser excessivos, dado que em alguns momentos sobressai uma espécie de caricatura de Churchill. Esta é uma das fraquezas do livro – o excesso de detalhe pode, inclusivamente, fazer com que o leitor se perca na História.