Título
A secretária de Churchill
Autora
SUSAN ELIA MACNEAL (tradução: Sónia Maia)
Editora
Saída de Emergência (Abril de 2023)
Cotação
12/20
Recensão
Susan Elia MacNeal nasceu em 1968, em Buffalo, Nova Iorque, onde também se formou na Nardin Academy. Além disso, terminou o curso de Inglês no Wellesley College, com mérito e distinção. Antes de se dedicar à escrita, trabalhou na área editorial, na Random House, na Viking Penguin e Dance Magazine.
Mr. Churchill’s Secretary é um original de 2012 que está na génese da série de mistério Maggie Hope: uma série vendida em todo o mundo e traduzida em várias línguas e um grande êxito do The New York Times e do Washington Post, cujos direitos cinematográficos e televisivos foram obtidos pela Magnolia Productions/Warner Bros. Pictures.
Já na sua 22ª edição, A secretária de Churchill, recentemente publicado, em Portugal, pelas Edições Saída de Emergência, foi nomeado para o prémio “Edgar Allan Poe” e venceu o prémio de ficção policial, “Barry Award”.
A história começa no dia em que Winston Churchill é nomeado Primeiro-ministro, em Maio de 1941 e passa-se, em grande parte, no número 10 de Downing Street, fazendo referências aos discursos galvanizantes do político que conduziu o Reino Unido durante a Segunda Grande Guerra. É precisamente sobre a oposição à entrada na guerra e as relações com a Irlanda que o mistério se desenrola.
O enredo começa com o assassinato de uma das dactilógrafas de serviço, ficando em suspenso o motivo desse crime. A sua substituição dá início à trama que conduz ao crescimento de Maggie Hope, que se estreia como dactilógrafa substituta de Winston Churchill, mas sem grande convicção, já que, sendo matemática de formação, muito inteligente e perspicaz, se considera mal aproveitada. O romance policial também gira em torno dessa frustração, dado que, sendo mulher, não tem acesso às funções que os homens têm.
A temática do feminismo está bem presente nos pensamentos da personagem principal, feita heroína ao longo da história, o que reflete numa narrativa pró-feminista. É pena que esta construção seja edificada com recurso a lugares-comuns. Em alguns momentos corre mesmo o risco de se contradizer, ao dar atenção a pormenores que mais não são que uma apologia à objetificação da mulher.
A tensão e o mistério estão presentes, ainda que o leitor se pergunte por que motivo a autora descreva de forma tão explícita os pensamentos de alguns dos personagens, em particular da heroína. Uma das características de um bom livro é, precisamente, deixar que o leitor chegue às suas próprias conclusões. Por isso, sim, o narrador poderia ser menos óbvio.
É possível que esse problema se resolvesse com uma revisão mais profunda. Uma vez que o livro já vai na sua 22ª edição, pode questionar-se por que não foi revisto. O caso mais evidente é a repetição do motivo pelo qual a personagem principal, Maggie Hope, tem aversão ao Sr. Snodgrass – um dos chefes do gabinete do ministro. São várias as vezes que Maggie, ou Magster – a alcunha usada por um dos seus amigos – se refere àquela figura masculina para manifestar o feminismo que a autora quer defender, ainda que de uma forma, diríamos, superficial.
Como mencionado, este livro está na origem da saga Maggie Hope e, como tal, é recomendável para quem tenha interesse em compreender o contexto da aparição daquela espia, tanto que, mais dia, menos dia, a série televisiva estará disponível.