Uma coisa é a solidariedade activa e o apoio a um povo invadido por outro Estado autoritário; outra é um branqueamento de um regime não-democrático e de um político que está longe dos padrões da liberdade e da verdadeira democracia.
A atribuição do Grande-Colar da Ordem da Liberdade pela República Portuguesa ao presidente de um país que tem uma classificação de 39/100 no índice do Freedom House (e antes da invasão da Rússia era igual) e uma avaliação de 5,43/10 no índice de democracia do Economist (considerado um regime híbrido perto do autoritarismo da Rússia) é um ultraje aos valores da Democracia.
Um regime corrupto e não-democrático não o deixa de ser só porque se torna vítima de outro. Um regime corrupto e não-democrático não o deixa de ser só porque, enfim, políticos fracos e populistas de um país que “vende” comendas da Liberdade lhe decidem colocar como um artificial paladino da Liberdade.
Zelensky pode vir a merecer uma comenda portuguesa desta natureza, e muito mais, mas não agora, nunca agora.
Mas compreendo a pressa: Marcelo não quer agraciar Zelensky, quer sim ser fotografado a agraciar Zelensky. A graça é por ele e para ele – e a isso chama-se populismo.
E quando os valores se rendem ao populismo enfraquecemos a Democracia. Vendemos a Democracia.