Título
Nação valente (2023)
Género
Drama
País de origem
Portugal, França e Angola
Argumento
Carlos Conceição
Realizador
Carlos Conceição
Produtores
Leonor Noivo, Pedro Pinho, Luísa Homem, Tiago Hespanha, João Matos e Susana Nobre
Actores principais
João Arrais, Anabela Moreira, Gustavo Sumpta, Leonor Silveira e Ulé Baldé
Nota
7/10
Recensão
Estreia no próximo dia 20 de Abril nos cinemas, o filme Nação valente, do realizador português, Carlos Conceição.
Nascido em Angola no ano de 1979, Carlos Conceição é licenciado em cinema e literatura inglesa com especialização no romantismo, pela Escola Superior de Teatro e Cinema.
Premiado como melhor filme europeu e prémio de Júri Jovem pelo Locarno Film Festival em 2022, Nação valente é a segunda longa-metragem de Carlos Conceição que assume também o argumento e edição e é coproduzida pela Terratreme Filmes, Mirabillis e a Virginie Films.
Tem nos papéis principais o actor João Arrais, Anabela Moreira, Gustavo Sumpta, Leonor Silveira e Ulé Baldé, entre outros.
Filmado em Angola e Portugal, a história deste filme passa-se em dois arcos temporais, primeiramente nos últimos tempos da guerra colonial que depois cruza-se com o dia-a-dia de um pretenso grupo militar português enclausurado por um muro sob as ordens de um coronel.
Embora este primeiro arco temporal seja no fim do colonialismo português, o retrato da presença militar em Angola é demonstrado de uma forma violenta e retrata o soldado português como uma espécie invasora, e a religião como uma conversão forçada aos costumes angolanos.
Uma das formas da narração destes temas é a bota dos soldados na natureza versus o pé descalço dos nativos, que estabelece uma harmonia com o ambiente, ao invés daqueles que vieram invadir um espaço onde não pertencem, trazendo consigo os seus valores que em nada se coadunam com as tradições africanas no que toca, por exemplo, ao tema da morte.
O segundo arco temporal, que emerge de uma forma subtil, retrata temas como o trauma dos soldados divididos entre o dever para com o seu superior e pela Pátria, ao isolamento, à falta de recursos e à manipulação e lavagem cerebral.
É aqui que Nação valente revela-se como uma metáfora dos “zombies” do passado e remete para o presente o ressurgimento do extremismo, do racismo e da discriminação.
Em termos técnicos o uso de planos abertos e panorâmicas longas, o uso de “dollys” compridas e lentas, convidam o espectador à reflexão e a contemplar os temas agregados ao colonialismo que historicamente acabou, mas cujas ideias perduram.
O som deste filme vem quase todo de “dentro” da tela, o que reforça a preocupação do realizador em contar a história mais através de imagens. Aqui o trabalho fotográfico de Vasco Viana é bem conseguido em veicular o sofrimento dos soldados e também o seu companheirismo, recorrendo muitas vezes ao colectivo dos indivíduos que são “encaixados” na tela e a fotografia dá lugar à pintura.
Ainda assim é preciso destacar o papel de João Arrais que consegue individualizar o trauma do soldado isolado do mundo e sujeito à lobotomia ideológica de um coronel que representa os pecados do passado, interpretado por Gustavo Sumpta.
Também Anabela Moreira, no papel de Apolónia, faz um trabalho digno de menção, embora tenha um papel curto, mas decisivo para o desenlace da história. Apolónia é uma prostituta que vem “arrefecer” as ansiedades, mas rapidamente transforma-se numa mãe bastarda que vem libertar os soldados da sua prisão que é física, mas simboliza também a prisão dos valores do passado do qual os jovens de agora se têm de libertar.
Nação Valente é um filme político e um aviso. É um convite à análise do sistema de crenças e valores de um país que ainda hoje mantém ideias racistas como parte do seu cardápio cultural e surge numa altura onde a extrema-direita e a guerra está um pouco por todo o lado.