DA VARANDA DA LUZ

Futebol Clube do Porto 1.0

por Pedro Almeida Vieira // Setembro 29, 2023


Categoria: Opinião

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Vislumbro – melhor dizendo, até diviso – relevantes vantagens de se ser cronista. De futebol ou de outra qualquer coisa, mas neste caso falo nas belas-artes de matraquear bitaites sobre bola, que ademais nem sequer têm de ser sobre tácticas e incidências, sobre os quais agora me agarro por desfastio, descontração e descompressão.

Por exemplo, por uma crónica futebolística, se eu meter o Lagardère (não é a Lagarde) no meio do título, para caracterizar uma forma destemida e irresponsável de gestão do jogo pelo árbitro, certamente não terei uma queixa na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) nem outra a ser tratada pelo Provedor do Adepto do Rio Ave, que por uma daquelas circunstâncias infelizes preside também ao  Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas (CD-SJ) e, como a vida é feita de engulhos, há jovens que ainda o têm como professor.

Por outro lado, presumo que, mesmo vindo a escrever de forma desfavorável sobre um qualquer agente desportivo, e venha ele a ser alvo de um inquérito disciplinar, não fará certamente como o Dr. Filipe Froes que por ter sido visado num inquérito disciplinar pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS), no decurso de notícias em outros jornais, veio aos autos acusar-me de ser eu um dos “jornalistas negacionistas difamadores”, e daí difama-me, a despropósito, incluindo no seu processo uma queixa contra mim na ERC, estúpida e ridiculamente apresentada por ele próprio, e ainda, não satisfeito, um vergonhoso parecer do CD-SJ que vale tanto como quem o pariu: nada. Nem chegou a ser um aborto; saiu de lá o produto de uma gravidez histérica… Isto está tudo ligado – sou eu a dizer, que nem sequer sou de teorias da conspiração.

Falemos de bola.

(entretanto, lá começou o jogo; ambiente fantástico, mas o estádio não está lotado, pelo menos vislumbro, ou diviso, umas clareiras, sobretudo atrás da baliza do lado sul)

Mas, já agora, a grandíssima vantagem de se ser cronista é aqui poder prescindir de certos princípios de isenção e eliminar exigências de credulidade, e daí, mesmo num escrito que será apenas publicado ao fim de 90 minutos – mais os 20 prováveis minutos de acréscimo que o Futebol Clube do Porto necessitar se lhe estiver a correr mal a vida –, poder usar, e até abusar, de uma certa linguagem mais criativa. E também me socorrerei de fontes anónimas, das mais suspeitas, como convém a uma crónica pouco objectiva e mais recreativa.

(os very lights já estão a fazer das suas, e daqui da Varanda da Luz, uma fumaça das diabos enevoa o relvado; lá em baixo, jogo repartido, mas ainda não tive grande tempo para olhar o gramado)

Portanto, tenho desde já que antecipar que, por fontes anónimas mas conhecedoras dos meandros mais esotéricos, me foi garantido que isto hoje vai dar para o torto.

(não vão acreditar em mim, mas estava a escrever a palavra “torto” e o Fábio Cardoso dá uma sarrafada no David Neres, que se escapulia pela ala esquerda: directo para o balneário. O Cardoso, não o Neres, porque este recuperou. Estranho que em quatro minutos de sururu o Sérgio Conceição se mantenha no banco… O Porto já está a ganhar 1-0 em cartões vermelhos… Entretanto, livre sem perigo)

Mas qual a razão de eu antecipar, por via das minhas fontes esotéricas, que isto – leia-se, jogo – vai dar para o torto, quando nem sequer terminou o primeiro quarto do jogo (ou o primeiro quinto, se estimarmos já os prováveis descontos à Porto)? E mais ainda: sem estar o Pepe a jogar?

Por ser Lua cheia. Ainda mais uma super-Lua cheia, a última do ano, como bem avisa o sempre atento Público, mais rigoroso em assuntos astrológicos – ou astrais ou astronómicos, eu sei lá, para eles deve ser o mesmo – do que a quantificar verdadeiramente os desperdícios financeiros dos negócios das vacinas.

Bem sei não ser conveniente a um jornal sério, e defensor da Ciência, como se arroga o PÁGINA UM, alegar agora com questões astronómicas, às quais estão também associadas assuntos da Astrologia – embora, hélas, o nosso Galileu Galilei até foi, além de tudo aquilo que se sabe, um profundo estudioso dessas matérias ditas esotéricas, sendo famosas as cartas astrológicas que delineou para as suas filhas e muitos poderosos.

(ui, isto está mesmo a ficar lindo… Rafa a meter o turbo, pelo lado direito, uma alegada sarrafada de David Carmo, que corta um possível isolamento. O árbitro dá apenas amarelo; é chamado pelo VAR para possível vermelho. João Pinheiro mantém a decisão, mas dá outro amarelo a Taremi por protestos; temos assunto para a semana nas tertúlias futebolísticas)

Enfim, já nem vale a pena estar a fazer previsões sobre o caldo entornado, porque agora já só falta o Benfica marcar um golo…

(e ia sendo um, chuto em esforço de David Neres ao lado, com Rafa a estorvar)

… para que tudo fique num pandemónio.

Neste momento, em abono da verdade, já só espero que não se comprove as “previsões” do cronista do PÁGINA UM, Diogo Cabrita, que no Facebook ainda agora vaticinou: “O meu sonho agora era: jogo quezílento, três vermelhos, estádio da Luz interdito por very lights, Sérgio Conceição três jogos de suspensão, resultado final dois a dois, adeptos dos dois lados tristes, frango do ucraniano…”

(intervalo… ah, entretanto, lembram-se da última crónica sobre o fresquinho de Setembro, que convidava a trazer um casaquinho da próxima vez? Assim fiz: está um calor de ananases!)

Entretanto, entre descer esta Varanda da Luz, de onde vos escrevo e o reabastecimento de água, passa-se o intervalo, Então ‘amlá ver‘ – como o nosso cronista Tiago Franco, indefectível benfiquista diz que o António Costa fala – esta segunda parte… Ou isto anima ou vou ter de encontrar tema paralelo para dissertar… Vou dar uns minutos, entre pôr o olho no relvado, onde o Benfica porfia poucochinho, e as fotos que vou seleccionar, entre as quais um muro das lamentações em redor da estação de metropolitano do Alto dos Moinhos, onde um montão de benfiquistas se foi lamentar, fisiologicamente falando, de ser humano. Em pé, claro…

(já agora, sobre os meus colegas de varanda de hoje, isto é, os da bancada de imprensa, tudo muito calmo e contido. E o Benfica a começar a perder oportunidades, agora mesmo foi o Otamendi a rematar para fora sem oposição, às tantas a recordar-se dos cortes defensivos quando estava no Porto; e antes disso, o Diogo Costa a fazer uma excelente mancha a remate subtil de Neres)

Enfim, ou isto melhora, ou vai haver noite desagradável, e não é por ser eu benfiquista, que somente satisfeito se fica com uma vitória, ainda mais sobre o grande rival. Digo isto porque, enfim, vivendo um benfiquista com uma portista, mesmo se ma non troppo

(e pronto: goloooooo! Di Maria! Grande regresso. O homem está a fazer aquele percurso do bom filho à casa retorna…. Agora é que isto vai aquecer. Imaginemos a cabeça do Sérgio Conceição… Ouve-se pirotecnia; o que significa que a Liga esfrega as mãos com a multa a aplicar ao Benfica; talvez devesse ser como noutros países para haver mais controlo de entradas)

Esta crónica está a ficar mesmo gira, pelo menos para mim, porquanto se começo a dissertar sobre um tema, sucede algo que muda o rumo.

(entretanto, mais uma “boa” intervenção do Otamendi: remate isolado na grande área, depois de uma jogada de canto estudada, mas para cima. Com o Otamendi, como há uns anos, a baliza do Porto fica segura!)

Queria eu dizer que, coabitando benfiquista com portista – um escândalo o wokismo não defender que eu seja benfiquistO e um homem como o Luís Gomes não seja um portistO; a sociedade tem muito a evoluir… – nunca um empate, parecendo um dividir o mal pelas aldeias, é um bom desfecho. Um empate vale sempre como derrota, pelo que haja sempre um vencedor, e fé em Deus para não irritar em demasia o perdedor…

(entretanto, três substituições em simultâneo do Benfica ao minuto 84, incluindo Di Maria para a ovação, e Roger Schmidt a congeminar estratégia de contenção para os últimos 30 minutos de jogo…)

Veremos entretanto como será a minha recepção caseira depois dos 96 minutos (deram só seis minutos… mais um escândalo que alimentará debates pela semana), se janto, na verdade, porquanto a porção do farnel do Benfica aos jornalistas se esfumou sem se perder a esfaima.

(e pronto, antes de acabar, o Francisco Conceição dá uma cuzada em pleno ar contra o Otamendi… foi cómico, porque o filho do Sérgio Conceição tem um metro e setenta, enquanto o brutamontes do Otamendi, que lhe mandou beijinhos em troca, um metro e oitenta e três. Serenou tudo; afinal não se confirmaram os prognósticos da super-Lua cheia)

E pronto: סליתא וסליתא – está consumado. Giro: o WordPress aceita caracteres de aramaico.

(e a equipa do Futebol Clube do Porto lá foi fazer o seu número de provocação, com gritos de união, junto às claques do Benfica; coro normal de assobios e vaias dos adeptos benfiquistas, muito teatro, mas eu até compreendo os jogadores e equipa técnica do FCP: os assobios dos nossos antagonistas, mesmo quando parecemos derrotados, são o que nos dá força para continuar… portanto, força, Porto: queremos ganhar-vos na segunda volta, convosco fortes, mas, claro, atrás de nós na classificação. Como agora justamente estão…)

Tenham todos uma boa noite. Mesmo os portistas. E sobretudo os portistas. E sobretudo um aviso: isto é só um jogo; coisas a sério é aquilo que vou escrevendo durante os dias da semana… Não levem tão a sério o futebol.

O jornalismo independente DEPENDE dos leitores

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