Já foi noticiada e analisada, até à exaustão, a demissão do ministro Pedro Nuno Santos (PNS), talvez o rosto mais conhecido do Partido Socialista (PS) depois de António Costa.
Os saudosistas deste agora ex-ministro, como Ana Gomes, comentaram a sua saída do Governo de forma pungente, apelando até ao seu regresso com a maior brevidade, talvez numa manhã de nevoeiro: “PNS sai, como sempre esteve no Governo: com seriedade, convicção e dignidade. E com ambição para o País. A tempo de revigorar o Partido Socialista, espero.”
Também temos despedidas mais singelas, como o “Obrigada” da deputada Isabel Moreira, co-autora do ilegal projecto de revisão constitucional do PS, o tal que propõe, quase cinco décadas depois da instauração da “democracia”, umas quantas alterações aos direitos, liberdades e garantias da Constituição da República que estão vetadas pelo seu artigo 288º.
Mas coloca-se uma questão premente: a que se devem tantos encómios, laudas, ditirambos, panegíricos e tantos carpidos agradecimentos ao copioso esforço laboral do “nosso” PNS, apodado como o verdadeiro defensor da causa pública? Que digo?! Com o cognome de Causa Pública.
Este é, convenhamos, um dos principais mistérios do mundo contemporâneo: o interesse público. Mas, afinal, o que é isso do interesse público?, que tantas vezes escutámos durante a putativa pandemia: o interesse colectivo tem de estar acima do indivíduo – até parecia que estávamos num congresso do PCP.
Na verdade, o interesse público acaba por ser uma espécie de tirania da maioria, tantas vezes utilizada pela classe política para justificar o atropelo aos nossos direitos: vejam lá, a maioria está connosco, tens de te submeter.
E se, por exemplo, a maioria decidir que os obesos não podem entrar nos restaurantes? Se, por exemplo, a maioria decide que todos os que possuem depósitos bancários superiores a 500 mil euros devem ser confiscados em 50% a favor do Estado? Ou 100% até, porque não? E se, por exemplo, a maioria entende que a correspondência pessoal de certos profissionais deve ser pública?
Por vezes esquecemo-nos que as cartas constitucionais servem precisamente para proteger os interesses dos indivíduos da tirania da maioria: o direito a não ser discriminado, o direito à propriedade, o direito à privacidade seriam a resposta óbvia às anteriores perguntas.
No fundo, o Estado deverá servir apenas para assegurar a nossa segurança e arbitrar os conflitos que derivam dos interesses particulares de cada um. Não serve para ser o Robin dos Bosques – na verdade saca aos pobres a favor dos ricos, vejam o escândalo da “nossa” Alexandra Reis –, nem tão pouco para gerir empresas de aviação.
Em conclusão, apenas existem interesses individuais, não existe o tal absurdo interesse público. Cada ser humano é único, com virtudes, defeitos e ambições individuais, mesmo se legítimas. Se ocorrer uma verdadeira pandemia, nenhuma pessoa com dois palmos de testa necessita que lhe digam que a mesma existe; bastará ver os seus próximos a adoecer, e a tombar, para que desate a procurar defender-se e proteger-se: não necessita da tutela do Estado, nem das ordens da senhora Freitas – que, aliás, também se vai embora, vejamos para onde…
Para muitos membros da casta, o “nosso” Pedro é o verdadeiro paladino da Causa Pública – assim mesmo em maiúsculas, mesmo não se sabendo lá muito bem o que será tal coisa. Não sei explicar o porquê. Para além dos cargos políticos, não se lhe conhece qualquer emprego, empresa que tenha fundado com dinheiro do seu bolso, ou entrevista de emprego que tenha realizado. Trata-se de um homem público que sempre viveu da cobrança coerciva de impostos, o que até explicará o seu absoluto desprezo pelo dinheiro dos outros.
Esse desprezo levou-o, por exemplo, a enterrar mais de 3,5 mil milhões de euros na bancarroteira nacional, TAP de seu nome. Isto dá 360 euros por português, incluindo idosos, adultos e crianças, ou seja, 10,3 milhões de almas. Para uma família de quatro pessoas significa mais de 1.400 euros; isto tudo num país onde o salário médio não ultrapassará os mil euros.
Em defesa da sua dama, o Pedro afirmava que a “TAP é do povo português para o bem e para o mal”. Engraçado, até hoje nunca recebi qualquer título de propriedade, nem tão pouco qualquer dividendo. Mas há quem tenha recebido chorudos salários e indemnizações à conta do Joaquim do Café, da Maria do Cabeleireiro e do João do Bate-Chapas, que vão continuar a pagar uma dívida pública colossal, através de uma carga fiscal sem precedentes, que tem servido ao longo de décadas para alimentar a casta.
O Pedro nunca nos alertou que, depois das falências e vendas forçadas causadas pela casta onde ele milita, e que nos explora há mais de 48 anos – quem não se recorda da Portugal Telecom, da ANA, do BES –, a bancarroteira nacional era (e é, e ainda, para mal dos nossos pecados, será) um dos últimos redutos de sinecuras e de contratos pornográficos para prestação de serviços (com pouco trabalho) para amigos e apaniguados.
Lacerda Machado, Stephanie Sá Silva, Isabel Nicolau, Miguel Frasquilho e Pedro Rebelo de Sousa foram alguns dos que conhecemos. E certamente que devem existir dezenas de ilustres desconhecidos que estão a gracejar com a nossa servidão e miséria.
Num país que, na União Europeia, está nos primeiros lugares a contar do fim no indicador PIB per capita, corrigido pela paridade do poder de compra (PPP), esperançado em caminhar para o último lugar, agora que a (ex-ditadura comunista) Roménia se apresta para nos passar a perna, o Pedro Nuno alimentou-se (e alimentou muita gente, obviamente com o nosso bolso) do grandiloquente sonho de possuir uma Companhia de Bandeira.
Ninguém disse ao Pedro que a maioria dos países europeus, certamente bem “mais pobres do que nós” (como todos sabem…), já não usufruem desse luxo: Iberia, Swiss Air, Sabena, Alitalia, British Airways, apenas para citar alguns exemplos, foram à vida. Ou seja, fecharam ou foram definitivamente alienadas a privados.
Em tempos, até tivemos o chefe do Pedro (agora ex-chefe), o verdadeiro prócere do regime, a anunciar que “a TAP é fundamental pois, na era da globalização, tem a importância que as caravelas tiveram na era dos Descobrimentos”. Isto tudo daria para rir a bandeiras despregadas, caso eles não zombassem de nós há décadas, pois escravizam-nos e, pasme-se, ainda votamos neles!
O Pedro, depois de me ter assaltado em 1.400 Euros, sairá em glória, não tenho dúvidas. Terá toda a camarilha que come no prato do Orçamento do Estado há décadas a suplicar pelo seu pronto regresso, pois o Homem da Causa Pública não nos pode abandonar! Há muitos que vão andar por aí como órfãos… até ao seu, Deus me benza!, regresso.
Luís Gomes é gestor (Faculdade de Economia de Coimbra) e empresário
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